Apadrinhados por Bolsonaro e Caiado, dois candidatos de direita devem disputar 1º turno em Goiânia


A cidade de Goiânia deve protagonizar uma das disputas mais equilibradas nas eleições de 2024 entre as capitais do país. A troca do indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida pela prefeitura e a entrada de um pré-candidato do grupo político do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) dividem as forças da direita no primeiro turno da eleição e acirram ainda mais o competitivo pleito em Goiânia.

Considerado o principal nome do bolsonarismo no estado, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) deixou a disputa após acordo anunciado por Bolsonaro em um ato público no mês passado em Goiânia, no qual o ex-presidente defendeu o trabalho de Gayer no Congresso Nacional. O nome escolhido foi Fred Rodrigues (PL-GO), ex-deputado estadual que foi eleito em 2022 com mais de 42 mil votos, mas perdeu o cargo após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O ex-deputado federal Sandro Mabel voltou à vida pública após um hiato de 10 anos como pré-candidato pelo União Brasil, partido do governador de Goiás. Ex-líder do PL na Câmara dos Deputados, Mabel cogita a possibilidade de uma aliança, mas Rodrigues nega a intenção e enfatiza que a candidatura deve ser mantida pelo partido de Bolsonaro no primeiro turno.

Assim, os apadrinhados do ex-presidente da República e do governador Caiado entram na corrida eleitoral com nomes que já despontavam no cenário de amplo equilíbrio político. O atual prefeito Rogério Cruz (Solidariedade-GO), a deputada federal petista Delegada Adriana Accorsi e o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) também concorrem no pleito.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Mabel projeta que a alta aprovação do governo Caiado deve impulsionar a candidatura a prefeito e que o convite do União Brasil ocorreu pela procura de um nome para a gestão da capital. “Fui convidado pelo Caiado, que disse que Goiânia não estava bem e precisava de um gestor com experiência e conhecimento político. Eu tenho os dois. Mais de 20 anos na Câmara dos Deputados e também participação no governo do presidente Temer (MDB)”, disse o pré-candidato, que atua na gestão empresarial.

Na avaliação de Mabel, o início da campanha oficial vai equiparar a visibilidade dele com os demais pré-candidatos, que estão em evidência pelos cargos políticos ocupados. “Meu tempo de pré-campanha foi muito curto. Faz cerca de 60 dias que eu entrei [na disputa como pré-candidato]. Enquanto eu fiquei 10 anos fora da política, eles disputaram todas as eleições nesse período. Então, eu preciso entrar no mercado novamente”, analisa. 

De acordo com ele, a “candidatura de peso” com aval do governador Caiado também credencia o União Brasil a discutir com o PL a possibilidade de uma chapa com a indicação do vice pelo ex-presidente. “Com a saída do Gayer, a gente tem conversado com o PL, partido do qual fui líder [na Câmara dos Deputados] por oito anos e tenho essa proximidade com o Bolsonaro e com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto. Acho que a melhor opção seria andarmos juntos”, afirmou Mabel.

No entanto, Fred Rodrigues descarta a aliança e adiantou que deve manter a pré-candidatura do PL com o aval de Gayer e do ex-presidente da República. “Deste momento até o primeiro turno, o PL terá candidatura própria. Não há possibilidade de composição para que o PL seja vice de ninguém. Isso é uma vontade expressa do presidente Jair Bolsonaro”, respondeu Rodrigues.

Na esquerda, a principal adversária é a deputada federal Adriana Accorsi (PT), filha do ex-prefeito goianiense Darci Accorsi. Além da petista, o senador Vanderlan Cardoso e o prefeito Rogério Cruz estão entre os cotados para o segundo turno na capital goiana. Em 2020, Cruz foi eleito vice-prefeito, mas assumiu a administração de Goiânia após a morte do prefeito Maguito Vilela (MDB), vítima da Covid-19 no ano seguinte.

Rodrigues perdeu mandato no TSE, mas afirma que está elegível para eleição em Goiânia

Durante o anúncio da pré-candidatura de Fred Rodrigues, o ex-presidente Bolsonaro ressaltou que o ex-deputado estadual foi “injustiçado” com a perda do mandato no TSE, que indeferiu o registro do candidato à Assembleia Legislativa de Goiás nas eleições de 2022. Rodrigues conquistou a cadeira de parlamentar com 42.784 votos, sendo o mais votado na capital e o oitavo mais votado no estado.

O recurso que resultou na perda de mandato foi apresentada pela Procuradoria Regional Eleitoral de Goiás pela prestação de contas nas eleições de 2020, realizada fora do prazo pelo então candidato a vereador. O empresário, escritor e comentarista político participou pela primeira vez de um pleito eleitoral naquele ano após fazer sucesso com vídeos na internet em defesa de pautas da direita conservadora.

“Nós conseguimos reverter [a decisão], pois a própria Justiça Eleitoral reconheceu que eu não fui notificado da forma correta e no prazo correto. Eu nunca recebi a notificação da decisão contra mim e a sentença foi anulada no TRE [Tribunal Regional Eleitoral]. Com registro de candidatura concedido, eu pude tomar posse e exercer meu mandato”, recorda Rodrigues, que permaneceu na cadeira de deputado estadual até dezembro de 2023, quando teve o mandato cassado após recurso do Ministério Público Eleitoral (MPE) e do primeiro suplente Cristóvão Tormin (PRD).

Questionado sobre a situação eleitoral para a disputa à prefeitura de Goiânia, Rodrigues esclareceu que o indeferimento da candidatura em 2022 não o tornou inelegível, o que deixa o ex-deputado estadual sem impedimentos para ser confirmado como candidato do PL durante as convenções partidárias entre 20 de julho e 5 de agosto, conforme o calendário eleitoral. 

“Eu tenho a certidão de quitação desde 2022, antes mesmo de assumir [o cargo de deputado estadual]. Estou indo para o segundo ano sem nenhuma impugnação e sem nenhuma contradição levantada por ninguém. Para recorrer, o Ministério Público apresentou uma nova tese com base no erro da juíza, o que não gera inelegibilidade. Justamente por isso que eu fui cassado, mas não estou inelegível”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.    

O pré-candidato critica o TSE pela tomada de decisão em plenário virtual sem a possibilidade de sustentação oral da defesa e alega perseguição pela posição política. “Eu não fiquei refém do meu mandato. Muita gente falava para eu não me posicionar ideologicamente, não dar o título [de cidadão honorário] ao Bolsonaro e não criticar o TSE e o Supremo por causa do processo. Mas eu fiz o que fui eleito para fazer.”

No final de junho, o TSE rejeitou os embargos de declaração impetrados pela defesa de Fred Rodrigues contra a decisão do plenário, que cassou o mandato de deputado estadual.

Fonte: gazetadopovo

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