“Eu acho que esse rompimento é, sim, um marco. A gente fala muito utilizando a categoria do neocolonialismo, que é uma categoria apunhada pelo Kwame Nkrumah, que foi o primeiro presidente de Gana, exatamente para descrever essa situação em que após a descolonização, a independência e a libertação nacional dos países africanos, aquela relação de tipo colonial, uma relação similar à que tinha na época de colonização, ela é realizada pelas antigas potências colonizadoras através de amarras um pouco mais soltas, sem relação colonial propriamente dita, mas que conseguem manter o seu objetivo de manter a exploração dos povos africanos e das outras nações colonizadas”, destacou Gissoni.
“O urânio é muito importante porque a França tem 56 reatores em funcionamento em 18 centrais nucleares e grande parte da energia francesa é a partir da matriz nuclear. Então, ela, nos anos 2000, parou de produzir no próprio território francês o urânio e vem se abastecendo a partir de vários fornecedores”, pontuou.
Implicações geopolíticas e a complexa dinâmica entre Norte e Sul
“A Rússia, nesse contexto, aparece como um aliado importante, assim como a China também, dos povos que buscam se desvencilhar da opressão neocolonial e do imperialismo”, explicou.
Desafios e perspectivas para o continente africano
“O que perpassa esse conflito é a questão das multinacionais que estão explorando o ouro, o rubi e o gás natural. Então, infelizmente, até um comentário que se faz na área de estudos africanos é que quando se descobre riquezas na África, coitado do povo que mora sob, em cima ou ao lado dessas riquezas”, detalhou.
“Quando observamos cada conflito que acontece na África e no mundo hoje, ele, para o olhar do Papa Francisco, é uma terceira guerra mundial que se desenha, de forma muito trágica, obviamente, nos espaços onde ela ocorre. A continuidade dos conflitos do Congo e da República Centro-Africana, com o aumento cada vez mais da tragédia humanitária e, pior, do total silenciamento ou de uma visão muito superficial desses conflitos, porque, infelizmente, foram banalizados”, sublinha.
África e BRICS
“Acredito que isso possa ser importante porque são países, a despeito de toda a questão econômica, de querer também ter liderança continental, são países também que podem pontuar os problemas graves de descartes de população e de relações brutais de exploração que essas empresas internacionais têm, países que têm sistemas de governo com muitos casos de corrupção e desvio e uma forte desigualdade social”, analisa.
“Porque, ao fazer isso, todos lucram e todos crescem com isso. É a esperança”, ressaltou a professora Teixeira.
Os especialistas concordam no fato de o caminho a ser percorrido ainda ser incerto, mas a discussão revela um otimismo cauteloso diante das complexidades e desafios que se apresentam.
Fonte: sputniknewsbrasil