O Brasil tem a maior frota de carros blindados do mundo. Quase 30 mil veículos receberam proteção balística em 2023, como demonstram os números da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). O resultado representou um avanço de 13% em comparação com o ano anterior, mostrando que a procura pelo serviço também aumentou.
Mas quais são os tipos de blindagem? Autoesporte consultou Mário Brandizzi Neto, sócio-proprietário da BSS Serviços de Blindagem, e Fabiano Cruz, diretor comercial, para entender mais sobre o assunto.
Os motoristas podem optar por duas categorias: opaca e transparente. A opaca consiste em reforçar todas as estruturas do veículo, como carroceria, pilares, teto, colunas, janelas, capô e o porta-malas. Já a blindagem transparente oferece apenas o reforço nos vidros, além de ser mais segura em comparação com as películas antivandalismo.
“O serviço de blindagem é regulado pelo exército. As empresas precisam ter autorização das forças armadas para operar no ramo, uma vez que manuseamos produtos balísticos”, explicou Fabiano Cruz.
“A autorização é emitida pelo exército de acordo com as especificações do veículo e sua finalidade. Alguns tipos de blindagem são proibidos para civis e estão restritos às forças armadas ou empresas que transportam valores”, elaborou Mário Brandizzi. São elas:
A Abrablin declara que 95% dos carros blindados do Brasil têm proteção de nível III-A, a mais resistente autorizada para uso civil geral. No caso da blindagem de nível III, ainda mais impenetrável, será necessária uma autorização especial do exército antes de dar início ao procedimento. Já os níveis IV e V são proibidos para civis, em quaisquer circunstâncias.
O motorista interessado em reforçar seu veículo terá de procurar uma blindadora licenciada para dar entrada na autorização junto às forças armadas e ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Após a aprovação dos órgãos, o veículo será encaminhado para o início da aplicação dos reforços estruturais. A primeira etapa é a desmontagem, onde partes da carroceria e do interior, como vidros, forros, paineis e bancos, serão removidas.
Com o veículo ‘depenado’, inicia-se a aplicação da manta de aramida em toda a estrutura da lataria. Trata-se de uma fibra sintética de alta resistência, capaz de proteger contra cortes e perfurações. Em regiões frágeis, como maçanetas e fechaduras, a blindadora poderá utilizar aço balístico.
A etapa seguinte consiste na instalação dos vidros. No caso da blindagem III-A, a mais comum do país, o para-brisa e as janelas podem ter até 20 mm de espessura e aguentar tiros de submetralhadoras. O mesmo procedimento funciona para os teto-solares, sejam eles individuais ou panorâmicos — mas isso acabará elevando o custo total com materiais e mão de obra.
Por fim, o veículo será remontado e passará por diversas inspeções, tanto de acabamento quanto de funilaria. As linhas da carroceria estão alinhadas? O revestimento da porta faz barulho? Os forros estão bem instalados? Os testes de infiltração foram conclusivos? Nesta etapa, a equipe da blindadora vai passar um ‘pente fino’ para garantir que tudo está em ordem.
O carro blindado será devidamente limpo e higienizado, e ainda passará por outra inspeção visual externa antes de ser entregue ao cliente. Um novo Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV-e) terá de ser emitido, uma vez que a blindagem deve constar no documento.
O valor pode variar bastante de acordo com o veículo e suas especificidades. No estado de São Paulo, onde mais de 100 blindadoras prestam serviço, o motorista terá de gastar em torno de R$ 90 mil para reforçar a estrutura de um carro popular em nível III-A. Este valor pode fazer o preço do veiculo dobrar.
Ainda que o processo e até os materiais usados na blindagem de um Hyundai Creta ou de um Land Rover Evoque sejam os mesmos, o carro premium exige cuidados extras por conta de suas características. Há mais chicotes a serem desconectados, sensores a serem instalados, itens para reforçar e por aí vai…
Blindar um automóvel vai aumentar, em média, 150 kg do seu peso total. Há algumas décadas, com o uso de materiais pesados (como o aço), a blindagem poderia adicionar até 500 kg ao carro. “Após a adoção da manta de aramida, é como dirigir com duas pessoas a mais na cabine o tempo todo”, explica o sócio-proprietário Mário Brandizzi Neto.
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Fonte: direitonews