O Congresso dos EUA está sendo reformulado. Eleitores vão definir nos próximos dias os 435 membros da Câmara, 34 senadores e 34 governadores. Em meio às mudanças, o presidente, Joe Biden, enfrenta diversas críticas internas, com risco de deflação e PIB abaixo do esperado, e na política externa, com mais parlamentares questionando o financiamento militar e financeiro à Ucrânia.
No início deste ano, todos os democratas votaram a favor da ajuda à Ucrânia. Onze senadores e 57 deputados republicanos, no entanto, se opuseram à assistência, citando temores de tensões crescentes com a Rússia e uma série de prioridades domésticas. Em Taiwan, muitos apontaram para escalada desnecessária de tensões, particularmente após a viagem da presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
Afonso de Albuquerque, cientista politico e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), avaliou, em entrevista à Sputnik Brasil, o cenário e as mudanças que devem ocorrer no Congresso norte-americano.
Ele explicou que os “resultados de mudança são mais modestos do que aqueles que haviam sido previstos inicialmente”, e apontou que chamada “onda vermelha” não aconteceu, embora seja preciso esperar pelos resultados finais para o Senado, “que não sairão tão cedo”.
“Em relação à Câmara dos Representantes, existe uma tendência de vitória republicana, mas essa vitória parece ser menos expressiva do que havia sido previsto. Mas ainda não tem como dizer a dimensão dessa vitória nesse momento, porque ainda existem muitas cadeiras em jogo”, comentou.
‘Eleições foram surpreendentemente benevolentes em relação à administração Biden’
De acordo com uma ferramenta do jornal digital Axios, com base nos dados do Google Trends, os temas mais buscados pelos eleitores dos EUA durante as campanhas eleitorais foram assuntos relacionados a salários, impostos, empregos, aborto e armas. A economia do país é vista com uma questão crítica para os eleitores.
O PIB dos EUA deve crescer apenas 0,5% no próximo ano, abaixo dos 1,5% da previsão de junho da empresa. A inflação alta “será um grande dreno” na renda das famílias no próximo ano, disse a Fitch, reduzindo os gastos do consumidor a ponto de causar uma desaceleração durante o segundo trimestre de 2023.
Diante de quadro que ameaça se tornar em uma instabilidade social e econômica, Afonso de Albuquerque avalia que “essas eleições foram surpreendentemente benevolentes em relação à administração Biden”.
“O que não significa dizer, necessariamente, esse é o paradoxo dessas eleições, é um mandato bastante mal avaliado, e, nesse sentido, os democratas tinham apreensões grandes em relação ao que seria o resultado das eleições, mas, aparentemente, esses resultados não se refletiram nas urnas“, comentou.
Para ele, “Biden não foi o vencedor das eleições”, assim como Donald Trump. Em sua avalição, não houve vencedores neste pleito que acirrou a polarização no país.
Questionado sobre os reflexos que a eleição pode causar na politica interna dos EUA, ele aponta que a lógica bipartidária apresenta sinais de desgaste e começa a ruir. Ele aposta que a tendência é que o partido da oposição exerça um poder de veto que diminua a governabilidade da presidência.
“O que está acontecendo nos EUA é que houve uma radicalização da política muito grande. E dentro dessa radicalização da politica, o processo de polarização, a gente teve uma erosão do centro político dos EUA, em todos os níveis, inclusive na mídia”, disse ele.