Qual o interesse da Rússia na África?
“Em torno de um terço dos países votantes na Assembleia Geral são africanos. Com isso, dentro do cenário de governança, ela [a África] se torna relevante porque os países buscam conseguir esses votos, seja para conseguir apoio na Assembleia Geral, seja para conseguir diminuir o impacto de algum tipo de sanção”, explica o especialista.
“Qual seria para os países africanos a importância de estar dentro dessa ‘disputa’ entre potências tradicionais e emergentes? É que dá a possibilidade de barganhar. Então você vai barganhar e escolher aquele que de fato é mais interessante.”
Moscou, um parceiro que ‘olha nos olhos’
“A partir de 2019, há um movimento mais acentuado visando uma aproximação estratégica para além do âmbito técnico-militar, que ainda se preserva como carro-chefe nessa dinâmica, com o acontecimento da primeira cúpula Rússia-África, que teve uma adesão maciça de líderes africanos, demonstrando que eles também vislumbram Moscou como um parceiro em potencial que os ‘olha nos olhos’ como iguais. Essa cúpula resultou em cerca de 92 acordos entre contratos e memorandos de entendimento que, juntos, somaram cerca de 1 trilhão de rublos [cerca de R$ 54,8 bilhões].”
“Os países africanos, em função da dependência desses grãos, estavam mais vulneráveis a esses movimentos. Assim, a movimentação de Moscou, ao realizar essa segunda edição, garantindo o fornecimento gratuito desses grãos, teve dois objetivos: assegurar o bom andamento das relações com os países africanos e demonstrar que a tentativa ocidental de isolar a Rússia está fracassando, especialmente ao considerarmos os países do Sul Global.”
“Mas, para além disso, ou melhor, para ilustrar esse movimento, eu posso citar a ascensão do mercado de cabos submarinos na África, um setor fundamental para o desenvolvimento das sociedades contemporâneas, que são responsáveis por cerca de 95% das comunicações globais de Internet de alta velocidade via fibra ótica, ditando, de certo modo, o ritmo de crescimento dos países da região. As outras regiões em que esse mercado está em plena ascensão são a Antártica e o Ártico.”
“Mas também posso citar outras áreas, tomando a segunda cúpula [Rússia-África], ocorrida em julho do ano passado, como exemplo. O memorando desse encontro foi bastante extenso, com uma agenda que ia da promoção de mecanismos de cooperação política, no contexto da ONU, ao fortalecimento de diálogos interparlamentares entre congressistas russos e representantes de países africanos; uma vasta agenda de cooperação econômica, com o apoio russo ao ingresso da União Africana no G20, mas também uma gama de acordos de cooperação em áreas como esporte, educação, cultura, saúde, pesquisa acadêmica, além da área ambiental, uma questão extremamente relevante e importante no contexto global.”
Qual a contribuição da África na busca pelo multilateralismo?
Fonte: sputniknewsbrasil