A ascensão da Índia: de colônia inglesa a potência global do século XXI


À Sputnik Brasil, o analista internacional e jornalista indiano Shobhan Saxena afirma que a mudança econômica indiana se intensificou há cerca de 20 anos, com a adoção de um novo modelo produtivo. “A economia da Índia mudou, cresceu bastante, e a pobreza se reduziu. A Índia não tem mais o problema de fome, e o sistema de saúde, transporte e educação melhorou.”
Nos últimos anos, a Índia se tornou a quinta maior economia mundial, superando o Reino Unido. Saxena credita o crescimento ao aumento de investimentos nacionais e estrangeiros, sobretudo em infraestrutura. “O governo da Índia está fazendo bastante investimento, principalmente na área de infraestrutura. Empresas de outro país também estão fazendo bastante investimento.”
O país tem avançado significativamente no setor de tecnologia, com Bengaluru se destacando como o Vale do Silício indiano na visão do analista. Empresas indianas de tecnologia, farmacêuticas e de petróleo têm ganhado presença global, inclusive no Brasil.
Na entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Saxena afirma que a iniciativa “Make in India” tem atraído empresas estrangeiras para estabelecerem suas fábricas no país, aproveitando os custos competitivos de mão de obra e recursos.
Segundo o jornalista, um dos maiores trunfos da Índia é sua população jovem. “Mais de 75% da população da Índia tem idade entre 15 e 35 anos”, disse, destacando que tal parcela proporciona uma força de trabalho valiosa e um mercado consumidor crescente.
Diamantes extraídos na república de Yakútia, Rússia (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2024

Como é a economia da Índia atualmente?

O pesquisador em ciência política da Universidade de Louvain João Paulo Nicolini afirma que a economia indiana tem se beneficiado da população jovem, mas também de uma forte indústria de serviços.
Nicolini explicou que “o mercado principal do Norte Global busca serviços providos pelos indianos”, contribuindo para um crescimento econômico robusto.
No entanto ele também alertou sobre a informalidade no mercado de trabalho indiano, com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicando que “aproximadamente 80% da população jovem não consegue entrar no mercado formal […]”.
O pouso de uma sonda indiana na Lua, no entanto, é destacado por Nicolini como um marco significativo, evidenciando que “o desenvolvimento científico da Índia é um ponto forte do país”, colocando-o em posição de destaque no Sul Global no que tange à área de ciência e tecnologia.
Membros da tripulação principal da 66ª missão à Estação Espacial Internacional antes do lançamento da espaçonave Soyuz MS-19. O objetivo da viagem é fazer um filme no espaço, 5 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 05.10.2021

Qual a importância de Bollywood?

O termo “Bollywood” é uma junção das palavras “Bombaim” — antigo nome da maior cidade indiana, Mumbai — e “Hollywood”, distrito americano que concentra a produção de filmes dos EUA. Mumbai é responsável pela realização dos filmes indianos de grandes orçamentos e é o maior centro de produção cinematográfica do planeta.
Segundo Saxena, a Índia está expandindo sua influência cultural globalmente através do soft power. “O governo da Índia tem uma organização que se chama Conselho de Cultura Internacional para compartilhar, espalhar a cultura indiana.”
De acordo com ele, isso se reflete na proliferação de centros culturais indianos ao redor do mundo, em aulas de ioga e meditação e no sucesso internacional de Bollywood, por exemplo.

Em que ano a Índia deixou de ser colônia da Inglaterra?

Em 1947, a Índia deixava de ser uma colônia da Inglaterra, após séculos de dominação do país europeu. Os primeiros em território indiano foram os portugueses, no século XVI, mas navios britânicos chegaram em 1612 e iniciaram o processo de colonização.
Após esse período, o país deu início a um processo de mudança de uma economia colonial para uma nação que visava ao seu desenvolvimento.
O pesquisador João Paulo Nicolini enfatiza que, para os indianos, a visão de sua nação como uma grande potência não é novidade. “A elite do país, independentemente do partido, entende que a Índia sempre foi uma grande potência, subjugada durante o período da colonização britânica”, explicou.
Bandeiras da África do Sul e dos Estados Unidos no encontro da Broadway com a Wall Street, em Nova York - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024

Segundo ele, a colonização “extraiu e complicou o desenvolvimento econômico” indiano, mas também fomentou um sentimento de unificação em torno da independência.
A transição para uma grande potência moderna, segundo Nicolini, está fortemente ligada ao desenvolvimento científico e tecnológico. “A Índia atingiu essa capacidade de ciência e tecnologia muito desenvolvida, superando bloqueios das grandes potências, principalmente na área nuclear.”
O avanço permitiu que o país asiático alcançasse um status similar ao das grandes potências do Norte Global em alguns tipos de tecnologia.

Quem governa a Índia hoje?

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ocupa o cargo desde 2014. Neste ano, ele espera obter o terceiro mandato como chefe de governo do país. A eleição começou em 19 de abril e será concluída em 1º de junho, com a contagem dos votos, lançados em urna eletrônica, prevista para 4 de junho.
No pais mais populoso do mundo, o primeiro-ministro é apontado pelo partido que conquista a maioria das cadeiras do Lok Sabha, a câmara baixa do Parlamento.
Em 2022, parlamentares também escolheram a presidente da Índia, Draupadi Murmu. Ela atua como comandante suprema das Forças Armadas e possui poderes fundamentais em crises políticas, como quando uma eleição é inconclusiva. No entanto o primeiro-ministro é quem detém poderes executivos.
Questionado sobre o papel do governo de Modi no crescimento econômico da Índia, Nicolini reconhece controvérsias sociais, mas ressalta esforços para a industrialização e a redução na burocracia.
“Ele tentou aproximar outros países da Índia, ampliando acesso à tecnologia e reduzindo problemas burocráticos com um imposto único, o IVA indiano, que facilita a negociação entre estados e com outros países.”
No entanto ele também observou que “a globalização facilitou muito mais o crescimento econômico indiano do que propriamente algumas ações que o governo tomou”.

Qual a posição da Índia no BRICS?

Para Nicolini, a Índia mantém uma relação complexa e pragmática com outras potências globais, equilibrando suas relações com os Estados Unidos e a Rússia. Segundo ele, a postura se deve a uma longa história de apoio soviético e a uma estratégia de “pragmatismo na maneira de se relacionar com as potências”.
Ele destaca que “os norte-americanos buscam um apoio indiano para impedir os chineses de avançar demais” na região do Indo-Pacífico, dada a competição geopolítica entre Índia e China.
Para Saxena, na arena internacional a Índia tem conseguido equilibrar suas relações com as diversas potências globais. “A Índia tem uma relação bem forte e estratégica com os EUA, mas a Índia não deixou a Rússia.”
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, à direita, aperta a mão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante uma reunião à margem da 11ª Cúpula do BRICS em Brasília, Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024

Futuros da Índia

Apesar dos avanços, Saxena afirma que o país enfrenta desafios crônicos, como prover educação e emprego de qualidade à população. “A Índia até agora tem pobreza, problema de sistema de saúde… Tem problemas porque a Índia é a [nação] mais populosa do mundo.”
Para o analista, embora a economia esteja crescendo, a distribuição de riqueza e a melhoria dos serviços básicos, como de saúde e educação, ainda são pontos que necessitam de atenção contínua.
O futuro do país parece promissor, com uma previsão de que o produto interno bruto (PIB) chegue a US$ 10 trilhões (cerca de R$ 50,9 trilhões) nos próximos cinco anos, segundo ele. “Os povos indianos e todo mundo é mais otimista com o futuro da Índia.”
Para Nicolini, a previsão de que a Índia se tornará a terceira maior economia do mundo até 2030 é plausível. “Eu até acredito que possa vir a ser mesmo com toda aquela expectativa que a gente já teve com o BRICS“, conclui.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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