Biden está ‘fazendo testamento em vida’ para asfixiar políticas de Trump, dizem analistas


Em sua fala dirigida ao público norte-americano, feita na noite de quarta-feira (24), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que chegou a hora de dar espaço a uma nova geração no comando dos Estados Unidos, representada pela sua vice, Kamala Harris.
A declaração vem em meio a críticas de que esta eleição é marcada pela disputa da gerontocracia norte-americana. Biden tem 81 anos e convive com preocupações sobre sua saúde física e mental por parte do público. Já seu opositor, Donald Trump, está concorrendo aos 78 anos e terminaria o mandato aos 82.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, durante visita do então presidente da Argentina, Alberto Fernández, em 26 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 24.07.2024

A quase oficialização da candidatura de Kamala Harris trouxe “um folêgo adicional aos democratas, principalmente ao consenso vinculado ao complexo industrial-militar e financeiro dos EUA”, afirma Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro “Imperialismo, Estado e Relações Internacionais”, publicado pela editora Ideias e Letras.
O mesmo é dito por Mateus Mendes, mestre em ciência política e autor de “Guerra híbrida e neogolpismo: geopolítica e luta de classes no Brasil (2013-2018)”, que adiciona que “Biden perderia fragorosamente, com certeza. Não tinha nenhuma dúvida, a derrota era certa”.

“A Kamala Harris consegue abrir alguma vantagem em relação ao Trump, e principalmente doadores já mostraram que estão entusiasmados, que eles voltam a ter esperança, e a campanha começou a ganhar dinheiro”, disse Mendes.

Impopular, Biden permanece no poder

Em seu anúncio, Biden afirmou também que seguirá como chefe de Estado e que usará do restante de seu mandato para fortalecer a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), adquirir mais apoio para a Ucrânia e terminar com a guerra em Gaza.
Segundo Osório, esses três pontos são as principais pautas da política externa de Biden, que serviram para expandir “a influência e a força militar da coalizão imperialista” e tentar cercar a Rússia e a China.

“A Aliança Atlântica representa a ocupação da Europa pelos Estados Unidos e seu avanço contra os processos revolucionários e de resistência no Leste Europeu e na Ásia.”

Inclusive, são justamente os vexames da política externa, desde a retirada de tropas do Afeganistão ao “atoleiro” que se tornou o conflito ucraniano, que “baixam consideravelmente a popularidade de Biden”, lembra o professor da UFRRJ.
“O Ocidente não para de investir recursos, tecnologias e armamentos, mas não consegue avançar um milímetro. Ao contrário, cacifa derrotas cada vez mais sentidas, à custa do povo ucraniano e do fomento à russofobia”, afirma Osório.

“Ainda que o circuito de crédito passe pelo complexo industrial-militar e financeiro, a avaliação sobre inutilidade do conflito [na Ucrânia] só aumenta, mostrando que os Estados Unidos não detêm mais a mesma capacidade de travar e de vencer guerras por procuração.”

Já a guerra em Gaza é “a materialização da violência e voracidade do imperialismo, dissipando qualquer ilusão quanto a um viés progressista dos democratas”.

Biden tenta definir um futuro democrata para os EUA

Em seu mandato, explica Osório, Trump, “representante de uma ala minoritária da burguesia estadunidense, muito vinculada ao isolacionismo em termos de política externa”, freou um pouco essa caminhada da política externa dos EUA.
E é justamente isso que o Partido Democrata quer impedir que aconteça novamente, e Biden parece estar fazendo isso de duas formas distintas.
Bandeira dos Estados Unidos sobre escombros após um tornado em Dawson Springs, no estado do Kentucky. EUA, 12 de dezembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 31.05.2024

A primeira é ao indicar Harris como sucessora e anunciá-la como uma renovação. Os democratas tentam se valer do fator novidade e do desconhecimento que o público tem de sua trajetória para distanciá-la de Biden, diz o professor.

“Harris tem um passado de encarceramento da população jovem e negra nos Estados Unidos, valendo-se do punitivismo e do moralismo jurídico que muito se assemelha aos preceitos da operação Lava Jato no Brasil.”

Nesse sentido, embora Harris venha de uma ala do Partido Democrata diferente da de Biden, “a política a ser praticada por ela não se diferenciaria em nada daquela executada por Biden, pois, afinal, ambos representam o mesmo setor da burguesia estadunidense”.
A outra forma, explicita Mendes, é que Biden está “fazendo um testamento em vida” nestes últimos meses. “Ele entende que uma vitória do Trump vai representar uma série de retrocessos na questão da OTAN.”
Para isso, diz o cientista político, Biden está encontrando formas de deixar os Estados Unidos comprometidos de forma que “as decisões do Trump não vão ser suficientes para inflectir a política externa”.

“Já garantiu, por exemplo, uma participação maior dos Estados Unidos na OTAN, […] [independentemente] de os democratas vencerem ou perderem a eleição.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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