“Há um processo acelerado de desmonte do estado de bem-estar social europeu. Isso tende a gerar mais crises populares, revoltas, e, inclusive, ascensão de partidos de extrema-direita que são céticos ao processo de integração europeia, alguns deles mesmos céticos em relação ao papel da OTAN.”
“Hoje é a Ucrânia, amanhã é a Polônia, os países bálticos, Alemanha, França… Enfim, se criou todo um discurso de legitimação, de aumento do orçamento de defesa, justamente em função dessa ideia de que a Rússia invadiria países europeus ao longo dos anos.”
“Quem teria condição, hoje, de suprir essas necessidades [militares] são pouquíssimos países dentro da OTAN. […] É sempre este o plano: os Estados Unidos, na OTAN, serem um grande fornecedor de equipamento militar.”
“Talvez 5% [do PIB] seja algo muito sério, muito grave, em termos financeiros. Talvez eles consigam chegar ali aos 2% da meta anterior, passar até 3%, mas 5%, não sei se é uma meta realmente atingível para a maioria dos membros. Para os EUA, isso tende a ser algo viável e interessante, mas às custas dos outros países.”
EUA são os grandes vencedores na briga da OTAN
“O resgate dessa indústria vai custar bilhões de investimentos, vai demandar um longo tempo para os europeus. […] Acho difícil que os países europeus consigam se equiparar militarmente sem um apoio massivo dos EUA. Só que me parece que os EUA não estão diretamente interessados em fazer esse apoio no momento, ainda mais agora, sob o controle do governo Trump.”
“Os EUA precisam recondicionar esses recursos que iam antes para a Europa ou para os parceiros europeus para enfrentar a ameaça chinesa e recondicionar esses recursos para o Sudeste Asiático. […] [Trump] procura equiparação tecnológica e militar em relação à China.”
O que faz Rússia e OTAN irem em sentidos opostos?
“A OTAN vem pressionando a Rússia, vem se posicionando de maneira ameaçadora ao território russo. Se a Rússia fizesse isso, por exemplo, […] se ela colocasse equipamentos militares no Canadá ou México, os EUA se sentiriam pressionados e ameaçados, mas eles não veem isso como uma ameaça à Rússia. Um discurso muito bonito para o Ocidente.”
“O que a Rússia pode planejar pode talvez mirar em um futuro não muito distante. É realmente a exportação desses equipamentos militares para países que estejam não alinhados ao Ocidente ou com dificuldades de acessar equipamentos mais modernos.”
“A partir de 2014, todo o redirecionamento da economia para a China, para países asiáticos, para os países do Sul Global, como a gente pode observar, tem gerado resultados positivos para a economia. A economia russa vem crescendo significativamente, apesar das sanções.”
“Não creio que consigam [estabelecer uma indústria militar] de uma maneira tão séria e tão rápida como eles desejam, e, logicamente, pode ser, talvez, a tentativa de um último suspiro da hegemonia ocidental frente a uma ascensão russo-chinesa.”
Fonte: sputniknewsbrasil