Achado arqueológico mostra interação inédita entre mulher e ganso há 12 mil anos (IMAGENS)


Uma estatueta de argila queimada de 12.000 anos, encontrada no norte de Israel — muito antes das narrativas gregas sobre Zeus e Leda, mostra um ganso interagindo com uma mulher, revelando uma das mais antigas cenas simbólicas moldadas em argila que, segundo pesquisadores, representaria a imagem de uma tentativa de acasalamento. Para os arqueólogos, trata-se da representação feminina mais antiga conhecida no Levante (região histórica do Mediterrâneo Oriental que inclui países como Síria, Líbano, Israel, Jordânia, Palestina e Chipre) e da primeira interação humano-animal registrada em escultura.
O objeto foi identificado por Laurent Davin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, ao analisar milhares de fragmentos de argila de sítios natufianos. O reconhecimento imediato da figura humana e do pássaro surpreendeu o pesquisador, que descreveu o achado como uma janela rara para a imaginação desses caçadores-coletores. Os natufianos, que viveram entre 15.000 e 11.500 anos atrás, já construíam casas de pedra, enterravam seus mortos e desenvolviam repertórios simbólicos complexos, mas representações humanas completas eram extremamente raras.

© Foto / PNAS/Davin et al.Detalhes das características modeladas do ganso, incluindo a cabeça, o pescoço, o bico, as asas e o perfil superior. Painéis mostram a figura de vários ângulos para ilustrar as técnicas de modelagem.

Detalhes das características modeladas do ganso, incluindo a cabeça, o pescoço, o bico, as asas e o perfil superior. Painéis mostram a figura de vários ângulos para ilustrar as técnicas de modelagem - Sputnik Brasil

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Detalhes das características modeladas do ganso, incluindo a cabeça, o pescoço, o bico, as asas e o perfil superior. Painéis mostram a figura de vários ângulos para ilustrar as técnicas de modelagem.

© Foto / PNAS/Davin et al.Estatueta de mulher-ganso do período Natufiano Tardio (#M/0374) de Nahal Ein Gev II. O objeto é mostrado em vários ângulos, incluindo vistas frontal, superior, esquerda e posterior esquerda.

Estatueta de mulher-ganso do período Natufiano Tardio (#M/0374) de Nahal Ein Gev II. O objeto é mostrado em vários ângulos, incluindo vistas frontal, superior, esquerda e posterior esquerda - Sputnik Brasil

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Estatueta de mulher-ganso do período Natufiano Tardio (#M/0374) de Nahal Ein Gev II. O objeto é mostrado em vários ângulos, incluindo vistas frontal, superior, esquerda e posterior esquerda.
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Detalhes das características modeladas do ganso, incluindo a cabeça, o pescoço, o bico, as asas e o perfil superior. Painéis mostram a figura de vários ângulos para ilustrar as técnicas de modelagem.
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Estatueta de mulher-ganso do período Natufiano Tardio (#M/0374) de Nahal Ein Gev II. O objeto é mostrado em vários ângulos, incluindo vistas frontal, superior, esquerda e posterior esquerda.
A estatueta, chamada Nahal Ein Gev II, mede apenas 37 milímetros, mas foi moldada com precisão. Uma impressão digital preservada sugere autoria feminina, e o objeto foi cuidadosamente aquecido a cerca de 400 °C para evitar rachaduras. Vestígios de pigmento vermelho indicam que a peça foi originalmente colorida, reforçando seu caráter intencional e simbólico. O ganso aparece em postura típica de acasalamento, reconhecível para quem observa a espécie.
Esse detalhe é crucial: a cena não representa caça ou troféu, mas uma narrativa deliberada de encontro entre espécies. Reflete uma visão de mundo animista, na qual animais possuíam agência e papel espiritual. A estatueta antecipa práticas simbólicas que só mais tarde se consolidariam em centros rituais como Gobekli Tepe, mostrando que a imaginação religiosa já se materializava em objetos muito antes da escrita ou da agricultura.
Escavações arqueológicas - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2025

A figura feminina também é reveladora. Sua postura curvada, o triângulo púbico, os seios decorados e o rosto esculpido fazem dela a representação naturalista mais antiga de uma mulher no Levante. Até então, as imagens femininas natufianas eram estilizadas ou fragmentárias. O nível de sofisticação sugere uma transição tecnológica em que a cerâmica estava apenas começando a ser desenvolvida, e este objeto mostra raízes mais profundas para o uso simbólico da argila.
No sítio arqueológico, restos de gansos aparecem em abundância, sobretudo penas e asas usadas em ornamentos e trajes rituais. Essa preferência cultural, apesar da diversidade de aves disponíveis, indica que os gansos tinham valor simbólico especial. A estatueta, portanto, materializa uma relação prática e espiritual entre humanos e aves, talvez ligada a cosmologias, rituais ou narrativas hoje perdidas.
No momento em que foi criada, as comunidades natufianas caminhavam para a sedentarização, com aldeias, arquitetura mais complexa e identidades sociais formalizadas. A estatueta NEG II captura esse ponto de virada para uma “tecnologia da imaginação” que prenunciava revoluções simbólicas associadas à agricultura e à vida comunitária.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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