Armadilha do sistema: por que diamantes da África não se transformam em riqueza para os africanos?


Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Orlando Murongo, especialista em relações internacionais com duas décadas de experiência, traz à luz as complexidades desse dilema que afeta o continente africano.
Príncipe saudita Mohammed bin Salman durante reunião com o secretário de Estado Antony Blinken, Jidá, Arábia Saudita, 20 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 07.06.2024

A África é um dos maiores produtores de diamantes do mundo, mas a influência dos países africanos na definição dos preços globais é mínima. Dos 70 países participantes do Processo de Kimberley, que regulamenta o comércio de diamantes para evitar a venda de diamantes de conflito, apenas 13 são africanos, e esses têm pouca ou nenhuma capacidade de influenciar os valores.
De acordo com Murongo, o continente africano vive o “paradoxo da abundância”. Apesar de ser rico em recursos naturais, muitos países enfrentam dificuldades em converter essa riqueza em benefícios concretos para suas populações.

“Governos têm dificuldade em transformar a potencialidade de recursos minerais em desenvolvimento. […] Além disso, enfrentam uma espécie de armadilha do sistema” explica.

O especialista destaca que a maior parte da exploração de diamantes é realizada por empresas multinacionais estrangeiras, o que resulta em uma pequena fração dos lucros retornando aos países produtores. Mesmo em países como a África do Sul, onde existem empresas nacionais envolvidas na exploração, há fortes vínculos com a Europa, diminuindo ainda mais o impacto econômico local.
“Nos raros casos em que empresas africanas controlam a exploração, a ligação com interesses europeus é intensa. Isso reduz a percentagem que fica realmente nos países africanos” observa Murongo.

Legislação

Todos os países africanos produtores de diamantes possuem legislações específicas para regulamentar a exploração. Entretanto, Murongo destaca que essas leis muitas vezes são efetivas apenas em nível local, sem grande impacto nos mercados globais. O Processo de Kimberley, criado em 2003, é uma tentativa de controlar e certificar a origem dos diamantes, minimizando o financiamento de conflitos armados.
Murongo reconhece as críticas à iniciativa, como sua incapacidade de abordar questões de direitos laborais e humanos e a falta de controle sobre diamantes refinados. Mas ressalta:
Ainda assim, o Processo de Kimberley é o único mecanismo que impõe alguma ordem na selva que era a exploração de diamantes.
Embora existam casos de impacto positivo, como em Botsuana e Namíbia, onde a exploração de diamantes tem contribuído para melhorias em saúde e educação, o analista ressalta que esses exemplos são exceções.
Um funcionário corta e poli um diamante na planta de lapidação de diamantes M Suresh Vladivostok, em Vladivostok, na Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 18.05.2024

A abundância de recursos muitas vezes fomenta conflitos armados” comenta, citando a República Democrática do Congo, onde minerais como coltan e cobalto continuam a financiar insurgências.
Outro aspecto abordado é o domínio do comércio de diamantes pela comunidade judaica, especialmente em centros como Antuérpia, na Bélgica, um país que não produz diamantes, mas é o centro mundial do comércio dessa pedra preciosa. Murongo explica que essa situação tem raízes históricas e culturais, relacionadas ao envolvimento milenar da comunidade judaica com o comércio e a banca.

Diamantes de laboratório

Com uma trajetória de 21 anos no setor de investimentos, Michel Abad, sócio-gestor do fundo Maverick Ventures Israel, faz uma análise sobre os diamantes de laboratório, abordando suas vantagens econômicas e ambientais, além de suas aplicações tecnológicas de ponta.
Ele explica que a principal motivação para a produção de diamantes em laboratório é a sustentabilidade.

“Para extrair um diamante da terra, você precisa transformar toneladas de solo, o que tem um grande impacto ambiental. […] Além disso, na África, a exploração muitas vezes ocorre sem a devida supervisão, envolvendo condições de trabalho precárias e, às vezes, financiando conflitos armados” destaca Abad.

Segundo ele, os diamantes de laboratório eliminam essas questões, sendo produzidos em ambientes controlados e utilizando energia solar, além de capturar carbono no processo.
Membros das Forças Armadas durante comemoração do golpe de Estado de 1964, em São Paulo, 28 de março de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 06.06.2024

“Eles são até positivos para o meio ambiente,” afirma. E, economicamente, são mais acessíveis. “Um quilate de diamante de laboratório custa cerca de 20% do preço de um diamante natural equivalente”, assegura.
Em termos de qualidade, Michel assegura que os diamantes de laboratório são indistinguíveis dos naturais.
“Eles não são imitações; são diamantes reais. A única diferença é o local de produção,” explica. Esses diamantes, criados com tecnologia avançada, podem ser programados para tamanhos, brilhos e cores específicas, garantindo pedras de alta qualidade a um custo menor.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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