São 3h33 da manhã. Estou a bordo do A380 da Emirates, na classe executiva. Deito o assento por meio de um botão em um tablet e, logo após um cochilo, acordo e me deparo com diversos pontos de luz no teto da aeronave. Por um momento parece que estou sonhando acordado, em um descampado olhando para um céu esperando uma estrela cadente passar.
Na minha frente uma tela de mais ou menos 15 polegadas é uma espécie de computador com jogos, filmes, músicas, seriados e uma enormidade de conteúdo para que as infinitas horas de voo fiquem menos demoradas. Apesar de estar indo para o Japão, um déjà-vu me transporta para o Brasil algumas semanas antes. Estou sentado no banco traseiro de um BMW i7.
Um display tátil de 5,5″ (que parece um celular) na lateral da porta, perto do puxador, tem comandos de reclinar o banco (as pernas ficam bem esticadas) e acionar uma TV de 31″ que desce do teto. Conecto um console de videogame e começo a jogar. Se o avião da Airbus me impressiona, o inédito elétrico não fica atrás.
As semelhanças entre a maior aeronave de passageiros do mundo e o sedã de luxo são muitas. Confesso que cada um tem seus pontos a favor. A poltrona do avião pode até virar uma cama, enquanto o banco do carro assume uma posição mais relaxada, sem ficar totalmente reto — o apoio para o pé integrado ao banco dianteiro é um charme à parte. E sem citar o balé entre os assentos dianteiros e traseiros (fora a tela, de que falarei mais adiante), que evoluem em perfeita sincronia.
Os bancos do BMW, por sua vez, têm acabamento infinitamente superior (como você pode ver nesse couro vinho e perfurado nas fotos), além de serem mais macios e ainda terem massageadores com diversas programações para desestressar o sortudo (e endinheirado) que se sentar ali.
Se no A380 a resolução da tela do sistema de entretenimento parece a de TVs de tubo, no i7 ela é de ultra-alta definição, 8K (sem falar, novamente, que tem 31″). Em ambas é possível espelhar outros aparelhos, como videogames, por meio da entrada HDMI. No BMW é claro que fiz isso. Conectei um Xbox e fiquei alguns minutos na garagem impressionado e brincando, claro, em um jogo de corrida. Mas o meu carro no game era um Porsche GT2 RS. Desculpa, BMW… O i7 tem uma tomada 12V, mas é preciso um adaptador para ligar os aparelhos eletrônicos.
Uma diferença gritante entre o avião e o sedã é o sistema de som. Os fones com cancelamento de ruídos do A380 são muito bons, mas nada comparado aos potentes alto-falantes do i7. A tecnologia da grife Bowers & Wilkins transforma o carro em uma verdadeira sala de cinema. É impressionante e imersivo estar dentro do carro elétrico. Essa sensação continua porque a BMW oferece a Amazon Fire TV, que permite reproduzir famosos apps de streaming, como Netflix, Amazon Prime, Globoplay, entre outros. A BMW disponibilizará um pacote de dados de 20GB/mês durante um ano para os compradores. O carro, claro, terá conexão 5G de série. Ou seja, dá para ver seriados ou aquele filme durante o trajeto. A telinha perto do puxador de porta ainda controla outras funções, como o próprio sistema de entretenimento, ventilação, persianas, reclinação e massagem das poltronas.
Tanto o sedã quanto o avião são imponentes. O A380 tem nada menos que 72 metros de comprimento. No i7 o comprimento é de 5,39 m, além de 1,95 de largura e generosos 3,21 m de distância entre-eixos. Enquanto a aeronave da Emirates pode levar 555 passageiros em três diferentes classes, o BMW tem capacidade apenas para quatro. Mas todos vão se sentir muito confortáveis.
Se o A380 impressiona pela imponência, o i7 chama a atenção pelo design. Em sua nova geração, o Série 7 assume a nova identidade visual da BMW, marcada pelos faróis divididos em dois blocos: luzes diurnas acima, seguidas pelas de posição (Matrix LED) logo abaixo — como já adotado no SUV X7, que deve chegar ao Brasil em breve.
A grade “duplo rim” é consideravelmente maior, alongando-se do final do capô até o para-choque, e tem bordas iluminadas (o que as pessoas na rua estranham num primeiro momento). De lado, o sedã se destaca pelo longo capô e pelas rodas aro 21 que recebem um “escudo” para melhorar o arrasto aerodinâmico. A traseira segue um design mais convencional, com as lanternas afiladas e com efeito tridimensional invadindo a tampa do porta-malas — que tem 500 litros de capacidade, capazes de acomodar tranquilamente duas malas de 23 kg, como aquelas que podem ser despachadas no A380.
Antes de entrar no i7, o sedã já mostra sofisticação — a começar pelas portas com abertura elétrica. Basta um toque no botão da maçaneta e elas automaticamente se abrem. A porta ainda é inteligente: se tiver algum obstáculo à frente, seja uma pessoa, seja um objeto, ela para. Para fechar, o mesmo estilo Rolls-Royce: aperta-se um botão no lado esquerdo do volante. Isso vale para todas as portas. O fechamento também é suave e, caso a porta seja mal batida (o que dificilmente vai acontecer), um sistema a “suga” e a fecha.
Ah, esqueci de dizer que também dá para dirigir o i7. Acredito que nunca conseguirei pilotar um A380. Já o i7… Se o Airbus é um transatlântico com asas, posso falar que o BMW é um com rodas. Nunca havia sequer entrado em um Série 7, Mercedes-Benz Classe S ou até mesmo um Rolls-Royce Phanton (ou Ghost). A qualidade da suspensão transforma o asfalto lunar do Brasil em algodão, sem quase nenhuma reverberação para dentro da cabine.
Sabe aquele buraco em que você tem certeza de que daria uma pancada seca com qualquer outro carro? Para o i7 é apenas um passeio no parque. O trabalho da suspensão adaptativa e a estabilização ativa de rolagem fazem com que o rodar seja ainda mais prazeroso e confortável.
O carro ainda traz outras tecnologias, como eixo traseiro direcional, que reduz o diâmetro de giro ajudando nas curvas e, principalmente, nas manobras. Afinal, são mais de 5 metros de comprimento. Talvez o único deslize da BMW tenha sido o fato de que, quando a tela está acionada, o banco do passageiro dianteiro se contorce todo e atrapalha a visão do retrovisor direito por parte do motorista.
É preciso dar aquela desviada com a cabeça para enxergar melhor — praticamente igual na nova geração do Range Rover, que também dispõe desse assento “executivo”.
Quem vai no comando tem força de sobra. São 544 cv de potência e ainda 76 kgfm de torque — suficientes para empurrar as mais de 2,7 toneladas de forma acachapante. Só é preciso ter cuidado com a largura do sedã para não ocupar duas faixas da pista, pois são quase 2 m. Segundo a BMW, a aceleração de zero a 100 km/h leva 4,7 segundos. Já a velocidade máxima é de 240 km/h. Quanto à bateria, a do i7 tem capacidade de 101,7 kWh.
A BMW ainda vai “presentear” os compradores com dois carregadores Wallbox de 22 kW para serem instalados onde o cliente quiser: na própria residência e/ou no local de trabalho. Com esse aparato, é possível carregar boa parte da bateria em quase cinco horas. Se a autonomia do jato fica em mais de 15 mil km, o i7 consegue rodar 479 km (de acordo com o Inmetro).
Uma passagem de classe executiva para o Japão custa algumas dezenas de milhares de reais — sem falar que um A380 tem preço superior a R$ 1,5 bilhão. O BMW i7 é mais, digamos, comedido. Custa exatos R$ 1.282.950 e, pode parecer estapafúrdio escrever isso, mas em muito tempo acredito que valha pagar cada centavo desse valor. Assim como do preço da classe executiva do A380…
O A380 deixou de ser produzido pela Airbus em 2021, mas ainda é o maior avião de passageiros do mundo. Pesa quase 600 toneladas e pode levar mais de 500 pessoas em dois andares e quatro classes (primeira, executiva, econômica premium e econômica). Tem autonomia de cerca de 15.200 km para cruzar continentes (um voo de São Paulo a Dubai (Emirados Árabes), por exemplo, leva 14h30. O preço da aeronave pode variar de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões. O primeiro voo de um A380 foi pela Singapore Airlines, em 2007. Atualmente, é usado por companhias como Emirates, British Airlines, ANA, Qatar e Qantas, além da Singapore.
Fonte: direitonews