Big techs minam direito à informação e à verdade em nome da ‘democracia’, diz analista (VÍDEO)


O comunicador e internacionalista Thiago Ávila sofre na pele essas censuras. Ativista e crítico das ações do governo de Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza, ele já teve várias publicações boicotadas por seu posicionamento e suas declarações:

“A questão do combate às fake news é algo da maior importância na busca de sociedades justas. O problema é quando isso é utilizado pelo imperialismo como instrumento de dominação para fabricar o consentimento e promover as fake news. […] a gente vê, na verdade, um mau uso desse termo ‘fake news’, porque usam isso para desqualificar.”

Ele citou que teve conteúdos verificados classificados como fake news por serem contra a “narrativa ideológica hegemônica da imprensa imperialista” ou o consenso vindo de Washington e da Casa Branca.

“A gente vê o controle dos grandes veículos de comunicação e de big techs, como a Meta [as atividades da Meta são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas], como o Google, como o X [antigo Twitter], como ferramentas que têm de fato travado uma batalha contra a informação livre.”

Professor da Escola de Comunicação e Tecnologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Lula Pinto citou a falta de regulação da estrutura das empresas de redes sociais como principal desafio para combater a manipulação e os abusos dessas grandes empresas:

“Todo tipo de desinformação tem aderência com o plano de negócios dessas empresas, sobretudo as big techs, as conhecidas cinco, seis ou sete grandes plataformas desse setor da economia […]. É um setor da economia que não vê proibições, não tem estabelecidas limitações de forma global e equânime para a limitação dos processos de desinformação.”

Segundo o especialista, limitações técnicas e restrição de alcance de discursos, opiniões, fotos e vídeos que comprovam processos de genocídio ou desmentem informações e narrativas de tradicionais meios de comunicação baseados no Ocidente são algumas das artimanhas:
“Um exemplo típico, um exemplo já clássico desses estudos é a guerra da Ucrânia, […] [que] forneceu um contexto de limitação das informações e das narrativas que diferem do que a Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] tem construído no sentido de justificativa do conflito, do apoio militar à Ucrânia e da aproximação geográfica que aconteceu nos últimos 30 anos, da fronteira da Rússia. Essas limitações acabam prejudicando a diversidade de opiniões e a informação mais precisa sobre alguns episódios em andamento.”
Manifestantes mostram cartazes com melancia em prol da causa palestina 23 de julho de 2023, em Jerusalém (Israel) - Sputnik Brasil, 1920, 24.11.2023

Ávila chamou a atenção para o fato de que, ao censurar informações que denunciam o sistema de injustiças e apresentam outras visões de mundo, essas empresas estão cometendo uma série de crimes:

“Passei por isso muitas vezes, e o mundo inteiro está passando por isso em relação à causa palestina, por exemplo, quando tenta noticiar os bombardeios, a crise humanitária terrível, quando tenta denunciar as crianças morrendo de fome ou todas as mortes de civis perpetradas por Israel. E tantas vezes essas plataformas ou dizem que o conteúdo é muito explícito, violento, ou dizem que é uma informação falsa sem verificação, quando a gente sabe que são informações verificadas inclusive por organizações de direitos humanos, pela própria ONU e tantos outros organismos.”

Integrante da sociedade civil organizada, Ávila lembrou que o combate a essas narrativas é fundamental para que “mentiras históricas” não se repitam, como a invasão dos EUA no Iraque, em 2003, que teve o respaldo da comunidade internacional, com base na mentira de que o governo iraquiano possuía armas de destruição em massa.

“Os EUA sabiam que era falso naquele momento, só que conseguiam impor as suas mentiras ao mundo. Novamente eles querem fazer isso em relação à questão palestina, em relação à guerra contra a Rússia na Ucrânia, em relação ao mar do Sul da China, em relação a Cuba e à Venezuela, em relação aos países da África Ocidental que tentam se livrar do jugo neocolonial dos Estados Unidos e da França.”

Crise do ‘estatuto da verdade’

A crise na credibilidade de determinadas instituições, como a imprensa, a academia e os poderes estatais, também foi crucial para que grandes empresas da Internet ganhassem cada vez mais poder e audiência.

“O descredenciamento dessas instituições, portanto o estatuto de verdade, do conjunto de saberes, de metodologias, de experiências que essas instituições construíram, desde pelo menos o final da Idade Média, tem […] [ocorrido] desde pelo menos 2016 ou 2017, com a ascensão da extrema-direita em diversos países, inclusive nos periféricos, como o Brasil”, explica.

Outro resultado dessa crise, segundo ele, é a emergência de líderes populistas, com o descrédito das lideranças políticas, da própria ciência ocidental e das pessoas que trabalham fazendo ciência.

“Esse tipo de ataque, que ganha um aliado poderosíssimo nas big techs, é um grande risco à própria estrutura social, uma vez que as consequências flertam com a maneira pela qual as pessoas se relacionam, em termos de leis, de regras, de saberes. Estamos em uma encruzilhada muito ruim, em que os horizontes de possibilidades que estão postos na mesa com relação a essas questões são muito negativos.”

Como combater boicotes das big techs?

O professor da Unicap elencou três grandes frentes de combate aos boicotes dessas empresas e ao próprio problema da desinformação, começando pela regulamentação das atividades na Internet em questões como privacidade, autonomia, soberania tecnológica e cuidados digitais.

“Uma frente mais formal, da elaboração das legislações; uma frente da produção de conhecimento, feita pela academia, em várias abordagens diferentes; e uma outra frente, que é a dos movimentos sociais, da articulação nos territórios com as populações, para que elas possam auferir os benefícios tanto da legislação quanto do conhecimento produzido pelos pesquisadores”, elenca.

Ainda segundo Pinto, a articulação entre uma boa regulação, investimento em produção de conhecimento e atuação dos movimentos sociais é fundamental para que as plataformas digitais invistam no aprendizado de máquina para coibir processos de desinformação.
Átila também defende a urgência da regulamentação das atividades das plataformas digitais. Outro ponto fundamental é o investimento, seja por parte da sociedade civil, seja por parte dos Estados, em veículos e redes alternativos às big techs.

“É muito importante a gente travar essa batalha pela informação livre, pela transformação da sociedade”, conclui o ativista.

Pinto ressaltou que tais políticas e ações precisam ser pensadas para a realidade brasileira, fundada em leis e práticas colonialistas e racistas, com “arcabouço repressivo”:

“Vivemos afundados em uma colonialidade, ou seja, em um imaginário colonial muito complicado. Desse imaginário surgem continuamente as ameaças à privacidade, que acontecem em meio digital, as expressões do autoritarismo branco, cis, heteronormativo, urbano, masculino […]. É preciso acionar os conhecimentos e as experiências que ajudaram a reduzir o poder da colonialidade.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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