Não é sempre que tenho a oportunidade de dirigir um carro muito especial, seja pelo preço, seja pela exclusividade, seja pelo desempenho. Os critérios de avaliação vão ao limite. Para um homem comum como este que vos escreve, é difícil pesar a importância do Bentley Batur, um esportivo restrito a 18 unidades totalmente diferentes e que custa 2,5 milhões de euros — “apenas” R$ 13,5 milhões.
A Bentley levou um seleto grupo de jornalistas a Tenerife, na Espanha, para conhecer a novidade. E depois de um voo cheio de solavancos por causa de uma tempestade, pude acelerar o Batur sobre ruas escorregadias da região, adornadas por pedras vulcânicas e muita neblina (por vezes, com visibilidade inferior a 50 metros). Foi a oportunidade perfeita para conhecer mais sobre o Batur, que é baseado em um velho conhecido.
Conversei com Paul Williams, chefe técnico da divisão esportiva Mulliner, que, entusiasmado, explicou a concepção do Batur (o nome vem do maior lago de Bali, na Indonésia). Sua equipe retirou todos os painéis da carroceria do Continental GT Speed na linha de montagem de Crewe, no Reino Unido, mantendo apenas o para-brisa e os pilares dianteiros. Estas são as únicas peças comuns entre o Continental e a nova criatura.
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O Batur é apenas o segundo Bentley customizado pela Mulliner, depois do Bacalar, que também foi baseado no Continental. Os modelos personalizados, segundo Williams, fizeram o lucro da Mulliner disparar 82% no período. O valor médio dos carros da Bentley também cresceu, de 180 mil para 220 mil euros. Parte do sucesso se deve justamente à exclusividade.
A Mulliner até poderia vender mais unidades do Batur, mas isso não faria sentido. As 18 unidades já estão encomendadas. Segundo a Bentley, quatro delas vão embarcar para os Estados Unidos, enquanto as outras serão distribuídas no Oriente Médio, na Coreia do Sul e em alguns países da Europa.
O Batur é mais do que uma edição para colecionadores. O esportivo celebra os 20 anos do Continental e marca a despedida do motor W12, que deixará de ser produzido no ano que vem. A unidade estreia um novo sistema de admissão, compressor e intercoolers, como um presente de despedida aos donos.
Eu me aproximo do esportivo e noto a grade gigante e mais profunda, o enorme capô e as linhas proeminentes que se estendem da dianteira da carroceria até a parte de trás. No lugar da fibra de carbono, o Batur tem aplicações de fibras naturais sustentáveis, mais leves que o alumínio, nas saias e no difusor traseiro.
Os faróis estreitos não remetem aos Bentley atuais, que ainda têm o padrão arredondado. A marca antecipa que esse será o estilo dos modelos elétricos que vão surgir a partir de 2025, como uma prévia do que há por vir. De 2030 adiante, todos os carros da marca serão elétricos.
O motor W12 6.0 litros biturbo recebeu um incremento de 91 cv, saltando de 659 cv para 750 cv em comparação com o do Continental. O torque máximo passa a ser de 100 kgfm, suficientes para fazer o esportivo disparar até 337 km/h.
Aliado ao câmbio automatizado de dupla embreagem de oito marchas, o conjunto permite que o Batur vá de zero a 100 km/h em 3,4 segundos — o que impressiona, considerando que se trata de um carro de 2,2 toneladas. Metade dos cilindros são desligados em situações de carga leve no acelerador, proporcionando um consumo mais moderado.
Ou seja, o Batur passa a se mover com se tivesse “apenas” seis cilindros entre a terceira e a oitava marchas, abaixo de 3 mil rpm. Ainda assim, durante o trajeto de cerca de 60 km pela estrada, a média de consumo foi de 5,7 km/l.
O pacote mecânico inclui suspensão pneumática de três câmaras, barras estabilizadoras eletrônicas que podem contrariar o rolamento da carroceria e diferencial traseiro autoblocante. Em baixas velocidades, as rodas traseiras giram na direção oposta à das dianteiras, o que resulta num raio de esterçamento reduzido e em melhor manobrabilidade.
Em velocidades mais elevadas, as rodas traseiras do Batur giram na mesma direção que as da frente a fim de melhorar a estabilidade. O sistema de escape é de titânio e os freios são de carbeto de silício.
Este Bentley anabolizado ainda oferece vários modos de condução. Ao selecionar o “Comfort”, a altura em relação ao solo sobe 15 mm para facilitar o rodar na cidade e deixar o esportivo menos vulnerável a obstáculos como lombadas e entradas de rampas. Em “Sport”, o Batur eleva o tom de voz e adota um discurso mais eloquente. As passagens de marcha tornam-se mais intensas e a suspensão fica mais firme.
O silêncio a bordo na estrada é uma cortesia do excelente isolamento acústico do Batur. O volante é suficientemente direto e preciso para um carro da categoria e pode ficar mais pesado ao ser acionado o modo “Sport”. Há também uma opção “Custom”, em que o motorista pode ajustar diversos parâmetros de acordo com sua preferência. É possível, por exemplo, optar por um acerto de suspensão mais leve e potência total no acelerador.
O interior combina elementos do painel do Continental e do Bacalar, com muitas peças de titânio, carbono e fibra natural. E a Bentley ainda oferece a opção de couro vegano para o revestimento dos bancos — algo cada vez mais frequente entre os clientes mais jovens, conforme diz a marca — e até ouro 18 quilates em alguns acabamentos.
O painel de instrumentos tem mostradores de velocidade, indicadores da temperatura exterior, bússola, computador de bordo e até um cronômetro. Porém, quem conhece bem os sistemas da Audi passa por certa sensação de déjà-vu. Pelo preço do Batur, a interface deveria ser exclusiva, mesmo em relação ao Continental, que custa dez vezes menos.
Nos poucos trechos de estrada seca, deu para ser um pouco mais atrevido ao volante. Não cheguei a selecionar o modo dinâmico, pois ainda estou pagando meu financiamento imobiliário. Não há margem para fazer da Bentley o meu novo credor vitalício se eu acabar causando algum dano ao esportivo em virtude de um descuido.
Por sorte, os freios usam discos de carbeto de silício. Trata-se de um opcional que eleva o valor do Continental em 15 mil euros, mas que surge como equipamento de série no Batur. Eles potencializam a força da “mordida” das pinças e proporcionam mais segurança ao final das acelerações mais vigorosas.
Tendo em vista que estamos perante um Continental GT Speed com vestes exclusivas e uma nova programação de hardware, faz sentido que o Batur custe dez vezes mais? Se este for o ângulo de análise, claramente a resposta é negativa. Mas, para os clientes que buscam alto luxo e vivem confortavelmente sem fazer contas, o que são 2,5 milhões de euros?
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Fonte: direitonews