WASHINGTON, EUA – O Senado dos Estados Unidos aprovou nesta quarta-feira (14) a nomeação de Elizabeth Bagley como próxima embaixadora do país no Brasil. Ela assumirá o posto que estava vago desde julho de 2021, quando Todd Chapman, indicado pelo ex-presidente Donald Trump, decidiu se aposentar.
É mais um passo para normalizar as relações Brasil-Estados Unidos. A Casa Branca espera se reaproximar do Planalto com o novo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e havia vontade em Washington de que houvesse uma representante oficial do país em Brasília durante a posse de Lula, em 1º de janeiro. Desde 2021, o cargo é ocupado de forma interina pelo encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Douglas Koneff.
Bagley, 70, tem experiência no Departamento de Estado e é democrata de longa data. Ela trabalhou para os governos Jimmy Carter (1977-1981), Bill Clinton (1993-2001) e Barack Obama (2009-2017). Foi embaixadora em Portugal durante o governo Clinton e conselheira especial do Departamento de Estado nas gestões Madeleine Albright, Hillary Clinton e John Kerry.
A experiência de Bagley com diplomacia é considerado um forte ativo, mas é comum no governo americano a indicação de doadores de campanha para representar os EUA em outros países. Bagley também cumpre o requisito -ela e seu marido doaram centenas de milhares de dólares para campanhas de Obama e Hillary no passado. No setor privado, a família é dona de uma companhia telefônica que opera nos estados do Arizona e Novo México.
Bagley foi indicada por Biden em janeiro deste ano, mas a nomeação estava travada desde junho, quando a Comissão de Relações Exteriores do Senado americano não aprovou seu nome. Houve resistência sobretudo devido a declarações que foram consideradas antissemitas ditas por Bagley em uma entrevista que deu em 1998 à revista da Associação para Treinamento e Estudos Diplomáticos.
Em duas das perguntas da entrevista de 86 páginas, Bagley afirmou que “sempre há a influência do lobby judeu porque há muito dinheiro envolvido”. “Os democratas sempre tendem a seguir o que os judeus definem sobre Israel e a dizer coisas estúpidas, sempre surgem coisas como mudar a capital para Jerusalém. São coisas que nós não deveríamos sequer tocar.”
As falas foram citadas na sabatina a que Bagley foi submetida pelo Senado, em maio, quando respondeu que “não quis dizer nada daquilo” e que “foi uma má escolha de palavras.” O episódio repercutiu de maneira negativa, o que acabou travando sua nomeação.
Por meses houve especulações se o governo Biden indicaria outro nome para a vaga ou se insistiria na diplomata. No último dia 3, o senador Mark Warner fez uma manobra para retirar a indicação da Comissão de Relações Exteriores e levar para o plenário do Senado.
A justificativa foi que os EUA deveriam ter um embaixador no Brasil até a posse de Lula. “O Brasil terá um novo presidente e, francamente, acredito que é constrangedor que estejamos há quase dois anos sem um embaixador no Brasil”, disse Warner. “Em termos das relações norte-sul, nossas relações com o Brasil são tão importantes quanto qualquer outra nação do hemisfério sul, temos muito trabalho a fazer”, afirmou.
A ausência de um embaixador não é prerrogativa do Brasil. Hoje, há 42 indicações pendentes na Comissão de Relações Exteriores do Senado, a maioria para nações menores, mas também alguns para países-chave na geopolítica americana, como a Índia e a Arábia Saudita.