“Primeiro [a faceta de] ampliar o papel do Mercosul no contexto do mundo, principalmente voltando-se para esta questão do relacionamento Sul-Sul, […] [e] também [a de] facilitar acordos que são do interesse do Brasil, principalmente focando os países do golfo Pérsico.”
“Atualmente os EAU são um importante mercado em setores que o governo brasileiro tem buscado internacionalizar nas últimas décadas, como o de agropecuária e, em menor medida, de alguns bens manufaturados”, comentou.
“Desta primeira rodada negociadora, até acontecer alguma coisa vai levar anos. Talvez leve décadas. Enquanto o Brasil, a América do Sul, os países árabes, o Conselho de Cooperação do Golfo não começarem a estabelecer outras formas de relações para além da questão comercial, esses acordos não vão sair do papel. Porque não temos fluxo de comércio forte o suficiente para sustentar um acordo maior de comércio interregional”, argumenta ela.
O que o Brasil tem a ganhar com os Emirados Árabes Unidos?
“Em 2023 os negócios realizados entre os dois países atingiram US$ 4,3 bilhões [cerca de R$ 24 bilhões]. O Brasil exporta açúcar, carne bovina, frango e ferro e importa produtos químicos, petróleo e seus derivados”, acrescenta.
Desafios
“Precisamos antes arrumar nossa casa, para então começarmos a falar efetivamente da questão da isenção de barreiras alfandegárias para terceiros países, aprofundar o que é integração regional econômica, para a gente transpor essa terceira fase, que é justamente a da tarifa externa comum”, opina ela.
“Não vai ser uma grande barreira, em relação à questão da logística do setor agropecuário brasileiro, para se adequar a essa prospecção. Mas existe, sim, muita imposição e muita questão que vai ser colocada em um possível acordo em relação à questão fitossanitária.”
“Essa aproximação do Brasil com os EAU pode ser vista a partir de um contexto mais amplo da política externa brasileira, que tem dado maior importância à aproximação com os países da Liga Árabe, principalmente Arábia Saudita e EAU, no contexto de um renovado foco na cooperação Sul-Sul”, comenta Stevam, que também destaca o potencial de maior vínculo político com esses países envolvendo instituições internacionais, como o BRICS, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) e o próprio Mercosul.
Emirados Árabes e Mercosul: demora de mais de 20 anos
“Existe alguma resistência em relação ao acordo e uma preocupação dos produtos dos Emirados que podem ingressar no Brasil; medo de salvaguarda, medo de dumping.”
“Especialmente o Brasil tem muito medo de que os petroquímicos do Golfo invadam o mercado brasileiro, e esse é um setor muito caro ao Brasil”, afirma a professora da UFRGS.
“Realmente é muito difícil conseguir fazer avançar um acordo dessa magnitude entre países tão distantes e ainda em desenvolvimento”, acrescenta.
Cinquenta anos de relações diplomáticas
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Fonte: sputniknewsbrasil