A ampliação expressiva de crédito subsidiado (eufemismo tecnocrático para se referir ao crescimento de gastos federais, à revelia do princípio fiscal do teto de gastos) poderá acarretar perda da potência (leia-se, eficácia) da política monetária, com vistas a manter uma taxa de juros ‘neutra’, ou seja, aquela que incentiva a economia, sem descambar em escalada da inflação.
O alerta foi dado pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao ser questionado a respeito de riscos parafiscais inerentes aos movimentos do governo eleito, cuja PEC da Transição, prestes a ser sancionada pelo Congresso Nacional, que deve facultar ao Executivo a licença para gastar R$ 145 bilhões, no programa assistencialista Bolsa Família pelo menos, pelos próximos dois anos.
Ao defender uma postura de ‘comunicação e transparência’, a fim de reduzir ‘ruídos’ na gestão da economia, Campos Neto acentuou que “quando você comunica melhor, traz menos danos à credibilidade. Se comunicar bem, pode fazer menos e conseguir mais potência”.
Segundo ele, a substituição da ‘antiga’ TJLP pela Taxa de Longo Prazo (TLP), em 2018, permitiu um ‘ganho institucional’, ao abrir espaço para o financiamento de grandes empresas no mercado de capitais e às pequenas, fazer o mesmo, junto aos bancos públicos. Sobre a possibilidade de esse mecanismo sofrer modificações pela nova administração federal do país, o comandante do BC preferiu não tecer comentários.
Na entrevista coletiva a respeito do Relatório de Inflação do BC, Campos Neto comentou que, na atual ‘transição de poder’, a autarquia apresenta o que chamou de ‘autonomia operacional’, o que significa ‘um experimento para ambos os lados, mas também representa uma ‘atenuante’ para a volatilidade atual. Neste aspecto, o dirigente monetário evitou fazer declarações sobre a tese de ampliação da independência do BC em áreas como a financeira e administrativa, se limitando a admitir que ‘há conversas nesse sentido’.
Sobre o encontro ocorrido, esta semana, com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o indicado secretário-executivo, Gabriel Galipolo, Campos Neto disse que este serviu como “ótima oportunidade para ampliar a coordenação entre as políticas fiscal e monetária”, expediente que, segundo ele, deve se tornar mais frequente, daqui em diante.
Quanto às substituições de diretores do BC, já no próximo ano, Campos Neto comentou que elas fazem parte, por lei, das atribuições do presidente da República, embora considere que tal procedimento pode ser ‘conduzido de forma e consensual, uma vez que a escolha daqueles que vão ocupar tais cargos técnicos costuma contar com a participação dos demais diretores da autoridade monetária. Mais uma vez, o dirigente do BC se comprometeu a permaneceu em seu posto até o fim do prazo de sua gestão, em 2024.
No que toca à expansão da inadimplência, Campos Neto esclareceu que o fato não implica ‘risco sistêmico e financeiro’, além de ser objeto de uma discussão séria por parte da autarquia. “Mas entendemos que esse movimento não gera risco sistêmico ou financeiro, nem que haja um aumento dos chamados super endividados”, completou.
De setembro a outubro deste ano, a taxa de inadimplência, nas operações de crédito livre com os bancos subiu de 4,1% para 4,2%, ao passo que para as Pessoas Físicas, esta cresceu de 5,8% para 5,9%, e de 1,9% para 2%, no caso das empresas.
Fonte: capitalist