Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, apontou nesta quinta-feira (1º) que se acumulou um grande número de problemas na área da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês).
“Hoje é uma boa ocasião para olhar para o papel que esta organização tem desempenhado desde sua criação. Desde então, têm havido mais e mais problemas. E hoje, o problema é que se acumulou um grande número de problemas no que agora é chamado de OSCE”, disse ele.
Para o ministro, “o espaço de segurança na Europa está definitivamente se fragmentando, e a própria OSCE está se tornando, para dizer de forma branda, uma entidade marginal”.
O ministro russo qualificou a presidência da Suécia na OSCE não de um “agente honesto”, mas de “participante ativo da política ocidental”, e o da Polônia como tendo no ano passado “escavado o túmulo”, o fim, da organização, através da destruição dos restos da cultura de consenso.
O MRE da Rússia sublinhou que está sendo criado um espaço de segurança sem a Rússia e Belarus, “mas nós não precisamos de uma segurança assim”, e acrescentou que “toda a segurança da Europa está agora reduzida a ser totalmente subserviente em relação aos EUA”.
Todas essas ações, disse Lavrov, seriam explicadas pela tentativa ocidental de capturar a organização através de uma “privatização”, usando a “superioridade aritmética” dos países ocidentais.
Ele indicou que “até agora, ouvimos dos principais diplomatas europeus declarações no mesmo espírito das de Josep Borrel, [chefe das Relações Exteriores da União Europeia], que tem repetido como um mantra desde o início da operação militar especial que ‘este conflito deve terminar com a vitória da Ucrânia no campo de batalha’. É esse um diplomata europeu”, disse Lavrov.
“Se é isto que é entendido como diplomacia europeia, não creio que precisemos ir lá. Precisamos entender quando haverá pessoas sãs na diplomacia europeia”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia.
A Europa está correndo atrás dos EUA, apoia a russofobia dos norte-americanos e usa a Ucrânia como instrumento na guerra contra a Rússia, não só para enfraquecer os concorrentes americanos, mas também o próprio continente europeu, assegurou Sergei Lavrov.
Sergei Lavrov explicou que o Ocidente está criando linhas divisórias que vão explicitamente contra os objetivos da OSCE, que previa que “qualquer um deve ser ouvido”, e que “nenhum país deve se sentir excluído do processo geral”. “Mas agora, tudo isso foi virado do avesso”, comentou ele.
“O que é claro é que, se e quando, em algum momento, nossos vizinhos ocidentais, e não há como fugir da vizinhança, nossos vizinhos ocidentais e antigos parceiros de repente se interessarem em reconstruir de alguma forma o trabalho conjunto sobre a segurança europeia, não haverá essa restauração. Porque restauração significa o que era antes, mas as coisas já não vão ser mais como eram antes”, frisou Lavrov.
“E quando ou se o Ocidente entender que é melhor ter vizinhança com base em algum fundamento mutuamente acordado, escutaremos o que o Ocidente propõe, mas é claro que este seria um início de interação completamente novo”, continuou o ministro.
O alto responsável russo disse que o mesmo processo aconteceu com o Conselho da Europa.
Lavrov sobre a Aliança Atlântica
Ele também criticou o papel da OTAN.
“Nos lembramos como a OTAN foi criada: foi quando o primeiro secretário-geral da aliança, o senhor [Hastings] Ismay, chegou à fórmula ‘manter os russos fora da Europa, os americanos na Europa, e os alemães sob controle’. O que está acontecendo agora significa claramente um retorno da OTAN àquelas prioridades conceituais que foram criadas há 70 anos”, afirmou.
Segundo Lavrov, OTAN tem ambições em todas as regiões do planeta e quer dominar o mundo, o que está levando os países em desenvolvimento a tentar entender o que a aliança estaria preparando contra eles, disse Lavrov.
“Havia cada vez mais problemas; hoje há um grande número de problemas no que hoje é chamado de OSCE. Eles têm uma profunda projeção histórica e estão enraizados no final do período soviético, no final dos anos 1980, em 1990, quando o número de oportunidades perdidas superou todas as expectativas imagináveis dos analistas mais pessimistas”, lamentou.
“Este instinto, que nunca desapareceu dos americanos nem dos outros membros da OTAN, explica o caminho da expansão imprudente da OTAN, que anulou tanto o significado básico da OSCE como instrumento coletivo, como também todos aqueles belos documentos que foram produzidos na OSCE desde os anos 1990.”
De acordo com o alto responsável, as promessas feitas pelos países ocidentais nesses anos partiam do princípio de que a Rússia já não recuperaria suas posições na Europa e no mundo, e foi por isso que o Pacto de Varsóvia foi extinto, mas a OTAN não.
O conselho de ministros da OSCE decorre nesta quinta-feira (1º) e sexta-feira (2) em Lodz, Polônia. Varsóvia recusou o visto a Lavrov para que este pudesse participar.