Uma startup chamada Marathon Fusion, sediada em São Francisco, afirma ter descoberto um método para transformar mercúrio em ouro por meio de fusão nuclear. Essa ideia remonta à antiga alquimia, ou crisopeia, buscada por civilizações há milênios. Utilizando a liberação de nêutrons em reações de fusão, a empresa propõe a transmutação nuclear como um caminho viável para sintetizar ouro.
O artigo acadêmico da Marathon ainda não foi revisado por pares, mas já recebeu elogios de especialistas, como o físico dr. Ahmed Diallo, do laboratório nacional de Princeton. Segundo o Financial Times (FT), Diallo destacou o potencial da proposta, embora ainda esteja em fase teórica.
Criada em 2023, contando hoje com 12 funcionários, a empresa arrecadou US$ 5,9 milhões (cerca de R$ 32,8 milhões) em investimentos e mais US$ 4 milhões (mais de R$ 22,2 milhões) em subsídios governamentais. A ideia de usar fusão para transmutação de metais começou a ser explorada por eles no início de 2025. Embora já se tenha sintetizado ouro em aceleradores de partículas, os custos são elevados e as quantidades produzidas são muito pequenas.
A fusão nuclear experimental geralmente utiliza o tokamak, aparelho que aquece isótopos de hidrogênio — como deutério e trítio — até que se fundam e liberem nêutrons em grande escala. Esses nêutrons são usados para criar mais trítio em uma manta de reprodução, etapa essencial para sustentar reações futuras em usinas de fusão.
A proposta da Marathon é adicionar mercúrio-198 à manta de reprodução. Esse isótopo, ao ser bombardeado por nêutrons, se transforma em mercúrio-197, que decai naturalmente em ouro-197 — o único isótopo estável de ouro — após cerca de 64 horas. A quantidade potencial de ouro produzida seria de 5 toneladas por gigawatt de eletricidade gerada anualmente.
Segundo a startup, essa produção não comprometeria a eficiência energética da usina nem a geração de trítio. Como o valor do ouro produzido seria similar ao da eletricidade gerada, a receita da operação poderia ser dobrada. No entanto, devido à presença de mercúrio impuro, parte do ouro resultante pode ser radioativo e exigir armazenagem por até 18 anos para ser considerado seguro.
A Marathon acredita que, por ser um mercado robusto, a produção de ouro por fusão não prejudicaria seu valor comercial. Cientistas como Dan Brunner, consultor da empresa, consideram a proposta cientificamente sólida, embora desafiante de implementar em escala prática. O processo também poderia ser adaptado para criar outros metais preciosos.
Mesmo após décadas de pesquisa, nenhuma usina de fusão produziu mais energia do que consome. Ainda assim, o setor vem recebendo investimentos bilionários, com empresas como a Commonwealth planejando entregar energia até 2030. De acordo com a apuração do FT, para investidores como Malcolm Handley, a possibilidade de monetizar a fusão com ouro pode desbloquear recursos e acelerar o desenvolvimento tecnológico dessas empresas.
Fonte: sputniknewsbrasil