“O interesse nesta associação global é muito, muito alto e continua a crescer. Não são apenas Argélia, Argentina, Irã. Na verdade existem mais de uma dúzia de países”, enfatizou o ministro russo.
Aos números
A gênese do sistema internacional multipolar
Segundo ele, quanto mais países aderirem ao BRICS ou ao discurso promovido pelo BRICS, “mais o mundo será composto por Estados reunidos em torno da necessidade de um sistema internacional multipolar, sem qualquer forma de domínio por parte de uma superpotência e com a política global sendo definida por diferentes centros de influência econômica, política e civilizacional”.
“Podemos esperar um enfraquecimento da influência e da liderança ocidental (capitaneada por Estados Unidos e Europa) em âmbito global e uma maior resistência de diferentes civilizações, como é o caso da chinesa, indiana, africana, latino-americana, russa e do próprio mundo muçulmano. Não será exatamente um choque de civilizações, como escreveu Samuel Huntington [cientista político norte-americano], mas sim uma disputa pela preservação da pluridade de sistemas de valores, de organizações sociais e de regimes políticos nas relações internacionais. No limite, talvez estejamos falando aqui de uma tentativa de ‘liderança coletiva’ (por mais paradoxal que esse termo possa parecer) dessas civilizações representadas no BRICS em contraponto aos anseios homogeneizantes das nações ricas da Europa Ocidental e da América do Norte”, ponderou Bezerra.
“A reação do Ocidente pode se dar em torno de dificultar as reformas necessárias em mecanismos tradicionais de governança global, como é o caso do Banco Mundial e do FMI, assim como na atuação por meio do G7, no sentido de manter-se como o ‘clube’ de países responsáveis por definir a agenda econômica global, contrariamente às intenções do BRICS. Da parte dos americanos, podemos esperar movimentos de reafirmação de seu assim chamado ‘excepcionalismo’ e de críticas aos países do BRICS (sobretudo Rússia e China) no que se refere a seus sistemas políticos ou mesmo questões referentes a direitos humanos, com uso de sanções periódicas por parte de Washington àqueles países que não seguirem os seus ditames políticos”, aponta o pesquisador.
“A partir do momento em que não existe uma espécie de unipolaridade (não existe nenhum país hegemônico em todos os aspectos, seja na economia, na política, na cultura, na [área] militar, que sozinho concentre essas hegemonias), já podemos dizer que vivemos uma ordem global multipolar com desigualdades importantes entre os polos, mas multipolar. Há os EUA como a maior potência militar, mas já estão ameaçados como potência econômica e vêm sendo ameaçados pelo novo polo dinâmico na Ásia, a partir da China”, argumentou.
“Uma coisa é o Brasil no BRICS liderado por Bolsonaro. Outra completamente diferente é o Brasil liderado pelo [Luiz Inácio] Lula [da Silva], que representa o Brasil que fez parte da fundação do BRICS, do seu fortalecimento, que ajudou em toda a montagem da sua arquitetura, da estratégia de se organizar como fundo, de organizar um banco. O Lula é um ator global importante para o diálogo com países, para o diálogo com lideranças. Ele é um atrativo, ele atrai muito os outros países. Isso foi perceptível na COP27 [cúpula do clima das Nações Unidas de 2022], todos querem conversar com o Lula, todos querem cooperar com o Brasil de Lula, todos querem fazer negócios com o Brasil de Lula. Ele jogará um papel muito importante na expansão e no fortalecimento do BRICS”, apostou a socióloga.
“Essa aproximação dos EUA com Japão, Austrália, Reino Unido, além da intensificação no mar do Sul da China, com países que têm interesses contraditórios com os chineses e que podem favorecer os EUA, essas ofensivas sobre Taiwan… São reações. Inclusive a forma como vem sendo conduzido o conflito na Ucrânia pela OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e pela União Europeia são formas de reagir ao fortalecimento de outros polos.”
“Isso já é real, [está] na vida prática da formação de uma cesta de moedas. O desafio ao dólar foi acentuado pela crise com o conflito na Ucrânia, na medida em que a Rússia e o próprio Irã também, anteriormente, precisaram buscar alternativas a partir das dificuldades impostas pelas sanções e bloqueios econômicos. Já é realidade, por exemplo, no mundo euroasiático, o uso de moedas alternativas, o fortalecimento do yuan chinês. Certamente já é uma realidade para o BRICS fortalecido e amplo. Vai ser um fator importante de desafio à hegemonia do dólar”, finalizou.
Fonte: sputniknewsbrasil