Washington pode enfrentar problemas relacionados à sua influência na Ásia devido ao esforço dos Estados Unidos para prosseguir com seu apoio financeiro e militar à Ucrânia, informou um jornal dos EUA.
“Do lado populista, o melhor argumento para limitar o envolvimento dos EUA na Ucrânia também não é ideológico, mas estratégico: que os Estados Unidos estão queimando munições tão rapidamente que podem estar enfraquecendo a capacidade de dissuasão de Washington no Leste Asiático no curto prazo”, disse o jornal.
No Leste da Ásia, uma região que é “mais importante para a prosperidade dos americanos do que a Ucrânia”, os EUA estão “ameaçados por um rival muito mais poderoso na China“.
Em um aparente aceno ao conflito ucraniano e à operação militar especial russa em andamento na Ucrânia, o meio de comunicação dos EUA afirmou que “[…] pode ser mais produtivo para Washington tentar isolar a guerra dos violentos conflitos culturais dos Estados Unidos que distorcem tudo em seu caminho. Isso significaria justificar o apoio de Washington à Ucrânia não como uma missão ideológica aberta, mas como uma defesa limitada da soberania nacional e uma demonstração da força militar dos EUA”.
Isso ocorreu após o governo Biden revelar a nova estratégia de defesa dos EUA no final de outubro, na qual descreveu a China como o maior perigo para a segurança norte-americana.
O secretário de Defesa, Lloyd Austin, escreveu na introdução da estratégia que “a República Popular da China [RPC] continua sendo nosso concorrente estratégico de maior importância nas próximas décadas”.
No verão passado, o chefe do Exército do Escritório da Guarda Nacional dos EUA, general Dan Hokanson, disse em entrevista a um meio de comunicação norte-americano que os militares dos EUA estão tentando ampliar sua presença de treinamento na região da Ásia-Pacífico.
A iniciativa de treinamento da Guarda Nacional dos EUA foi lançada em 2002. Desde então, a guarda adicionou 15 das 36 nações da Ásia-Pacífico ao programa. Entre elas estão Bangladesh, Camboja, Fiji, Indonésia, Malásia, Mongólia, Nepal, Papua Nova Guiné, Filipinas, Sri Lanka, Maldivas, Tailândia, Timor-Leste, Tonga e Vietnã.
As observações de Hokanson vieram depois que o presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, ter elaborado — durante sua viagem à Indonésia — que a prioridade de Washington pela região da Ásia-Pacífico assumiu um novo significado, dada a crescente “agressividade” da China nos últimos cinco anos.
Washington e Pequim permanecem em desacordo sobre uma série de questões, incluindo aquelas relacionadas a Taiwan, visto pela China como uma parte essencial do continente. Pequim está frustrada com as crescentes vendas de armas de Washington para Taipé, bem como com as promessas do presidente dos EUA, Joe Biden, de “defender” a ilha no caso de uma “invasão” de Pequim. As tensões aumentaram ainda mais depois que a então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan em agosto, uma viagem que foi seguida por lançamentos de exercícios militares em grande escala de Pequim perto da ilha, em um movimento de retaliação.
Sobre a Ucrânia, Washington vai fornecer a Kiev armas e dinheiro, algo que Moscou alertou anteriormente agravar ainda mais o conflito ucraniano, tornando os EUA cúmplices diretos. O projeto de lei de gastos de US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 8,9 trilhões), que foi sancionado pelo presidente Joe Biden no final do ano passado, inclui quase US$ 45 bilhões (aproximadamente R$ 237,9 bilhões) em ajuda à Ucrânia e aos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Alguns especialistas alertaram que os EUA estavam ficando sem armas para enviar à Ucrânia. O conselheiro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA, o coronel Mark Cancian chegou a escrever em uma análise que os estoques norte-americanos de alguns equipamentos estavam “atingindo o níveis mínimos necessários para planos de guerra e treinamento”, e que os níveis de reabastecimento de Washington que estavam em vigor antes da operação militar especial russa na Ucrânia poderiam levar anos.