A Academia Mato-Grossense de Letras elegeu três novos membros para compor o colegiado de 40 acadêmicos da Instituição e, apesar de não haver uma relação institucional da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) com o processo, os três escolhidos se juntam a tantos outros profissionais, pesquisadores, educadores ou alumni da UFMT, demonstrando o papel desta na formação cidadã, artística e no desenvolvimento cultural do estado.
Foram escolhidos para compor a Academia o Pró-reitor de Cultura, Extensão e Vivência da UFMT, maestro Fabrício Carvalho, e a professora do Instituto de Linguagens, Divanize Carbonieri, além do alumnus do curso de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO), Allan Kardec, atual Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso.
Nascido em 1974, o maestro Fabrício Carvalho conta que pisou pela primeira vez na Casa Barão de Melgaço aos 14 anos, em uma apresentação da OSUFMT – hoje regida por Fabrício, mas na época sob regência de Marcelo Bussiki.
“Eu tinha 12 anos quando entrei para a escolinha da orquestra. Aos 14 anos fizemos essa apresentação no espaço da Academia e eu fiquei com o cheiro, o perfume daquele lugar na minha memória. Lembro do piso hidráulico centenário, das cadeiras altas e da galeria de patronos, algo que me impressionou muito, mas nunca imaginei que poderia estar lá”.
Agora, próximo de completar quase 40 anos de UFMT, o menino Fabrício reflete sobre o papel da Instituição em seu desenvolvimento pessoal, profissional e artístico, permitindo que galgue esse espaço.
“Não tenho dúvida nenhuma de que minha chegada à Academia se deve à UFMT. Entrei aqui menino e tive a chance de ser acolhido por pessoas que me oportunizaram espaço para avançar na minha carreira. Sempre trabalhei muito por minhas conquistas, sempre me dediquei para fazer justiça à essas oportunidades, mas na UFMT eu encontrei pessoas como Marina Müller de Abreu Lima, João Bosco Cajueiro, Fernando Tadeu, Elba Vanja e tantos outros que, quando eu comecei, abriram caminho e falaram ‘vem!’”
Eleito, Fabrício irá assumir a cadeira de número 23 no próximo ano. Antes ela era ocupada pelo acadêmico, poeta, escritor e tradutor Tertuliano Amarilha, que faleceu em 2022 e se destacava por um vasto repertório em português, espanhol e guarani.
“A academia faz um movimento importante quando recebe músicos, como eu, em seus quadros, mostrando que as letras são um caminho complexo, variado, múltiplo para a arte. Eu escrevi um livro, escrevo artigos para a imprensa, claro, mas a minha arte é a música”
Nessa nova posição, Fabrício, que é Pró-Reitor de Cultura, Extensão e Vivência da UFMT, irá continuar trabalhando para, em suas próprias palavras, “oportunizar para a sociedade o acesso à informação”. Não apenas em relação à cultura ou à arte, mas também no que se refere à educação e ao conhecimento, que são necessários para o desenvolvimento de qualquer cidadão.
Apesar de ser professora e pesquisadora da UFMT com larga contribuição nas áreas de linguística, literatura, sociedade e identidade, Divanize Carbonieri diz que demorou para se assumir como escritora de textos ficcionais. Os textos estavam lá, é claro. Divanize escreve desde criança, conta, mas só em meados de 2015 começou a compartilhar sua arte com o mundo.
“Estudei Letras e fiz mestrado e doutorado em literatura, porque a carreira literária parecia, durante grande parte da minha vida, uma coisa distante, quase impossível de se atingir. Acabei me apaixonando também pela carreira acadêmica, o que me absorveu bastante. Mas depois de 2015, comecei a ter coragem de mostrar meus escritos para as outras pessoas e, logo, vieram o Prêmio Mato Grosso de Literatura e meu primeiro livro de poesia, que publiquei em 2017”.
Daí ela não parou mais. Além de dois livros acadêmicos, Divanize já tem dez livros de ficção publicados, entre eles “Passagem Estreita”, um dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti em 2020, feito marcante e que é reconhecido, junto do conjunto de sua obra, com essa eleição para a cadeira 17 da Academia.
Quando assumir, será a 14ª mulher no colegiado de 40, o que para ela indica um aumento da participação feminina na produção cultural e intelectual do estado. “Espero contribuir para aproximar outras mulheres da AML, assim como estudantes e o público em geral, para que possam conhecer e valorizar ainda mais a literatura mato-grossense e reconhecer a AML como um patrimônio cultural do povo deste estado”, afirmou.
Neste sentido, a professora Divanize ainda destaca a importância histórica da UFMT na valorização da literatura mato-grossense, no ensino e na pesquisa. “Acho que agora precisaríamos tornar isso mais visível para a comunidade externa. Além de eventos acadêmicos, talvez pudéssemos pensar em outros tipos de eventos que aproximassem os jovens e o público em geral da literatura, sobretudo daquela produzida no estado”, concluiu.
Fonte: ufmt