Qual o real motivo do conflito na Faixa de Gaza?
“Mas Gaza é o principal foco. De fato os recursos [naturais] são um dos pontos importantes para Israel, mas quando falamos em recursos, não falamos só em gás natural. Os próprios relatórios das Nações Unidas explicaram que alguns dos objetivos de Israel relativamente aos recursos eram […] controlar a água, controlar as terras que permitem uma boa agricultura, e, de fato, o gás natural na região é estimado em vários trilhões de pés cúbicos, em vários pontos, não só na zona marítima, mas também na zona terrestre”, explica Ribeiro.
“Um dos objetivos era o domínio dos hidrocarbonetos no Oriente Médio. O outro objetivo era o afastamento da Rússia e do Irã como principais parceiros das grandes economias da Europa, principalmente no gás natural, mas também no petróleo. Só que a sequência dos eventos deveria ser: fase um, domínio do Oriente Médio, ou seja, o controle dos hidrocarbonetos; fase dois, afastar a Rússia da Europa e travar também a capacidade do Irã, que tem vindo a mostrar-se importante também nas questões geopolíticas”, afirma Ribeiro.
“Só que os especialistas mostram que naquela região ainda há muitas reservas estimadas [além dos dois campos]. Ou seja, existe muita capacidade de exploração ainda nessa região”, diz Ribeiro.
Quem vai ser responsável por reconstruir a Faixa de Gaza?
“Porque o objetivo em Gaza é ser um ponto de ligação de energia à Europa, eu não tenho grandes dúvidas em relação a isso. Aquilo que eles querem fazer são grandes terminais de energia, criar gasodutos para interligar o Chipre, a Grécia, a Itália, e fazerem um grande hub energético, que será uma alternativa à Rússia, que agora está desligada da Europa”, acrescenta.
“[Israel] É literalmente o último projeto colonial europeu naquela região. Por isso essa é uma questão de poder, de manter ligações com o grande ponto geográfico de energia no mundo. Aí não interessam os direitos humanos, os direitos humanos não falam acima dos interesses econômicos e financeiros.”
Situação na região pode gerar alta no preço do gás natural?
“O que é a grande preocupação de nós, analistas de energia, mas também de pessoas envolvidas no comércio marítimo e de [pessoas de] logística, é esse conflito escalonar e acabar criando gargalos para o trânsito desses navios-tanque e também navios de gás, do GNL [o gás de cozinha]. Pode ser, sim, um motivo de elevação dos preços nos próximos meses.”
“Foram 18 drones envolvidos nessa operação, 2 mísseis cruzeiros… É um potencial bélico considerável, tendo em vista a situação atual do Iêmen e dos próprios houthis. Então é uma região que tem chamado bastante a atenção dos analistas, tem preocupado, sim, o comércio internacional de insumos variados. Mas se vai começar o conflito por ali exatamente, eu não sei.”
Qual o papel do Brasil nesse xadrez geopolítico?
“O Brasil sempre buscou trazer as partes em conflito para a mesa de negociações. Não à toa o Brasil sempre é convidado como observador do Conselho de Segurança da ONU ou de outros órgãos associados à ONU. O Brasil sempre tenta assumir essa posição moderada e também chamar para a mesa de negociações as partes em conflito.”
Fonte: sputniknewsbrasil