América Latina, mais desunida do que nunca no século XXI?


A crise diplomática entre México e Equador por conta da prisão do ex-vice-presidente Jorge Glas na embaixada mexicana e os recentes embates públicos entre vários presidentes latino-americanos, como o protagonizado pelo colombiano Gustavo Petro com o argentino Javier Milei, afastam cada vez mais a América Latina da melhor época da integração característica no início do século XXI.
Com relação à crise diplomática entre Equador e México, outros presidentes latino-americanos como Petro, Milei, Luiz Inácio Lula da Silva, o venezuelano Nicolás Maduro e até mesmo o salvadorenho Nayib Bukele não hesitaram em tornar públicas suas divergências diretas com outros líderes regionais.
“As posições ideológicas dos diferentes governos da América Latina e do Caribe, que oscilam entre a esquerda, a direita e o autodenominado centro, têm prevalecido sobre os interesses econômicos e comerciais e têm impedido que haja diálogos frutíferos para a reintegração da região”, disse o cientista político colombiano Daniel Prieto à Sputnik.
O analista considerou ainda que as diferenças entre os governos efetivamente “têm retardado os processos de integração latino-americana” que avançaram nas décadas anteriores e conspiram contra a consolidação “de um bloco regional sólido capaz de negociar em conjunto com outros grupos regionais, como o Sudeste Asiático, a União Europeia ou a América do Norte”.
Para Prieto, na última década, os diferentes presidentes latino-americanos têm dado muito mais importância “às agendas políticas internas” do que a uma agenda regional, em função dos respectivos ciclos eleitorais que enfrentam em seus países.
Segundo o especialista, episódios recentes como o ocorrido entre México e Equador ou os embates de declarações entre Petro e Milei “acabam por agravar ainda mais” a possibilidade de recuperar os processos de reintegração latino-americana e sul-americana.
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia comemorativa do Dia do Exército, no Quartel-General do Exército. Brasília, 19 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 08.04.2024

Além de gerar um “desgaste institucional” nos governos, o clima de tensão obriga, segundo Prieto, a pensar na eficácia que têm atualmente mecanismos como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) ou as próprias Nações Unidas (ONU), que deveriam mediar essas divergências.

“Esses mesmos mecanismos precisam hoje passar por uma revisão multilateral sobre o cumprimento adequado e a eficácia que estão tendo”, afirmou o cientista político.

Tentativa de Lula que não encontrou eco

Em maio de 2023, o presidente Lula convocou os presidentes sul-americanos para dar um novo impulso a mecanismos de reintegração como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), enfraquecida após vários governos do continente decidirem abandonar o bloco em 2018.
Prieto enfatizou que em seu terceiro mandato, o líder brasileiro se propôs “enviar uma mensagem regional sobre a importância de diversificar as relações internacionais, que não se restringe apenas à ONU”.
Embora tenha rejeitado que a iniciativa de Lula possa ser considerada “um fracasso”, admitiu que o presidente “se deparou com a impossibilidade de dialogar plenamente com todos os países”.
Chefes de Estado e autoridades internacionais pousam para foto oficial após a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). São Vicente e Granadinas, 1º de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024

Isso ocorreu, apontou o analista, devido aos resultados eleitorais que deram a vitória a Milei na Argentina e até mesmo as eleições na América Central que “impediram a sincronização de uma agenda regional que permitisse que tanto a CELAC quanto a Unasul pudessem ser restabelecidas nos termos de há vinte anos”.
Prieto também afirmou que “a influência dos Estados Unidos tem sido importante para que este propósito não tenha sido cumprido integralmente“, no contexto de uma intenção de Lula de incentivar os países a “questionar sua própria tradição diplomática bilateral” e se voltarem para “novas organizações multilaterais” como o BRICS.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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