Audi quer mudar imagem de “Volkswagen de luxo” para vender carros ainda mais caros no Brasil


A3 Sedan pelo preço de um Toyota Corolla“. Essa foi a estratégia de marketing da Audi durante o período mais vibrante do segmento de carros de luxo na indústria automotiva brasileira, tanto em produção quanto em vendas, entre 2012 e 2015. Quase uma década depois, o cenário é bem distinto. Um A3 Sedan atualmente custa R$ 80 mil a mais que um Corolla topo de linha.

Mas antes de mostrar a situação atual, vale uma contextualização do mercado de luxo na década passada. O objetivo da Audi era claro: ser a porta de entrada para o segmento premium. Na época, A3 Sedan e Corolla apareceram juntos em comparativos e propagandas — o sucesso veio. Não demorou para que a Audi registrasse seus melhores resultados na história.

Mas, em quase uma década, o Brasil virou de ponta-cabeça. Depois de quatro presidentes (com um impeachment entre eles), da crise econômica e do início de uma pandemia global, o comportamento de quem compra carros de luxo também mudou. Os preços também já não são mais as “pechinchas” de 2015.

Em 2023, a Audi se vê uma vez mais na posição de se reinventar. Autoesporte esteve em um treinamento exclusivo para concessionários, onde pudemos entender mais sobre a visão da marca para o futuro e o que as quatro argolas representam como um conceito de mobilidade.

Voltemos à década passada por alguns instantes. O Toyota Corolla Altis, versão mais cara do sedã, custava R$ 93.730 em 2013. A etiqueta salgada para a época não freou seu excelente desempenho nas lojas, tanto que o modelo japonês encerrou o ano com 54 mil unidades vendidas.

Ter um carro com a grife Audi e o mesmo preço do Corolla foi fundamental para a marca. O A3 Sedan custava R$ 94.900 e era oferecido com motor turbo, algo incomum para a sua época. Logo após o sucesso da versão importada da Hungria, o sedã passou a ser produzido em São José dos Pinhais (PR) em 2015 ao lado de Fox e Golf.

A compatibilidade das peças com a Volkswagen facilitou a cadeia produtiva da Audi, uma vez que o A3 era montado sobre a mesma plataforma MQB que equipava o Golf. Os hatches nacionais também partilhavam os motores turbo e até os downgrades. A sofisticada suspensão traseira multilink deu lugar ao robusto eixo de torção e o câmbio automático DSG de dupla embreagem foi substituído por uma caixa automática Tiptronic.

Era possível até ver o logotipo de ambas as marcas em algumas peças, revelando que muitos componentes eletrônicos de A3 e Golf eram os mesmos.

Ainda em 2015, a Audi viu suas vendas saltarem para 17 mil unidades. Este resultado parecia inimaginável para uma fabricante de luxo. Como comparação, em 2022 esse volume foi alcançado por Audi, Mercedes-Benz e Volvo somadas.

Se antes o A3 Sedan era o carro de volume, hoje essa missão pertence ao Q3. O SUV voltou a ser produzido no Paraná em uma pequena escala, mas continua sendo o best-seller das quatro argolas na maioria das praças.

Bárbara Brandão, vendedora da Audi Center Lapa de São Paulo (SP), diz que o Q3 Sportback tem sido o favorito do público feminino. “Q5 e A3 Sedan fazem sucesso entre os pais de família e os homens solteiros. Já o Q3 Sportback é mais procurado pelas mulheres, seja como um carro da esposa ou da filha”, afirma.

No princípio, a expectativa dos concessionários era de que o Q3 SUV venderia mais que o Sportback. O estilo arrojado da carroceria do cupê agradou aqueles que buscam um utilitário menos convencional até nos mercados mais conservadores, como o Nordeste.

“Por ser um SUV compacto, o Q3 tem sido bastante procurado na Paraíba. Os jovens e as mulheres preferem o Sportback, mas a versão SUV faz mais sucesso entre os homens”, diz Davi Costa, executivo de vendas da Audi Center de João Pessoa (PB). “A maioria dos novos donos do Q3 são proprietários de SUVs de marcas emergentes, como a Jeep, e que agora estão migrando para uma grife de luxo”.

Porém, o Q3 Sportback não é unânime em ser o Audi mais buscado no Brasil. Anderson Santos, vendedor de Balneário Camboriú (SC), diz que o Q5 é o best-seller da região. “Registramos uma grande exploração de carros de um segmento ainda mais premium. Há uma certa competição entre os moradores de Balneário”, afirma.

A cidade catarinense tem um dos maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Até pessoas que não residem no município compram apartamentos na região.

“Outro SUV com muita procura em Balneário é o Q8. Só não vendemos mais porque faltam carros”, lamenta Anderson. O utilitário mais caro da Audi parte de R$ 666.990 no Brasil.

A Audi tem investido mais nos esportivos da linha RS com o objetivo de aumentar o ticket médio do catálogo. Atualmente, a marca alemã oferece os modelos RS5 Sportback, RS6 Avant, RS Q8 e RS e-tron GT, sendo este último o seu 1° esportivo elétrico. O mais barato deles custa R$ 863.900.

Mirtes Cristina, vendedora da Audi Center Pinheiros de São Paulo, destaca que as vendas da linha RS registraram um “boom” durante a pandemia. “Como nossos clientes não podiam mais viajar para o exterior por conta do isolamento, acabaram optando por comprar brinquedinhos de gente grande”, afirma.

“Neste período, vendi muitos Audi RS a grupos de amigos. As pessoas se juntavam para comprar um carro em conjunto para dividi-lo ao longo do ano”, diz Mirtes. Depois que a pandemia passou, as vendas dos esportivos voltaram ao normal.

A Audi terá em torno de 20 carros elétricos disponíveis em todo o mundo até 2025. Veículos a combustão devem ser produzidos até meados de 2033 — e a partir daí, a marca será 100% elétrica. Os lojistas aguardam a chegada do novo Q6 e-tron ao Brasil com muito entusiasmo.

Mas, antes de ampliar sua gama nacional, a Audi vai investir na infraestrutura para carros elétricos. Cerca de R$ 87 milhões já foram desembolsados para instalar 200 carregadores em pontos públicos como farmácias, shoppings e supermercados.

As 42 concessionárias da Audi em todo o país também foram equipadas com carregadores — e até donos de carros de outras marcas podem usar. Os lojistas dizem que se trata de uma excelente oportunidade para levar o proprietário de um Volvo ao showroom e apresentar um modelo semelhante com as quatro argolas.

Uma das estratégias para vencer a resistência dos clientes conservadores aos carros elétricos é o Audi Signature. Trata-se de um programa de assinaturas que varia entre 18, 24 ou 36 meses, feito em uma plataforma compartilhada com a Volkswagen.

É possível alugar um Audi a bateria a partir de R$ 15 mil ao mês. Segundo a marca, o programa blinda os clientes que não estão confiantes nos modelos elétricos e têm receio da desvalorização (uma vez que não se trata de uma compra, e sim de um compromisso temporário). As adesões ao Audi Signature estão em alta no Brasil, com grande destaque para o e-tron SUV (atual Q8 e-tron).

A Audi não voltará aos tempos áureos em que emplacou 17 mil unidades. A intenção atual é elevar as vendas dos carros que custam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, como as famílias e-tron e RS, ainda que o volume mensal seja mais enxuto.

Mantendo a média atual, a marca das quatro argolas deve finalizar o ano com algo em torno de 5,3 mil unidades vendidas no Brasil em 2023.

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Fonte: direitonews

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