Cargueiro no porto de Yangpu – China – Guo Cheng – 22.jul.2022 Xinhua
Previsões do governo indicam produção interna maior e importação menor nos próximos dez anos.
O Brasil pode estar indo na contramão do maior importador mundial de alimentos. As produções de soja e de milho crescem rapidamente por aqui e atingem patamares recordes.
As oportunidades de exportações de alimentos para saciar o apetite dos chineses, no entanto, estarão voltadas mais para lácteos e pescado, dois setores que os brasileiros ainda não têm competitividade.
Os chineses vão continuar necessitando de produtos brasileiros, mas as importações perdem o ritmo acelerado dos anos recentes. Entre as carnes, a bovina ainda terá bom espaço.
Essa sinalização foi dada pelo “Outlook 2022”, que traçou perspectivas agrícolas para a China nos próximos dez anos. O evento foi realizado no primeiro semestre e mostrou tendências de produção, de consumo e de importação.
Os dados foram compilados pelos técnicos do escritório da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em Xangai, em parceria com a Invest SP.
As notícias para os sojicultores brasileiros não são muito animadoras. A produção chinesa deverá crescer, enquanto as importações cairão. Mesmo assim, ainda haverá espaço para o produto brasileiro, mas não no mesmo ritmo das exportações dos últimos anos.
A produção chinesa de soja foi de 16,4 milhões de toneladas em 2021. Sobe para 27 milhões em 2026, e estará em 35 milhões em 2031, segundo cálculos do Ministério da Agricultura do país.
As importações, que já superaram 100 milhões de toneladas por ano, recuam para 90,8 milhões em 2026 e para 85,8 milhões em 2031. O consumo chinês está previsto em 118,5 milhões de toneladas.
O mercado chinês de milho, outra esperança para os produtores brasileiros, encolhe para as negociações externas. No ano passado, as importações chinesas somaram 28,4 milhões de toneladas, mas em 2031 deverão ser de apenas 7,6 milhões.
A produção de milho pela China, que foi de 273 milhões de toneladas no ano passado, deverá atingir 324 milhões em 2031. O consumo sobe para 328 milhões.
A produção total de grãos será de 688 milhões de toneladas neste ano. Renda maior e urbanização permitirão um crescimento sólido do consumo no longo prazo, apesar de a pandemia ter provocado uma desaceleração nos anos recentes.
Um suporte contínuo e políticas de incentivos vão permitir uma área produtiva superior a 117 milhões de hectares, na avaliação do governo chinês.
Entre as proteínas, o melhor cenário para o produtor brasileiro é o da carne bovina, cujo consumo terá um crescimento consistente. A produção chinesa atingirá 7,7 milhões de toneladas em 2031, e o consumo sobe para 10,6 milhões.
As importações, que foram de 2,33 milhões no ano passado, deverão subir para 2,84 milhões em dez anos, segundo as estimativas do governo. O Brasil deverá manter boa fatia desse comércio.
Para a carne suína, o cenário não é tão confortável. O Brasil se destacou nas exportações para a China, após a ocorrência da peste suína africana, a partir de 2018. A doença devastou o rebanho do país asiático.
A produção chinesa está se recompondo, no entanto, e os abates serão de 700 milhões de porcos em 2031, com produção de 56 milhões de toneladas de carne suína. As importações vão se retrair, caindo para apenas 1,5 milhão de toneladas em 2031. No ano passado, foram 3,7 milhões.
A avicultura chinesa também ganha corpo nos próximos anos. De uma produção atual de 23,8 milhões de toneladas de carne, deverá chegar a 26,3 milhões em 2031. Com isso, as importações recuam do atual 1,48 milhão de toneladas para 580 mil em dez anos, uma queda de 60%.
A China abre algumas portas que o Brasil, porém, ainda não está preparado para entrar. O consumo de leite deverá subir para 89,6 milhões de toneladas em 2031, um volume 65% superior ao atual. As importações irão para 36 milhões de toneladas, com alta de 89%.
Na área de pescado, consumo, produção e importação têm crescimento constante. A piscicultura chinesa, que produziu 66,9 milhões de toneladas em 2021, deverá atingir 71,3 milhões em 2031. As importações sobem para 7,6 milhões de toneladas, 32% a mais do que as importações de 2021.
Para o algodão, há uma tendência de aumento de produção e queda nas importações. No caso da cana-de-açúcar, a área de lavouras fica estável, o consumo sobe e as importações serão de 5,8 milhões de toneladas, um volume próximo ao atual (Folha de S.Paulo, 15/9/22)