SUPERMERCADOS Foto Bárbara Cabral Esp. CB DA press
Leite teve a maior retração, mas preços atuais ainda superam em 101% os do início de 2019.
Os alimentos tiveram a sexta semana consecutiva de queda no índice de inflação da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), conforme dados divulgados nesta terça-feira (4).
As retrações ocorrem principalmente nos alimentos básicos, mas o ritmo de queda já perde força. No mês passado, o recuo foi de 0,22%, o menor das últimas cinco semanas.
Mesmo com as quedas recentes, os alimentos continuam pesando no bolso do consumidor, uma vez que a evolução dos preços foi muito acelerada nos últimos anos, principalmente após 2020.
Dados da Fipe, que acompanha preços semanalmente na capital paulista, indicam que os alimentos acumulam alta de 53% desde o início de 2019.
A pressão menor nas últimas semanas não deixa de ser um alívio para o consumidor de menor poder aquisitivo, uma vez que o ritmo das altas vinha sendo muito forte. O acumulado nos últimos anos e a perda de renda da população, porém, ainda deixam os alimentos fora do alcance de boa parte da população.
O café da manhã ficou mais barato em setembro. Os preços médios desses produtos, contudo, ainda estão bem distantes dos de há alguns meses. A principal queda é a do leite, que esteve 12% mais barato nos supermercados.
A Fipe mostra, porém, que, mesmo com a queda, o produto ainda acumula elevação de 37% neste ano e de 101% desde janeiro de 2019.
Os preços também caem no campo. Em setembro, o produtor recebeu 14,7% a menos pelo leite entregue à indústria. Ana Paula Negri, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) afirma que a queda ocorre, em parte, pela oferta maior de leite.
O aumento ocorreu porque os preços elevados dos últimos meses incentivaram os produtores, que produziram mais. Mas a queda ocorre também pela falta de renda da população.
A demanda, tanto de leite como dos demais derivados, após a elevação acelerada dos preços nos últimos meses, é menor, afirma a pesquisadora.
O café parou de subir e teve uma retração de 0,25% em setembro, um recuo ainda muito pequeno para um produto que acumula alta de 88% nos últimos anos.
Geada e seca prejudicaram a safra do Brasil. Como é o maior produtor mundial, e a demanda internacional não diminuiu, os preços subiram, tanto no mercado interno como no externo.
O açúcar recuou 0,13% em setembro para os consumidores paulistanos. Os preços externos saíram dos patamares altos que registravam de abril a junho. O custo interno do produto para o consumidor, porém, ainda está bastante elevado.
O pãozinho, devido à turbulência trazida ao mercado de trigo por causa da guerra da Ucrânia e da Rússia, mantém preços altos. Só neste ano, o aumento é de 17%.
O alívio também veio para os produtos consumidos no almoço, com quedas de feijão, arroz e óleo de soja. O patamar atual de preços, no entanto, está bastante elevado, inibindo o poder de compra dos consumidores.
O acompanhamento quadrissemanal da Fipe mostra uma taxa menor de redução dos alimentos no final de setembro, em relação às semanas anteriores, o que indica que o ritmo de queda está perdendo fôlego.
Óleo de soja, que caiu 5,86% em setembro —a queda era de 7,2% na primeira quadrissemana do mês— lidera os aumentos dos alimentos, acumulando 140% desde o início de 2019.
As carnes tiveram pouca variação de preços no mês passado, mas o consumidor ainda sente o patamar elevado registrado pelas proteínas nos últimos anos.
Quem comprar um quilo de acém, considerado um corte menos nobre, vai pagar 86% a mais do que no início de 2019. Se for um quilo de picanha, a alta é de 50%, percentuais apurados pela Folha, com base em dados da Fipe.
A inflação dos alimentos, que vem castigando os consumidores, não tem muito espaço para cair neste último trimestre.
O leite sai do período de entressafra, mas cereais e proteínas entram em uma fase de menor oferta interna e maior exportação.
A apuração da inflação da Fipe permite esse acompanhamento semanal porque os preços são divulgados por quadrissemana. Ou seja, a Fipe sempre compara os preços médios de 30 em 30 dias.
A primeira quadrissemana de setembro indica o período compreendido entre as três últimas de agosto, mais a primeira de setembro. Os valores médios desses 30 dias são comparados com os do período imediatamente anterior.
Já o mensal de setembro —que seria a quarta quadrissemana— compra os preços médios do mês, em relação aos do mês imediatamente anterior (Folha de S.Paulo, 5/10/22)