Em carta, Castillo condenou esses encontros: “Alerta, compatriotas! A visita da embaixadora dos EUA ao Palácio do Governo não foi gratuita, nem a favor do país. Era para dar ordem de levar as tropas para as ruas e massacrar meu povo indefeso; e, aliás, deixar o caminho livre para a exploração mineral, como no caso da Conga, Tía María e outras [referindo-se a projetos de mineração]. A imprensa peruana não apenas permanecerá em silêncio sobre isso, mas também o negará com a mesma facilidade”.
Castillo rompeu com o Grupo de Lima
“Entendo que, depois de tolerar Castillo por muito tempo e ele se mostrar disfuncional tanto para os Estados Unidos quanto para a América Latina, os Estados Unidos e o Norte Global conseguiram uma aliança e um entendimento com a vice de Castillo. A partir daí ela se viabilizou, pelo menos como uma presidente temporária, o que não tinha acontecido antes, não se sabe por quais questões. Lembremos que tanto Castillo quanto Dina Boluarte romperam com o Peru Livre [partido pelo qual concorreram às eleições]. O primeiro para tentar se manter, a segunda para ascender”, acrescentou Albuquerque.
Houve intervenção dos EUA no Peru?
“Trata-se mais uma vez da guerra híbrida de ‘lawfare’ contra a nossa América Latina, com o operativo mais conhecido como ‘Plan Condor 2’. [Trata-se do] […] imperialismo norte-americano com uma oposição de ultradireita peruana fujimontesinista muito corrupta; uma imprensa totalmente patrocinada, parcializada e dedicada a promover golpes à nossa frágil democracia; um aparato judiciário que se dedicou a perseguir os nossos líderes sociais e aceitar constantes denúncias sem provas contra o presidente; e um Congresso da República que promovia o impeachment desde o início do governo Castillo”, avalia Bernuy.
“Os EUA nunca ficam alheios a nada do que ocorre na região. Lembremos que eles consideram as Américas sua região primordial de influência. Creio, sim, haver vínculos dos EUA no desfecho que se deu. Principalmente pela ação da OEA nos meses prévios à declaração desastrosa de Castillo. Os pronunciamentos do Departamento de Estado, por Blinken, e da Embaixada dos EUA no Peru muito instantâneos à posse de Dina Boluarte também não deixam dúvidas de que nada do que ocorreu foi surpresa para a Casa Branca”, disse ainda a socióloga.
“Há 37 projetos de lei no Congresso da República que propõem outorgar os lotes a empresas mineiras privadas. Trata-se de uma conspiração congressual em conjunto com todo o aparato de guerra híbrida que [trabalhou] […] para inabilitar o presidente neste fim de ano com a chancela estadunidense, pois a maioria dessas empresas privadas são desse país”, alerta.
Qual o papel do Brasil na crise?
“Qualquer instabilidade política na América do Sul afeta o Brasil, e acredito, sim, que o governo [de Luiz Inácio] Lula [da Silva] precisa ser proativo para apoiar e quiçá mediar uma solução pacífica e democrática para a crise institucional peruana. Por outro lado, a cooperação e as relações comerciais entre o Brasil e o Peru não devem ser afetadas, mas é evidente que um país pacificado internamente tem muito mais condições de ampliar a qualidade e o vigor de sua cooperação, atuar nas plataformas multilaterais, contribuir para a integração não só econômica, mas da infraestrutura e dos projetos sociais da região”, aponta Prestes.
Fonte: sputniknewsbrasil