Usando dados de “Ciência Cidadã”, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com outras instituições, encontrou centenas de registros de pombas urbanas em diferentes regiões da Amazônia Brasileira, coincidindo com áreas de desmatamento desde 1988. A pesquisa, apesar de ainda não estabelecer uma correlação clara entre os dois fatores, reforça que a expansão territorial desses animais pode ser um reflexo do desmatamento.
“Todos os animais possuem uma sensibilidade para perturbações no seu habitat, sejam perturbações naturais ou causadas pelo homem. Sendo assim, a presença ou ausência de determinada espécie em um ambiente pode indicar o quão saudável ou degradado ele está. As aves, por serem altamente sensíveis às modificações, são consideradas de forma geral como excelentes indicadores – ou bioindicadores – da qualidade de determinado ambiente” explicou Gabriel Magalhães Tavares, do programa de pós-graduação em Zoologia (PPGZOO) da UFMT.
Para a pesquisa, os cientistas usaram dados coletados de três sites onde qualquer pessoa pode registrar as aves que avista: wikiaves, ebird e taxéu. Esse tipo de ferramenta, chamada de “ciência cidadã”, permite que os pesquisadores tenham acesso a vastos bancos de dados construídos com o esforço coletivo da população, como numa rede social, o que é uma grande vantagem. “Entretanto, como as aves não são identificadas por especialistas, cada registro precisou ser avaliado minuciosamente”, completou.
Com essas ferramentas, os pesquisadores levantaram 804 registros da espécie Zenaida auriculata na Amazônia brasileira, entre 1982 e 2020, e compararam sua distribuição com as áreas desmatadas entre 1988 e 2019. No mapa, fica claro que diversos registros entre 1999 e 2020 avançam progressivamente dentro do território da floresta, seguindo os contornos da área desmatada.
“A avoante pode se beneficiar de culturas agrícolas, como soja, milho e trigo, uma vez que sua dieta inclui esses tipos de grãos. Esta pode ser uma das razões pela qual as populações dessa ave estão se dispersando para áreas desmatadas, em grande parte sendo ocupadas por tais culturas”, concluiu.
A pesquisa foi realizada em parceria com os pesquisadores Carlo Nei Ortuzar-Ferreira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Alexandre Gabriel Franchin, da empresa CMData Ltda.
Fonte: ufmt