Depois de sete anos, a Mitsubishi está de volta ao Rally dos Sertões com uma equipe oficial. E o retorno será em grande estilo, tendo como piloto Guiga Spinelli, pentacampeão da competição e maior vencedor entre os carros.
VEJA TAMBÉM
Antes de embarcar para Petrolina (PE), Spinelli e a Mitsubishi convidaram a Autoesporte para conhecer a L200 Triton Sport Racing e dar uma voltinha (de passageiro) na versão mais extrema da caminhonete.
Nem é preciso um olhar tão atento para descobrir que a picape de Spinelli não é como as que são vendidas nas concessionárias Mitsubishi.
A versão de corrida é, na verdade, um chassi tubular desenvolvido para competições coberto por uma bolha de fibra de carbono com o desenho da L200. A produção não é em Catalão (GO), mas sim na África do Sul, pela WCT Engineering, empresa especializada na construção de carros de rali.
Mas essa L200 tem outros carimbos no passaporte. As placas são da Alemanha e o navegador Paulo Fiuza, que estará ao lado de Spinelli nos Sertões, é português. A picape inclusive estava na Europa quando a fabricante e o piloto selaram o acordo para o retorno às competições no Brasil.
Ainda que as proporções sejam parecidas, as dimensões mudam bastante. São 18 cm adicionais na largura, cravada em 2 metros. Por outro lado, o carro de rali é 43 cm mais curto, com 4,57 m de comprimento. Mas o entre-eixos é só 10 cm menor, ficando em 2,90 m.
Olhando de trás, a caçamba é fake – além de ser mais curta, possui apenas as laterais. Não há assoalho. No lugar, acomoda a engenhosa estrutura tubular e parte do arranjo da suspensão traseira (falaremos dela mais tarde). Ainda assim, o peso total é só 40 kg mais baixo que o de uma L200 Triton HPE – 1.850 kg.
As diferenças seguem. Talvez a mais curiosa delas seja exatamente o que move essa picape. Em vez de um motor 2.4 turbodiesel das versões convencionais, a L200 Sport Racing tem instalado logo após o eixo dianteiro um V8 5.0 aspirado a gasolina… feito pela Ford. Achou a configuração do motor sugestiva? Pois esse é exatamente o Coyote que equipa Mustang e F-150. A máxima é de 190 km/h. Parece pouco? Imagine estar em uma estrada de terra nessa velocidade…
No caso da L200, como a Fia exige um restritor do fluxo de ar de 37 mm, a potência é de “apenas” 420 cv, gerenciados por um câmbio manual sequencial de seis marchas. A tração, claro, é 4×4 e pode ser ajustada por dois diferenciais. Segundo Spinelli, o consumo médio durante as competições é de aproximadamente 1,7 km/l.
Nos Sertões de 2023, o maior deslocamento diário será de 673 km, dentro do estado do Ceará. Até por isso, o tanque precisa ser generoso. O compartimento de 480 litros é instalado onde seriam os bancos traseiros.
Abrindo as portas dianteiras, logo abaixo do assoalho é possível ver dois estepes – um de cada lado. No painel das portas, nichos para planilhas de navegação, ferramentas e outros acessórios indispensáveis em um rali.
Chegou a hora de dar uma volta com Spinelli. O circuito de terra solta da Fazenda Velocitta, no interior de São Paulo é o centro de treinamento do experiente piloto. O macacão apertado mostra que estou fora de forma. Faço um certo contorcionismo para me encaixar no banco do tipo concha e logo um mecânico da equipe Spinelli chega para prender o cinto de cinco pontos. É impossível movimentar os ombros ou virar muito o pescoço. Minutos depois, agradeço por estar tão preso.
Spinelli engata a primeira e deixamos a estrutura de apoio. Nos primeiros 600 metros, zona de restrição de velocidade. A largada do trecho de 5 km é no meio de algumas árvores, em subida e com uma série de curvas fechadas – características que fariam qualquer um guiar com cuidado redobrado.
Só não estou com mais calor porque há um sistema de ventilação forçada.
Luz verde. A L200 dispara ignorando todas as adversidades possíveis. Logo a mata fica para trás, a estrada se torna larga e as curvas ficam mais abertas. Um convite para Spinelli colocar a picape de lado. Ensaio pegar o celular e começar a gravar, mas logo sou convencido por mim mesmo que essa não é uma boa ideia.
Quando surge a primeira reta (em descida) vejo dois calombos na pista. São as chamadas lombas. Estamos a mais de 120 km/h e torço para que o pouso após o salto seja minimamente suave pelo bem da minha coluna operada há poucos meses.
A picape salta e se inclina levemente para baixo. Os oito amortecedores (sim, há dois por roda) cumprem o trabalho exemplarmente e a aterrisagem é relativamente suave, considerando a velocidade e o terreno. Um novo salto e logo os olhos de pânico dão lugar a um sorriso em meu rosto.
Dali em diante, é só seguir admirando o talento de Spinelli e a obediência da picape, que vai exatamente onde o piloto manda.
Certamente o desafio nos oito dias, oito etapas e 3.800 km dos Sertões será maior do que essa pequena amostra que tivemos. Mas a preparação da equipe, a habilidade do piloto e a engenharia presente nessa L200 serão mais do que suficientes para concluir a prova com sucesso.
O Rally dos Sertões 2023 começa na próxima sexta-feira (11), com 2.080 km de especiais, 3.800 km de deslocamento total e logística diferente dos anos anteriores. Veja abaixo:
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Fonte: direitonews