Análise: Reino Unido estreita laços com Brasil e Chile mirando terras raras e relevância geopolítica


O Reino Unido está ampliando a presença na América do Sul, estreitando laços com Brasil e Chile, unindo comércio e defesa. A aposta inclui cooperação naval, segurança cibernética e inteligência marítima.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas apontam que essa aliança pode conectar o Atlântico Sul ao Indo-Pacífico e servir como pilar da estratégia britânica pós-Brexit.
Marcos Figueiredo, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que a aproximação do Reino Unido com Brasil e Chile é uma estratégia britânica que visa redefinir a política externa do Reino Unido no mundo após sua saída da União Europeia (UE). Ele explica que o Reino Unido está tentando se situar como ator relevante e integrado, do ponto de vista econômico e político.
“Outro aspecto muito importante […] é uma cisão dentro do bloco ocidental, clara, em relação aos países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], e consequentemente uma necessidade de os países europeus buscarem sua autossuficiência, independentemente de Washington, o que vai fazer com que o Reino Unido busque, com certeza, diversificar parcerias mundo afora, colocando os seus tentáculos em diferentes regiões do mundo.”
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Nesse contexto, Figueiredo afirma que a América do Sul é muito relevante, do ponto de vista econômico, e cita as reservas de petróleo que existem na região. Além disso, há a questão da rica biodiversidade e o fato de o Chile ter toda uma costa voltada para o oceano Pacífico, enquanto o Brasil tem toda uma costa voltada para o Atlântico.

“Essa tríade entre Reino Unido, Brasil e Chile mostra também a exclusão de um antigo rival do Reino Unido, que é a Argentina, por causa da questão das Malvinas ou Falklands”, explica.

De acordo com o analista, o Reino Unido tem percebido um “declínio bastante expressivo”, iniciado após o Brexit e agravado pela ascensão e pelo retorno de Trump à presidência dos EUA, e em sua busca pela reinserção no cenário internacional ao tentar firmar novas parcerias com países que potencialmente podem ser úteis.
“Nesse sentido, os tentáculos que vão para além da Europa, principalmente quando a gente está se referindo a um ator da magnitude do Brasil, e, por outro lado, o Chile, que é um país-chave por ser voltado para o Pacífico, creio que o objetivo do Reino Unido não seja ajudar esses dois países periféricos, mas tentar cooperar e tentar tirar proveito da posição deles em conjunto.”
Figueiredo afirma que o Brasil é um ator muito relevante para o Reino Unido, em decorrência da produção de armas, por ter um papel relevante militar, a nível regional e mundial.
“Tanto que, no caso específico, uma das maiores empresas de armas da região é a própria Embraer. O Brasil tem uma participação muito expressiva na venda de aviões militares. Então é muito importante que haja toda uma cooperação, do ponto de vista da produção de armamentos, e, também, no caso da construção de uma defesa que se projete no oceano Pacífico em relação a uma China que está em ascensão e questionando o sistema internacional”, relata.
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Entretanto, ele afirma ainda que não é do interesse britânico fazer um contrapeso direto em relação à China na região, pois “essa função cabe mais aos EUA”. Segundo o especialista, trata-se mais de uma questão de sobrevivência por parte do Reino Unido, com “uma postura muito mais defensiva do que ofensiva”.

“O que acontece com o Reino Unido é que, como uma potência significativa, […] que tem assento permanente no Conselho de Segurança com direito a veto, que tem armas nucleares, uma potência muito relevante, mas não é uma superpotência como a China e os EUA, o que ele está fazendo é redefinir a sua posição para garantir a sua segurança, a sua sobrevivência, independentemente de Washington.”

Para Adriano Cerqueira, professor de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, Brasil e Chile foram escolhidos pelo Reino Unido por uma questão histórica e pela “possibilidade de construir parcerias”.

“Até no fornecimento de embarcações, a questão dessa transição do Atlântico para o Pacífico pelo Sul. O estreito de Magalhães é uma rota muito usada para fazer esse fluxo de navios e embarcações, e é o estreito do qual o Chile tem a soberania e é pertinho das Falklands ou Malvinas, né?”

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Ele informa que há interesse britânico em explorar as reservas estratégicas de minerais como o lítio, no Chile, e o nióbio, no Brasil.
“A questão da mineração é um ponto que é histórico. A presença britânica aqui no Brasil, inclusive aqui em Minas Gerais, você tem a presença de empresas britânicas que têm atuado nesse sentido. Essa discussão está se tornando mais conhecida ultimamente, as chamadas terras raras, porque são muito importantes na questão de alta tecnologia, na questão cibernética também.”
O especialista também aponta o fato de que Brasil e Chile são países com costas voltadas para o oceano. O Brasil pode tirar proveito da expertise britânica em segurança e controle costeiro em uma época de crescente interesse na exploração de recursos.

“Tanto o Brasil quanto o Chile têm interesse em ter o maior controle além-mar das suas costas. Você tem todo um potencial de exploração de recursos naturais de minerais também. […] Então você tem toda uma preocupação de exploração desses recursos. E aí a Inglaterra, com a expertise que ela tem marítima, com equipamento, o avanço tecnológico, treinamento de pessoal, pode ser um grande parceiro para o Brasil.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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