“A discussão de uma PEC em si é exatamente para tentar gerar consensos, que vêm de correlações de força no âmbito do Congresso e da comunicação com o Executivo. É, propriamente, a negociação entre Legislativo e Executivo“, diz Botelho.
“A tendência de parte do Congresso, de alguns partidos, é olhar essa questão fiscal à frente e tentar criar bases para que o Orçamento seja financiado pelo governo sem grandes problemas, o que é quase impossível, pois estamos vindo de um Orçamento quase exíguo, de endividamento ainda não conhecido”, aponta.
Impactos econômicos e políticos sobre o novo governo
“Essa PEC é direcionada para um público mais pobre, para mulheres mais pobres, [um público] que esteve o tempo todo com o Lula e no qual ele só ampliou a sua vantagem em relação ao candidato Bolsonaro [no segundo turno]. Ele sabe que o risco de romper esse acordo é péssimo para a sua vida política e também para com os partidos que o ajudaram a se eleger”, lembra a cientista política.
Lula terá mais dificuldades do que imaginava no Congresso?
“Em bases normais, elas [as relações] acontecem de forma a se tentar construir um consenso, e me parece que é isso que está sendo feito. Ambos sabem que é preciso pagar, que há famílias precisando. Ao mesmo tempo, é um grande volume de recursos que vai ter que ser dirigido, portanto vai precisar sair de algum lugar”, argumenta.
O poder do mercado nos rumos da economia brasileira
“Há setores da sociedade ligados ao mercado (não sabemos quantos e quem são, exatamente) que tentam medir forças e impor determinadas agendas econômicas aos governos”, aponta Botelho.
“Pode ter uma readequação desse Orçamento, e acho que isso deve ser feito também, porque se pode criar um problema fiscal de médio e longo prazo difícil de se solucionar. Mas enxugar tudo obviamente atende a uma parte pequena da sociedade que só vê a questão fiscal como o único problema, sem se preocupar ou se sensibilizar com as questões sociais gravíssimas que estamos vivendo agora. Ainda está tudo sendo jogado. As conversas de setores importantes da sociedade que decidem sobre isso têm sido feitas de forma responsável”, afirma.
Fonte: sputniknewsbrasil