Celacanto provoca maremoto. Expressão muito comum nos anos 70, que queria dizer, mais ou menos, que um ato, num determinado lugar e momento, mais cedo ou mais tarde, repercutiria em outro canto do planeta. O psicodelismo da abordagem da época, na verdade, é uma assertiva científica permanente e perfeitamente aplicável, quando se quer entender o efeito da disparada dos juros dos países mais desenvolvidos sobre as economias mais frágeis, como as emergentes, como a do Brasil.
A previsão nada agradável para a pátria tupiniquim foi feita pela consultoria S&P Global Ratings, a mesma que, recentemente, melhorou de neutra para positiva a classificação de risco do país. Agora, no entanto, sua projeção para os emergentes é de que estes, após um primeiro trimestre considerado ‘surpreendente’, irão enfrentar um processo de forte desaceleração econômica no restante do ano, com exceção, apenas, para China e Tailândia.
Em comum para esse segmento, o diagnóstico temerário mostra elementos insossos, com perda de fôlego (da atividade produtiva), demandas fracas (leia-se exportações) junto a parceiros comerciais, preços (commodities) pouco competitivos e juros restritos (elevados).
Depois que o mundo parecia ter superado maiores conflitos geopolíticos e crises pandêmicas, a resiliência inflacionária das economias mais abastadas recolocou em ação, por parte dos respectivos bancos centrais, a máquina de massacrar economias: os juros, mecanismo pelo qual tudo encarece e concentra riqueza.
O primeiro sintoma mais perceptível da perda de ímpeto do PIB da América Latina é a revisão feita pela S&P Global que, depois de ampliar, de 0,9% para 1,1% a previsão de crescimento da região em 2023, já a reduziu, a princípio, de 1,9% para 1,5%, para o ano seguinte e de 2,2% para 2,1% para 2025.
Excluindo a China, o conjunto de emergentes (África do Sul, Brasil, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia) deve experimentar expansão econômica média de 3,3% este ano, de 4% em 2024 e de 4,3% no seguinte.
Mas falando de emergência climática, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima serem necessários astronômicos US$ 2,8 trilhões por ano até 2030 para que os emergentes consigam atingir as metas ambientais. No ano passado, porém, os investimentos totais em energias renováveis do segmento não passaram de US$ 770 bilhões.
De acordo com relatório da AIE, mais de 70% dos financiamentos destinados a projetos de energia limpa no ‘mundo emergente’ terão de vir do setor privado, cujo montante terá de saltar de US$ 135 bilhões por ano para US$ 400 bilhões por ano, nos próximos dez anos.
Em comunicado à imprensa, o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol assinala que “o investimento precisa ir muito além da capacidade de financiamento público, tornando urgente aumentar o financiamento privado para projetos de energia limpa em economias emergentes e em desenvolvimento”, acrescentando que “existe um grande risco de muitos países ao redor do mundo ficarem para trás. O investimento é a chave para garantir que eles possam se beneficiar da nova economia global de energia”.
Entre as novas tecnologias ainda não produzidas em escala na parte menos desenvolvida do globo, o relatório da agência aponta, como exemplos: bateria de longa duração, energia eólica, dessalinização com energia renovável e hidrogênio de baixa emissão.
Fonte: capitalist