“Essa lógica tem se mantido intacta, e o que provoca não é o fim do narcotráfico, mas sua depuração, seu aperfeiçoamento, por um lado, e, em segundo lugar, o seu deslocamento”, explica o professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) Thiago Rodrigues.
“Um exemplo fatídico de tal realidade é a participação do Departamento de Defesa dos EUA e dos militares dentro da estratégia de segurança que abarca a região“, exemplifica a pesquisadora.
“As intervenções dos EUA na América Latina que são legitimadas em discursos desse tipo, em muitos dos casos, possuem interesses voltados ao controle e influência sobre territórios geoestratégicos”, argumenta.
“Os países do Sul Global são os que mais produzem para os países do Norte manterem seu padrão de consumo de ilícitos. Essa guerra também incentiva o mercado de armas e equipamentos bélicos – a guerra é lucrativa uma vez que incentiva essa indústria e esse mercado”, salienta.
“Quando uma região ou um país de grande atividade narcotraficante passa a ter suas atividades dificultadas pela intensidade da repressão, essas atividades econômicas tendem a mudar de país ou de região”, explica Rodrigues.
Superencarceramento e crime organizado: faces da mesma moeda
“Na América Latina, por meio da influência dos EUA, o que se observa é um processo de enrijecimento das políticas para os sistemas penais no continente, que tem relação direta com o aumento da população carcerária e prisão em massa de consumidores, e não de traficantes alinhados ao crime organizado transnacional”, destaca ela.
“Os grandes empresários, lavadores de dinheiro, os operadores do sistema financeiro internacional, essas pessoas sequer aparecem. São geralmente brancas, vivem em bairros de luxo e operam o grande sistema financeiro internacional, que não é operado, obviamente, por um rapaz pobre, semianalfabeto, de favela”, expõe o professor.
Ações conjuntas e mudança radical na metodologia e na ideologia
“Prender menos, dar alternativas de profissionalização para esses jovens que são pegos em confronto com a lei, em vez de encarcerá-los em penitenciárias que vão ser verdadeiras escolas do crime”, pondera o catedrático da UFF.
Fonte: sputniknewsbrasil