Depois da rodada de visitas às fiações e tecelagens em Bangladesh e Egito, e da passagem por Liverpool, na Inglaterra, para a tradicional conferência da International Cotton Association (ICA), a corretora de algodão Artigas do Brasil concluiu, no dia 18 de outubro, o terceiro e último Giro do Mercado Artigas de 2024, que começou em setembro. Na percepção da companhia, demanda global mais baixa e problemas políticos e financeiros, em alguns dos principais destinos da fibra, marcam a conjuntura no período, mas otimismo no setor persiste, assim como as oportunidades para o algodão brasileiro, especialmente no seu mais novo mercado, o Egito, que, apenas em 2023, passou a aceitar o Brasil como origem para importações de algodão.
Ao longo do ano, a Artigas esteve três vezes em Bangladesh, e uma vez no Paquistão, na Turquia e no Egito. Na agenda dos sócios da companhia, uma nova parada tem data para acontecer, em San Diego (EUA), de 11 a 13 de novembro, no COTTON USA™ Summit 2024. O Summit reúne os players da indústria têxtil e da produção de algodão de todo o mundo.
De acordo com Danny Van Namen, sócio da corretora e interface da Artigas, sobretudo, para o mercado asiático e Egito, a atuação da corretora se destaca no mercado internacional de algodão por seu envolvimento direto com os principais players, tanto na origem quanto no destino. “Somos agentes internacionais com presença em Bangladesh, Paquistão, Turquia, Egito, Europa e México. Nosso diferencial é conhecer de perto as pessoas com quem negociamos e fornecer nosso ponto de vista para as fiações, no mundo, e para os agricultores, no Brasil, ajudando-os a tomar decisões baseadas em uma visão clara e imparcial do mercado,” explicou, lembrando que no Brasil, a corretora mantém uma intensa agenda de visitas aos produtores de algodão, nas principais regiões de cultivo da fibra, como Mato Grosso e Bahia.
Bangladesh
Se na visita de maio a Bangladesh a situação era delicada para as fiações – com falta de dólares para abrir as Cartas de Crédito, altos custos de energia e inconstância no fornecimento –, em setembro, a situação era ainda pior, já que, no mês anterior, o país enfrentou uma grave crise política, que começou com um movimento estudantil e culminou com a fuga e renúncia da Primeira-Ministra Sheikh Hasina, que esteve no poder por 15 anos. Apesar disso, Van Namen diz ter percebido um “otimismo” na indústria local, com a instalação do governo provisório, liderado pelo Nobel da Paz Muhammad Yunus.
“A situação financeira é difícil, mas uma certa positividade ainda persiste. Assim que os problemas bancários forem resolvidos, acredito que as coisas possam mudar” comentou. Segundo Van Namen, as fiações do país continuam operando com alguma margem de lucro, e as cadeias de suprimento estão sem estoques, o que gera uma pressão de compra. “Os pipelines estão vazios. Eles precisam comprar”, destacou, reforçando a importância crescente do algodão brasileiro na indústria bengali.
Egito: novo e promissor mercado
No mais recente mercado para o algodão brasileiro, o Egito, a visita da Artigas foi de apresentação mútua. Ciceroneado pelo trader Mahmoud El Sayed, da empresa DMT – com quem a Artigas do Brasil tem parceria de exclusividade para o algodão brasileiro–, Van Namen visitou diversas fiações, sobretudo de famílias oriundas da Síria, que deixaram o país por causa da guerra. Segundo conta, o Egito enfrentou desafios econômicos em 2023, incluindo crises de energia e alimentos, agravadas pelos conflitos entre Rússia e Ucrânia, além de tensões no Mar Vermelho e dos reflexos das interrupções causadas pela pandemia.
O Egito é conhecido como o estado da arte quando se fala de algodão, mas o produto deles não fica no mercado local. Para abastecer a sua própria indústria, o país precisa importar. “A grande fonte de suprimento era a Grécia, mas as fiações estão desapontadas com o algodão grego, pela qualidade e instabilidade no fornecimento”, pondera Van Namen, que vê grandes possibilidades para o algodão do Brasil. “As fiações estão verdadeiramente considerando o Brasil como origem e os primeiros embarques estão chegando. Esse é um momento estratégico para o país mostrar seu valor, e o trabalho precisa ser impecável, tanto na oferta do produto, quanto nas negociações, para aumentar sua participação no consumo local. Novos projetos de fiação também estão em andamento, com a expectativa de dobrar o consumo de algodão nos próximos três a cinco anos”, considera.
Cooperação futura
Para o industrial Mahmoud Ballalo, da Indigo Mills e KB Denim, a mudança na legislação que aprovou as importações de algodão do Brasil foi oportuna. “Decidimos testar o algodão do Brasil porque estamos em busca de consistência na qualidade e rastreabilidade. Acredito que o algodão brasileiro pode atender perfeitamente às nossas necessidades, pois, na nossa linha de produção, uma fibra de média a curta já é suficiente, principalmente, para a fabricação de malharia e denim. Fiquei bastante impressionado com o conhecimento de mercado compartilhado pela equipe da Artigas, pela forma como nos forneceram informações cruciais sobre o cenário global e as previsões econômicas. Isso definitivamente nos ajudará a tomar decisões mais assertivas sobre o que comprar e quando comprar”, afirmou.
Já Mohamed Koudsi, da Koudsitex, e também sócio da KB Denim, afirmou: “Estamos muito impressionados com a primeira reunião com a equipe da Artigas e confio na cooperação futura, graças ao vasto conhecimento que vocês demonstraram. Estamos otimistas de que o algodão brasileiro será o futuro para nós, com grandes expectativas de que mais de 80% de nossas necessidades serão supridas por essa origem. Já começamos a importar, e temos de 2.000 a 2.500 toneladas previstas para os próximos meses. Acreditamos que a Artigas será um dos nossos principais fornecedores no longo prazo”, antecipou.
ICA de volta a Liverpool
Finalizando esta etapa da expedição, a Artigas esteve presente na ICA Trade Event, que este ano voltou às origens, Liverpool, berço de uma das mais antigas e tradicionais instituições do algodão, a International Cotton Association (ICA). O evento reúne todos os elos da cadeia produtiva e têxtil do algodão, e culmina o jantar anual, do qual participaram mais de 500 pessoas. Além dos painéis da conferência, a Artigas, os três sócios da corretora, Josep Artigas, Paulo Artigas e Danny Van Namen, participaram do Cotton Brazil Luncheon, realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de algodão.
Para a Paulo Artigas, a conferência da ICA, realizada em Liverpool, é uma plataforma estratégica para discutir as dinâmicas globais do mercado de algodão, e, principalmente, um importante vetor de networking. “Para nós, é muito importante estar presentes, não apenas na conferência da ICA, quanto nos outros grandes eventos do algodão no Brasil e no mundo. O mercado sabe e espera que estejamos lá, marcando presença e compartilhando nossas ideias. Mas esse contato cara a cara não se resume aos eventos, e é construído dia a dia, inclusive por telefone. Isso tem permitido à Artigas do Brasil se consolidar, na origem e no destino”, conclui Paulo.
Fonte: noticiasagricolas