Belarus ‘emana multipolaridade’ e tem tudo para ser um grande parceiro do BRICS, afirma analista


Belarus foi oficialmente reconhecido como um país parceiro do BRICS, status que permite a Minsk participar permanentemente de sessões especiais e reuniões do grupo, além de convocar autoridades para discussões sobre comércio internacional e outros temas.
O presidente belarusso, Aleksandr Lukashenko, afirmou que o BRICS é um pilar da multipolaridade, mencionando o crescente número de países que veem a organização como uma esperança para uma ordem mundial justa.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica o que o país tem a ganhar ao se tornar parceiro do BRICS e o que pode oferecer ao grupo.
Pitillo afirma que Belarus é uma grande concorrente a estar no BRICS por ter uma política externa que “emana multipolaridade”.
“É um país que tem um governo de grande estabilidade, é um país que tem um índice de desenvolvimento humano muito elevado e tem uma economia que é planificada, mesmo com a presença do capital privado”, afirma.
Ele destaca que o país tem a oferecer ao BRICS o conhecimento na produção de implementos agrícolas, fertilizantes, máquinas agrícolas, grandes máquinas para transporte e tratores, caminhões.

“Sem dizer que Belarus também é uma grande produtora de alimentos. A agricultura em Belarus é uma coisa muito forte, é uma agricultura de larga escala. Então todos os países do BRICS poderão agora ter acesso a esse maquinário agrícola de maneira mais barata.”

Para além da economia, ele destaca que Belarus pode oferecer expertise aos países do BRICS na garantia de bem-estar social.
“É um dos países com o maior índice de desenvolvimento humano, é um dos países com o menor número de pobreza, é um dos países mais seguros do planeta, com educação e saúde públicas quase 100% gratuitas.”
Ele frisa que o Brasil, como integrante do BRICS, poderia aproveitar a oportunidade para se aproximar de Belarus, ressaltando que os países têm “muito a aprender e muito a ensinar” um ao outro.
“Eu acredito que o Brasil deveria criar, se ainda não existe, não só uma câmara de comércio, mas uma comissão de aproximação, de sondagem, uma comissão que fosse a Belarus entender todas as potencialidades […], e que, também ao inverso, que essa comissão a nível bilateral pudesse estudar o Brasil e isso realmente avançar, não só na área de comércio, mas também na área de educação, na área de cultura, na área de saúde.”
Questionado sobre o porquê de alguns países que são ex-repúblicas soviéticas, como Belarus, terem uma boa relação com a Rússia, uma das potências do BRICS, enquanto outros, como a Ucrânia, se distanciaram, Pitillo afirma que o fim da União Soviética foi traumático para todos e para algumas das ex-repúblicas representou “a subida ao poder de grupos extremamente reacionários que viram o poder cair no seu colo e rapidamente foram assessorados pela OTAN”.

“A partir dali [da ascensão de grupos reacionários], você tinha que criar todo um movimento cultural, político e social de mentira para falsificar a história da formação da União Soviética, para que aqueles países nunca mais pudessem ousar querer refundá-la. Então países como Lituânia, Estônia, Letônia, Armênia, Polônia, Ucrânia, nesses locais a OTAN investiu muito”, explica.

Ele acrescenta que, somado a isso, foi iniciado nesses países um processo de desmantelamento do bem-estar social priorizado na era da União Soviética, abrindo espaço para a miséria e a pobreza.

“E essas pessoas que vão ser os novos pobres — porque a União Soviética tinha erradicado isso —, eles vão ser alienados e vão ser achatados pela exploração dessa nova sociedade capitalista que surge na periferia da Europa.”

Em contraponto, países como Belarus, que conseguiram preservar o bem-estar social, tiveram um rumo diferente.
“Os países que tiveram maior clareza desse processo tentaram segurar os seus estados de bem-estar social. A Rússia, em certa parte, Belarus e alguns países ali da Ásia Central. Alguns países ali tentaram manter os setores de saúde, uns a área de educação minimamente. Mas essa turma que estava mais próxima do Ocidente pulverizou tudo isso e criou no seu seio esses setores extremamente reacionários. Reabilitaram o fascismo, porque a antítese à União Soviética era o fascismo.”
Pitillo afirma ainda que Belarus é um país onde governo e povo estão em consonância, onde o capital privado não anda desenfreado e onde a vontade popular tem um poder muito grande, o que habilita a estar no BRICS e ser um grande parceiro de todos no grupo, inclusive o Brasil.

“E Belarus eu acho que tende a ganhar [ao ser parceiro do BRICS], porque vai ter uma janela de oportunidades com esses vários países do BRICS, com seus diferentes matizes econômicos, produtivos e comerciais, e o fato de a gente estar limando o dólar da nossa cadeia comercial. Isso é um processo que ainda vai ser longo, a gente não consegue se livrar do dólar do dia para a noite. Ele está aí há 80 anos e não vai sair em oito dias, mas eu acho que Belarus tem muito a ganhar”, afirma.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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