Pequim quer elevar cooperação e não pressionar Brasil a decidir entre EUA-China, diz analista chinês


Em entrevista ao jornal O Globo, diretor do Departamento de América Latina da Universidade Renmin em Pequim, Cui Shoujun, concedeu uma série de declarações expressando as impressões chinesas sobre o novo governo que começará em 2023 no Brasil com presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Cui, “os chineses torciam pela vitória de Lula e o resultado atendeu a nossa expectativa”, uma vez que essa seria “um bom começo para o reaquecimento das relações bilaterais” entre os dois países.

“[…] O Brasil é um país muito importante […] também tem um papel importante em outro mecanismo de coordenação de países emergentes, que é o BRICS. [Presidente] [Jair] Bolsonaro não estava muito interessado na cooperação entre os países do BRICS, nem apoiou a proposta da China de um ‘BRICS plus’ […]. Já Lula, quando esteve no poder, foi muito ambicioso no intuito de elevar o status internacional do Brasil, com uma inclinação diplomática global de engajamento com países da Ásia, como China e Japão. Além disso, ele priorizou as relações com outros países em desenvolvimento, como os africanos. Portanto, é um bom começo”, afirmou o diretor.

O diretor relata que Pequim vem sofrendo “uma intensa pressão dos Estados Unidos” e que para o gigante asiático “a ênfase deve ser na reforma do sistema global de governança”, visto que, até o momento, a governança “[…] foi dominada pelo G7. As contrapartes do G7 são o G20 e o BRICS, como representante de importantes economias emergentes”, declarou.
Com esse contexto, Cui acredita que “se o Brasil concordar com as propostas da China, o BRICS será capaz de desempenhar um papel bem maior no sistema de governança global” e que a participação do país na Organização de Cooperação de Xangai “seria bem recebida pela China”.
O jornal questiona o acadêmico se, diante do atual cenário geopolítico, é necessário “escolher” entre “EUA e China”. Cui responde que não, já que “ter boas relações com a China não significa ser contra os EUA”.
“Ter boas relações com a China não significa ser contra os EUA. É possível manter boas relações com ambos. A China está buscando um novo tipo de relações internacionais. No contexto atual é preciso ter uma política externa inteligente. Por exemplo, a China mantém boas relações com o mundo árabe e também com Israel e com o Irã, que são inimigos.”
Mais de 20 países sul-americanos já aderiram à Nova Rota Da Seda, indagado se Pequim espera que Brasília entre para a iniciativa, o diretor diz que está “otimista que isso acontecerá” e que a adesão facilitaria a ampliação dos negócios entre Brasil-China.
” […] Os investimentos chineses desaceleraram nos últimos quatro anos por causa da postura de Bolsonaro em relação à China. Há muitas outras estatais chinesas dispostas a fazer investimentos que estão à espera de um clima político adequado. A economia brasileira está sofrendo, precisa de estímulos para gerar emprego e crescimento. Os EUA falam muito, mas fazem pouco. A China é um dos poucos países que realmente podem ajudar. A adesão à iniciativa seria um estímulo político importante para os investimentos chineses”, afirmou.
Curi complementou sua resposta declarando que “[…] o Brasil aderiu à iniciativa norte-americana de investimentos em infraestrutura [América Cresce]. Se aderir ao projeto da China haverá um equilíbrio. A cooperação com a China não significa que o Brasil não pode cooperar com os EUA. A China quer promover a cooperação internacional, não estamos pressionando o Brasil a escolher um lado“.

Fonte: sputniknewsbrasil

Anteriores Enem: saiba tudo sobre os documentos necessários e locais de prova
Próxima Policial investigado por tragédia em Halloween na Coreia é achado morto