União Europeia e Reino Unido se dizem desiludidos com decisões da COP27


LISBOA, PORTUGAL – O desfecho da COP27 quanto à redução de emissões de gases-estufa e de uso de combustíveis fósseis foi recebido com críticas e pouco entusiasmo pela União Europeia e pelo Reino Unido, que defendiam maior ambição nesses pontos. O surpreendente avanço para financiar reparações por perdas e danos climáticos, no entanto, foi celebrado.

Diversos países, inclusive não europeus, consideraram que os textos propostos pela presidência egípcia da conferência representaram retrocessos em relação aos compromissos obtidos em 2021 na COP26, em Glasgow.

“A presidência egípcia produziu um texto que protege claramente países produtores de petróleo e gás e as indústrias de combustíveis fósseis”, disse Laurence Tubiana, uma das arquitetas do Acordo de Paris.

Presidente da Comissão Europeia, o braço Executivo da UE, Ursula von der Leyen descreveu o acordo como “um pequeno passo em direção à justiça climática”, mas salientou que é preciso avançar muito mais para salvar o planeta.

Outros representantes de alto nível do continente foram mais diretos nas críticas. Líder da delegação do Parlamento Europeu na conferência, o eurodeputado holandês Bas Eickhout reprovou a condução das negociações.

“A Europa teve de lutar até ao fim para manter a ambição do ano passado, mas isso é insuficiente se quisermos cumprir as metas climáticas. Portanto, só posso concluir que 2022 foi um ano climático perdido”, afirmou.

Vice presidente da Comissão Europeia e negociador-chefe do bloco, Frans Timmermans também criticou o resultado. “A União Europeia veio aqui para obter um acordo com uma linguagem forte, e estamos desiludidos por não termos conseguido isso”, afirmou.

Entre as lideranças europeias, no entanto, chama a atenção a postura em relação ao financiamento para reparações por perdas e danos causados pelas mudanças climáticas. Historicamente, Europa e Reino Unido vinham bloqueando a criação de um fundo específico, tentando enquadrar a questão do financiamento nos programas já existentes.

Ainda que os detalhes para a criação de um fundo para os “países particularmente vulneráveis” ainda precisem ser delineados, a criação do mecanismo foi saudada por todos os porta-vozes, inclusive os mais críticos ao desfecho da COP27.

“Em ‘perdas e danos’, a UE mostrou liderança e rompeu o impasse ao se declarar a favor do fundo [de financiamento]. Como resultado, a COP conseguiu alguma coisa, afinal de contas”, disse o eurodeputado Bas Eickhout.

Ainda que o discurso oficial das autoridades europeias seja de decepção com a falta de ambição do texto final da conferência, organizações não governamentais dizem que os países do continente podem fazer mais.

As ONGs também se mostraram pouco satisfeitas com o anúncio, feito na COP27, de que a União Europeia iria aumentar em dois pontos -de 55% para 57%- seu compromisso de redução de emissões até 2030.

“A UE mostrando que está empenhada em reduzir mais nossas emissões de gases de efeito estufa é um sinal positivo, mas não é possível realmente se apresentar como um excelente aluno quando as apostas são muito baixas. Precisamos de uma ambição muito maior”, diz Sven Harmeling, especialista em política climática internacional da CAN (Climate Action Network) Europe, uma coalizão que reúne organizações não governamentais em 38 países europeus.

Na avaliação de Harmeling, uma atitude mais ambiciosa do bloco “também pode inspirar outros países a adotar o programa de trabalho de mitigação”.

A ida do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à conferência, bem como as declarações do petista de que o Brasil deve passar a conferir protagonismo à agenda climática e à proteção das florestas foi, de modo geral, bastante elogiada entre os europeus.

Lula se reuniu com diversos representantes do continente, incluindo Timmermans.

“A reação ao discurso de Lula na COP27 parece muito calorosa em toda a Europa”, avalia Arild Skedsmo, analista na KLP, maior fundo de pensão norueguês.

“Investidores europeus que promovem princípios ambientais, sociais e de governança terão notado a mudança acentuada nos compromissos e planos de políticas”, completou.

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