América Latina precisa reagir em conjunto em caso de golpe de Bolsonaro, diz Boric


América Latina precisa reagir em conjunto em caso de golpe de Bolsonaro, diz Boric

SÃO PAULO, SP – Em entrevista à revista americana Time publicada nesta quarta-feira (31), o presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a “América Latina tem que reagir em conjunto para impedir” o que seria um possível golpe de Estado de Jair Bolsonaro (PL). A fala foi dada em resposta a uma pergunta sobre o risco de o presidente brasileiro não aceitar o resultado da eleição em caso de derrota.

“Foi muito emocionante ver a carta de São Paulo, que reuniu 1 milhão de assinaturas em favor da democracia, com uma transversalidade de signatários. Foi um sinal potente da sociedade brasileira”, disse o político na entrevista, fazendo referência a um manifesto lido no largo São Francisco, sede da Faculdade de Direito da USP, no último dia 11.

Boric fez ainda uma comparação hipotética com o que ocorreu na Bolívia em 2019, quando Jeanine Áñez chegou ao poder com uma controversa manobra legislativa, depois de o então presidente Evo Morales ser forçado a renunciar por acusações de fraude nas eleições e pressão vinda de protestos de rua e das Forças Armadas.

Nos últimos dias, o presidente chileno virou alvo de Bolsonaro: no debate entre os candidatos à Presidência do último domingo (28) promovido por Folha, UOL e TVs Band e Cultura, o presidente acusou seu homólogo de ter “queimado metrôs” em protestos.

Na mesma ocasião, Bolsonaro atacou outros líderes de esquerda da América Latina para defender sua reeleição e atacar o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), próximo a esses políticos -vitórias eleitorais recentes desse campo aumentaram o isolamento regional do brasileiro.

A menção a Boric irritou a diplomacia chilena. “Consideramos essas acusações gravíssimas. Lamentamos que em um contexto eleitoral as relações bilaterais sejam aproveitadas e polarizadas por meio da desinformação e de notícias falsas”, disse a chanceler Antonia Urrejola na segunda (29).

Com origem na política estudantil, Boric ganhou projeção política ao participar dos protestos de 2011 pela gratuidade do sistema de ensino superior e foi eleito deputado pela primeira vez em 2014. Em outra onda de protestos, em 2019 -na qual o transporte público da capital chilena foi vandalizado, como citado por Bolsonaro-, o atual presidente do Chile não foi parte do movimento.

Ele, porém, apoiou as reivindicações dos manifestantes e foi um dos líderes responsáveis pelo acordo que abriu as portas para o plebiscito da Constituinte.

Após a fala de Bolsonaro, o Chile convocou para consultas o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco. A chancelaria também destacou que Boric já manifestou ter diferenças com seu homólogo, mas defendeu a importância da manutenção das boas relações entre os países.

O chileno foi retratado na capa da Time, sendo chamado de “presidente millenial” em um longo perfil. A publicação americana destacou a proximidade do plebiscito para a nova Constituição afirmando que o mandatário vem sendo líder de um país em “uma espécie de crise de meia-idade”.

A publicação ainda lembra que Boric integra a onda de novos líderes de esquerda na região, com plataformas baseadas na luta contra a desigualdade social -Lula é citado como um possível reforço ao grupo-, mas com distinções em relação à maré vermelha anterior. “Acho que, como sociedade, devemos aspirar a formas de organização que vão além do capitalismo, mas não é como se eu pudesse dizer ‘o capitalismo acaba hoje’”, disse o chileno à Time.

Sobre a possível rejeição ao novo texto constitucional, Boric defendeu a realização de uma nova discussão e outra consulta posterior. “[O texto] aborda questões realmente importantes não só para o Chile, mas para o mundo. Se a rejeição acabar vencendo, o que seria legítimo, temos que manter o mandado do povo [para a substituição da Constituição anterior].”

A pouco mais de um mês do primeiro turno, Bolsonaro é um dos líderes com menor aprovação popular na América Latina. Boric também enfrenta um desafio de lutar com a baixa popularidade: ele conta com 36% de aprovação, ante 50% de quando assumiu, em março. Em parte, segundo analistas, a queda se deve à alta expectativa criada, fruto de eclosões sociais, mas também à dificuldade do jovem líder de aprovar propostas em um Congresso onde menos da metade o apoia.

Há poucos dias, o governo anunciou um pacote de ajuda para conter os efeitos da pior inflação em três décadas e do inverno rigoroso, que deve abarcar 7,5 milhões de pessoas -40% da população.

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