As diferenças do carregador de carro elétrico doméstico para o ultrarrápido


Imagine a cena: você para na bomba de combustível e o frentista coloca 30 litros de gasolina no tanque do seu carro. Pronto! Você demorou cinco minutos parado e tem uma estimativa bem aproximada de qual distância pode percorrer com esse combustível.

Com o carro elétrico a história é bem diferente. Afinal, carregar a bateria do veículo varia de acordo com o tipo de tecnologia do carro, do carregador, do nível que se quer atingir e até da temperatura ambiente. Por essas e outras razões que as fabricantes falam que “encher” a bateria de 10% até 80% pode levar 30 minutos em um carregador rápido ou 12h numa tomada residencial comum. Mas não se preocupe, Autoesporte vai jogar luz sobre as dúvidas sobre carregar um carro elétrico.

Eu sei que é chato, porém é preciso relembrar alguns conceitos de eletricidade para compreender o restante desta história. Imagine que corrente elétrica é o que o nome sugere: uma fila de elétrons viajando de um átomo a outro, pois esses átomos têm cargas diferentes.

Na corrente contínua (CC) os elétrons viajam em sentido único. Na alternada (CA) os elétrons vão em várias direções. Por isso, usamos CC em equipamentos de baixa tensão, como a tomada de casa. Já a CA comporta potências grandes e permite ser “transportada” por cabos em distâncias maiores com pouca perda.

Ampere (simbolizado pela letra ‘A’) é a medida que representa justamente a quantidade elétrons que passam por essa corrente a cada segundo. Uma quantidade alta de amperes da rede elétrica pode levar a curtos circuito e sobreaquecimento.

Volt (simbolizado pela letra ‘V’) é a unidade de medida usada para tensão elétrica que, por sua vez, é a diferença que dois pontos tem de potencial elétrico. O ponto de partida do fluxo de cargas (lembra dos elétrons viajando?) indo para um ponto sem carga.

Watt (ilustrado pela letra ‘W’) é a medida que mostra a quantidade de energia transferida em um segundo e não é exclusiva do estudo da eletricidade. Motores a combustão transformam energia da queima de combustível em movimento.

Por exemplo: a potência de 100 cv num carro convencional equivale a 74.570 watts. No caso de equipamentos elétricos, o watt serve para entendermos a potência gerada num circuito que tem diferença de potencial elétrico (que medimos em volts) e a força dessa corrente (que medimos em amperes).

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Agora que temos esses conceitos frescos na memória, fica mais fácil entender os tipos de carregamento de carro elétrico. “Imagine uma banheira sendo a bateria, e duas mangueiras sendo dois carregadores. Quanto maior a quantidade de água que sai de uma das mangueiras, mais rápido se enche a banheira, é por isso que os tempos são diferentes”, explica Carlos Roma, diretor técnico da Associação Brasileira da Veículo Elétrico.

Os carregadores Nível 1 são aqueles cabos básicos que podem ir em qualquer tomada convencional para carregar um carro elétrico. Como neste caso só podemos ter 220V e até 20A, há um tempo mais longo para recarga. Se a potência que essa tomada entrega for só de, por exemplo, 3,5 kW, demoraríamos mais de 10 horas para ir de 0% até 100% de num BYD Dolphin Mini. O hatch tem bateria de 38 kWh.

Vale aqui já falar de outro ingrediente desta fórmula do carregamento: o quanto o veículo consegue receber de potência. Se a bateria é uma banheira e o cabo do carregador é uma mangueira, como ilustramos, alguns veículos têm um funil que estrangula o carregamento do Nível 1. O Renault Kwid E-tech, por exemplo, permite potência máxima de só 2,2 kW, mesmo usando tomada de 220V com pinos de 20A, pois o Renault trabalha com 10A no carregador portátil.

Isso, claro, se a temperatura não atrapalhar. Baterias de íon de lítio operam de maneira eficiente com temperaturas entre 15°C e 35°C. Acima disso, sobreaquecem e têm taxas mais rápidas de descarga.

Em temperaturas muito baixas a bateria também descarrega mais rápido, o que se resolve após algum tempo de funcionamento e consequente aumento de temperatura do sistema elétrico do carro. É por isso que carros elétricos modernos têm sistema de gerenciamento de temperatura de baterias.

Os carregadores Nível 2 são os conhecidos “wallbox”. Eles necessitam de especialista para implementação, instalações elétricas adequadas no imóvel e já contam com conectores próprios para plugar no carro elétrico. Aliás, Autoesporte já explicou os diferentes tipos de plugues. Esses equipamentos funcionam com potências a partir de 7,4 kW , a mais comum para residências, e 11kW e 22 kW com instalação trifásica. Um Peugeot 208 e-GT, por exemplo, chega até 80% de bateria em 6h usando um wallbox residencial de 7,4 kW.

É legal notar que a maioria das fabricantes recomenda não levar o nível da bateria até 100% em todas as recargas. O recomendado é 80% e os tempos de carregamento divulgados pelas empresas seguem essa regra. Por que? Aqui voltamos a analogia da banheira. Se o nível da água está próximo de transbordar você diminui a força da mangueira, correto? O cérebro do carro tem a mesma atitude quando a bateria está quase cheia. A eletrônica desacelera o carregamento para preservar o sistema.

Vinicius Garritano, gerente de produto e pricing da Volvo, explica que os carros da marca contam com sistemas de gerenciamento e proteção da bateria, que, dentre outras ações, servem para impedir admissões de energia que excedam limites saudáveis para o componente, além de outras anormalidades.

“Há também um sistema chamado BMS, que monitora e evita o superaquecimento da bateria em qualquer circunstância. Mas vale observar que, no manual do proprietário do veículo Volvo, consta a recomendação de carregar a bateria até os 100% apenas em casos de necessidade. Para cargas cotidianas, sugere-se não passar dos 90%”, aconselha Garritano.

Os carregadores Nível 3 são aqueles que usam só corrente contínua e prometem potências a partir de 50kW. Achamos essa tecnologia em estradas e pontos comerciais. No Brasil temos equipamentos que entregam na maioria entre 60 kW e 120 kW e, claro, são compatíveis apenas com veículos com o plugue adequado.

“O tempo de recarga vai variar conforme potência do carregador e o nível de potência aceitável do veículo. Essa segunda é muito importante mencionar, pois não adianta ter carregadores de 120 kW, 180 kW ou 300 kW se o carro, por questões técnicas e especificação, limita a potência em 60 kW”, explica Marcelo Palla, head de recharge da GWM Brasil.

Porém, a tecnologia não está estacionada aí. A Huawei promete recuperar até 200 km num carro elétrico em apenas cinco minutos. A tecnologia, que acabou de ser apresentada no Brasil, tem capacidade máxima de 500A e potência de 720 kW. Dessa maneira, viagens entre cidades seriam mais rápidas e previsíveis. E não teríamos mais o medo de ficar pelo caminho sem bateria ou entediados enquanto o carro leva horas para carregar.

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Fonte: direitonews

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