“A questão do combate às fake news é algo da maior importância na busca de sociedades justas. O problema é quando isso é utilizado pelo imperialismo como instrumento de dominação para fabricar o consentimento e promover as fake news. […] a gente vê, na verdade, um mau uso desse termo ‘fake news’, porque usam isso para desqualificar.”
“A gente vê o controle dos grandes veículos de comunicação e de big techs, como a Meta [as atividades da Meta são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas], como o Google, como o X [antigo Twitter], como ferramentas que têm de fato travado uma batalha contra a informação livre.”
🇧🇷🗣Imperialismo distorce combate a fake news e o utiliza como instrumento de dominação, diz especialista à Sputnik Brasil
O comunicador e internacionalista Thiago Ávila sofre na pele essas censuras . Ativista e crítico às ações do governo de Israel contra a população palestina… pic.twitter.com/KbWZ1irZS4
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 31, 2024
“Todo tipo de desinformação tem aderência com o plano de negócios dessas empresas, sobretudo as big techs, as conhecidas cinco, seis ou sete grandes plataformas desse setor da economia […]. É um setor da economia que não vê proibições, não tem estabelecidas limitações de forma global e equânime para a limitação dos processos de desinformação.”
“Passei por isso muitas vezes, e o mundo inteiro está passando por isso em relação à causa palestina, por exemplo, quando tenta noticiar os bombardeios, a crise humanitária terrível, quando tenta denunciar as crianças morrendo de fome ou todas as mortes de civis perpetradas por Israel. E tantas vezes essas plataformas ou dizem que o conteúdo é muito explícito, violento, ou dizem que é uma informação falsa sem verificação, quando a gente sabe que são informações verificadas inclusive por organizações de direitos humanos, pela própria ONU e tantos outros organismos.”
“Os EUA sabiam que era falso naquele momento, só que conseguiam impor as suas mentiras ao mundo. Novamente eles querem fazer isso em relação à questão palestina, em relação à guerra contra a Rússia na Ucrânia, em relação ao mar do Sul da China, em relação a Cuba e à Venezuela, em relação aos países da África Ocidental que tentam se livrar do jugo neocolonial dos Estados Unidos e da França.”
Crise do ‘estatuto da verdade’
“O descredenciamento dessas instituições, portanto o estatuto de verdade, do conjunto de saberes, de metodologias, de experiências que essas instituições construíram, desde pelo menos o final da Idade Média, tem […] [ocorrido] desde pelo menos 2016 ou 2017, com a ascensão da extrema-direita em diversos países, inclusive nos periféricos, como o Brasil”, explica.
“Esse tipo de ataque, que ganha um aliado poderosíssimo nas big techs, é um grande risco à própria estrutura social, uma vez que as consequências flertam com a maneira pela qual as pessoas se relacionam, em termos de leis, de regras, de saberes. Estamos em uma encruzilhada muito ruim, em que os horizontes de possibilidades que estão postos na mesa com relação a essas questões são muito negativos.”
Como combater boicotes das big techs?
“Uma frente mais formal, da elaboração das legislações; uma frente da produção de conhecimento, feita pela academia, em várias abordagens diferentes; e uma outra frente, que é a dos movimentos sociais, da articulação nos territórios com as populações, para que elas possam auferir os benefícios tanto da legislação quanto do conhecimento produzido pelos pesquisadores”, elenca.
“É muito importante a gente travar essa batalha pela informação livre, pela transformação da sociedade”, conclui o ativista.
“Vivemos afundados em uma colonialidade, ou seja, em um imaginário colonial muito complicado. Desse imaginário surgem continuamente as ameaças à privacidade, que acontecem em meio digital, as expressões do autoritarismo branco, cis, heteronormativo, urbano, masculino […]. É preciso acionar os conhecimentos e as experiências que ajudaram a reduzir o poder da colonialidade.”
Fonte: sputniknewsbrasil