“Uma coisa é que o Brasil peça [a extradição], outra é que haja já um processo, uma condenação. É difícil pedir extradição se não há uma causa judicial ou um alerta de algum tipo. Também não temos nenhuma lista [de brasileiros]. Por enquanto, isso se mantém como uma propaganda”, disse a ministra.
“Diana Mondino vem negociando nos bastidores, tentando aparar as arestas desses conflitos ou atritos pessoais que vêm, em grande parte, do presidente Milei, e ela já ventilou até a possibilidade de encontro entre os dois presidentes, o que não está ainda na agenda e não sabemos se vai acontecer de fato. Provavelmente, agora, os dois presidentes devem participar da reunião do G7. Mas, então, é importante entender que tem muita coisa em jogo”, afirma.
“Pode ser que Milei tenha interesse em criar esse problema, porque, por um lado, ele tenta se comunicar com os meios empresariais brasileiros, e não com o governo, e tenta criar uma certa celeuma em relação a isso, que tem sido comprada por setores liberais que não são bolsonaristas, mas que têm interesse em fragilizar o governo Lula.”
“Até que ponto os argentinos vão comprar essa briga depende muito da resposta que vai haver do Brasil de um modo geral, do Congresso. Mas eles sempre estão agindo de modo a fustigar o governo, a tentar enfraquecer a autoridade de Lula em uma estratégia de longo prazo, que é mais ou menos o que eles estão fazendo também na Espanha. Para obrigar que o governo brasileiro tome alguma decisão precipitada e fique isolado dentro do próprio Congresso, em relação à própria mídia. Esse é o plano”, complementa.
Caso pode auxiliar Milei a mobilizar seu eleitorado
“Ele vai mobilizar a sua base, que precisa ser constantemente mobilizada a partir do seu discurso, já que até agora não tem grandes resultados do ponto de vista prático, apesar da inflação ter sido reduzida. […] a pobreza vem aumentando, ou seja, até agora não tem resultados práticos para a vida da população. Então é preciso continuar mobilizando, mobilizar discursivamente essa base de apoio, e também estreitar esses laços com as lideranças da extrema-direita.”
“São cidadãos anônimos que não têm grande poder político, então não me parece que seria interessante comprar uma briga por pessoas que não têm grande influência política. Além disso, ele [Milei] teria que comprar briga também com a burocracia, já que esses pedidos de asilo são analisados pelo Comitê Nacional de Refugiados, o Conare, e teria que comprar essa briga institucional, que não sei se seria também fácil conseguir, e se seria benéfico para ele do ponto de vista da imagem.”
“Tem uma pesquisa que foi feita no início deste ano, pelo Instituto Atlas Intel, que mostra que 74,2% dos brasileiros discordam da atuação dos manifestantes que ocuparam o Congresso Nacional e tentaram dar o golpe de Estado. Então me parece que mesmo no campo da direita há setores que não apoiam esse tipo de manifestação violenta e criminosa. Logo, não me parece que o fato de o governo argentino dar ou não asilo a essas pessoas possa ter grandes repercussões nas eleições municipais”, conclui o especialista.

Fonte: sputniknewsbrasil