Diante desse novo cenário mundial, regimes de metas de inflação norteados por objetivos flexíveis passaram a ser defendidos no mundo, ao contrário da América Latina e, consequentemente, do Brasil, aponta Nassif. “O regime de metas de inflação, se ele é rígido demais, acaba tendo um custo social muito grande, porque toda vez que a inflação desancorar da meta, isso vai exigir uma política de juros às vezes muito alta, como tem acontecido no Brasil. O custo social disso é maior do que quando você vai comparar com o benefício de, às vezes, demorar muito para trazer a inflação para a meta.”
Quem controla o Banco Central do Brasil?
“Não há clareza sobre a vantagem da transformação do Banco Central em uma empresa pública do ponto de vista da independência da entidade. O que é necessário é fazer com que o Banco Central tenha um corpo técnico qualificado e que tenha tranquilidade para trabalhar. A gente não quer ter um corpo técnico que eventualmente possa sofrer pressão por conta, por exemplo, de eventuais substituições ou quando você tem uma orientação do Banco Central e uma eventual divergência do governo federal. É crucial um banco que possa efetivamente ser o guardião da moeda e proteger o país da melhor maneira possível”, defende o especialista.
‘Todos gostaríamos de ter juros baixos’
“Claro que todos nós gostaríamos, por exemplo, de ter uma taxa de juros básica mais baixa. Agora, isso seria bom para o país? A princípio é bom para as famílias, para as pessoas físicas, num primeiro momento, porque você estaria pagando uma taxa de juros mais baixa, mas levaria a um problema com a inflação. Quando o Banco Central toma as decisões dele, por exemplo, de manter uma taxa mais elevada, o que ele está pensando é exatamente como controlar a inflação, como fazer com que a atividade do mercado seja regulada em parte por esse juros para não ter nem um aquecimento nem um desaquecimento […]. Então não necessariamente as pessoas físicas entendem qual é a dinâmica desse tipo de decisão”, argumenta.
Como a pandemia mexeu com a economia?
“A tese é de que os bancos centrais devem ser independentes da pressão das políticas almejadas pelo governo, que é eleito democraticamente pela população. Em relação à autonomia financeira, isso me parece, no caso brasileiro, ainda mais estapafúrdio. Tem um trecho da lei que justifica a medida para que o Banco Central possa executar de forma mais eficiente as suas atividades, inclusive recrutar e manter pessoal de alta qualificação. Mas sempre foi assim”, justifica.
“Esse problema é muito mais complexo do que simplesmente o fato de argumentar a necessidade da autonomia financeira para pagar melhor aos funcionários, porque essa mudança pode servir como estímulo para o próprio Banco Central aumentar as suas receitas, e, com isso, ser impelido a aumentar mais os juros do que seria o necessário para trazer a inflação para a meta”, conclui.
Como o mercado financeiro influencia a economia?
“Quando vai para a votação [a PEC] no Congresso, ajustes podem ser feitos e deixar a porta mais aberta para que houvesse pressão maior sobre o órgão. E logicamente o que a gente quer é que a instituição esteja protegida dessa pressão para que as decisões possam ser decisões técnicas e, logicamente, com um olhar de médio e longo prazo de política pública, e não de política partidária. Nem pressionada pelo mercado nem pressionada pelo governo. Deve ser aquela decisão do melhor para o país”, finaliza.
Fonte: sputniknewsbrasil