O presidente russo Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong-un assinaram um Acordo de Parceria Estratégica Abrangente que visa servir de roteiro para a futura cooperação bilateral em todas as esferas.
O documento sobre parceria abrangente prevê, entre outras coisas, assistência militar mútua em caso de agressão contra um dos participantes, disse Putin aos jornalistas após as conversações presenciais com Kim nesta quarta-feira.
O líder russo também denunciou o “regime de restrições indefinidas” imposto à Coreia do Norte pelo Conselho de Segurança da ONU (CSNU), que inclui um embargo de armas, como “orquestrado pelos EUA”, e apelou à sua revisão. As negociações Putin-Kim ocorreram como parte da visita do presidente russo à Coreia do Norte, de 18 a 19 de junho.
‘Mudança total no paradigma regional’
A cláusula do acordo de parceria abrangente Rússia-Coreia do Norte sobre ajuda militar estipula relações aliadas entre os dois, disse o professor de política internacional na Universidade Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, Artyom Lukin, à Sputnik.
“As implicações da assinatura do acordo ainda não foram [totalmente] avaliadas, porque isso significa uma mudança completa de paradigma na península coreana [e] no nordeste da Ásia “, disse Lukin. Ele lembrou ainda que, neste momento, apenas os EUA têm alianças político-militares de pleno direito na região, incluindo aquelas com o Japão e a Coreia do Sul.
O fato de a Rússia ter assinado o Acordo de Parceria Estratégica Abrangente com a Coreia do Norte implica que “uma situação completamente diferente está agora se moldando na península coreana, e que uma aliança [militar] russa [e norte-coreana] apareceu no nordeste da Ásia“, de acordo com Lukin.
“Isso é algo muito significativo, mesmo tendo como pano de fundo o que está acontecendo atualmente no mundo. A aliança Rússia-Coreia do Norte representa um desafio direto à hegemonia político-militar dos EUA na Ásia e no Pacífico, especificamente, no nordeste da Ásia, que é a parte principal da região”, observou o analista.
No que diz respeito às sanções anti-Coreia do Norte do CSNU, Lukin sublinhou que “certamente, existem formas de evitar que essas restrições interfiram na colaboração Moscou-Pyongyang“.
Falando à Sputnik, o dr. Victor Teo, cientista político especializado em relações internacionais na região do Indo-Pacífico, disse que a proposta de Putin de rever as sanções à Coreia do Norte na ONU “é, obviamente, compreensível à luz desse acordo”.
“O problema, no entanto, é que isso é provavelmente mais fácil de dizer do que fazer porque as alterações provavelmente terão de ser ratificadas pelos outros membros [do CSNU], uns dos quais são os Estados Unidos”, acrescentou o especialista.
Ele descreveu a assinatura do acordo por Putin e Kim como “um desenvolvimento político e estratégico significativo porque efetivamente liga mais estreitamente a segurança europeia à segurança asiática no sentido formal”.
“A República Popular Democrática da Coreia [RPDC] seria obrigada a ajudar a Rússia a se defender caso a Rússia entrasse em conflito com os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]; tal como a Rússia seria obrigada a ajudar Pyongyang se a Coreia do Norte entrasse em conflito com os EUA e a Coreia do Sul”, sublinhou Teo.
Visita de Putin à Coreia do Norte reflete ineficiência das sanções
O professor Joe Siracusa, cientista político e chefe do departamento de futuros globais na Universidade Curtin da Austrália, por sua vez, concentrou-se nas implicações políticas da visita de Putin à Coreia do Norte. Em entrevista à Sputnik, ele disse que o presidente russo “está dizendo aos norte-americanos e aos outros [aliados de Washington]” que o seu país “não foi isolado nem por sanções [ocidentais] nem por outras coisas“.
“De qualquer forma, acho que Putin está mostrando que as sanções não funcionam. Quando ele faz isso, ele demonstra ao mundo que existe um universo alternativo lá fora. Não é um sistema baseado em regras determinado em Washington e Londres, há um sistema baseado em regras que evolui organicamente para além deste habitual corredor de poder, penso que é uma conquista muito saudável nesse sentido”, disse Siracusa.
A atual visita de Putin é “um negócio normal de uma nação”, segundo o cientista político.
“Existe uma fronteira comum com a Coreia do Norte. Foram as tropas russas que libertaram a Coreia em 1945 e apoiaram os norte-coreanos na sua guerra civil contra os sul-coreanos. A Rússia tem uma longa história de relações econômicas e de segurança com a Coreia do Norte. Penso que é [um movimento] normal”, enfatizou Siracusa.
No geral, a visita de Estado do líder russo à Coreia do Norte foi muito impressionante, avaliou o especialista, apontando para o fato de Putin “ter recebido o tratamento de tapete vermelho” e que “o presidente Kim veio até o avião para recebê-lo”.
O analista rejeitou as alegações da elite política e de política externa norte-americana de que a Rússia e a Coreia do Norte são “criminosos” que representam uma ameaça ao Ocidente como sendo “absolutamente falsas”.
“Esse é o tipo de fábrica de propaganda que acontece em Washington, com a grande mídia tocando uma espécie de coro grego para a elite política norte-americana“, concluiu Siracusa.
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Fonte: sputniknewsbrasil