‘Oportunidade’ na China e exemplo que vem do Irã: como o Brasil investirá em inovação e tecnologia?


Apesar de ainda estar defasado em relação a grandes potências, o Brasil pode liderar o desenvolvimento em inovação e tecnologia na América Latina. Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o setor será estratégico no século XXI e pode impulsionar a economia brasileira nas próximas décadas.
De fato, um estudo da empresa de inteligência de negócios SAS apontou que o país é o mais avançado no uso de inteligência artificial entre os representantes latinos. Em outra frente, o Brasil avançou três posições no ranking da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), entidade especializada das Nações Unidas, passando da 57ª posição para a 54ª.
Inovação e tecnologia seriam, portanto, a chave para o Brasil aumentar suas exportações na América Latina? Como o setor pode contribuir para a reativação industrial no Brasil?
Para o economista Fábio Sobral, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), o aumento de investimentos em inovação e tecnologia é fundamental hoje para a produção de novas patentes, permitindo a criação de novos mercados.

“O setor é central para a sobrevivência da economia capitalista. Sem inovação, a economia capitalista não sobrevive. É um elemento que não pode ser desprezado”, aponta.

Kenneth Corrêa, professor dos programas de transformação digital da startup Digital House e dos programas de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que o mundo vive a Quarta Revolução Industrial, a chamada “Indústria 4.0“. Segundo ele, a grande diferença para as três revoluções anteriores é que na atual a transformação não é apenas do ponto de vista físico e material, com maquinário.

“Agora as ferramentas que criamos são desenvolvimento de software, inteligência artificial, computação em nuvem, computação distribuída, 5G, big data… Ou seja, é uma revolução que vem exatamente da base tecnológica, já que hoje temos uma vida muito mais digital”, diz.

Ele explica que, embora ainda haja investimentos ligados a informações do mundo físico, os grandes negócios estão relacionados a ambientes virtuais.

“Se é para o Brasil ter um novo renascimento industrial, novo florescimento, para acompanhar a competitividade que se precisa ter no resto do mundo, com certeza vai ser protagonizando movimentos de Indústria 4.0”, avalia.

Brasil perde ‘oportunidade gigantesca’ com China

Fábio Sobral, da UFC, afirma que a indústria brasileira tem potencial para se tornar grande fornecedora de produtos manufaturados, mas perdeu espaço para a China ao longo dos últimos anos na região latino-americana.
O especialista aponta que o país sofreu um processo de desindustrialização em duas frentes: na “reprimarização” das exportações brasileiras, que remete a um período anterior à década de 1930, e no desaparecimento de alguns setores industriais.
Segundo ele, para o Brasil impulsionar suas exportações de produtos na América Latina, precisa investir em tecnologia e em suas indústrias. O professor indica que a reconquista de mercados perdidos para a indústria chinesa passa pelo processo de inovação.

“Acho que estamos perdendo uma oportunidade gigantesca com a China. Desde 2008, o governo chinês entendeu que haverá um recuo do mercado mundial devido a crises financeiras, que se tornarão mais frequentes nos países europeus, nos Estados Unidos, no Canadá… Então a China está migrando de uma grande economia exportadora para uma economia importadora também, concentrando-se em setores industriais de alta tecnologia”, explica.

© Foto / Alan Santos / Palácio do Planalto / CCBY 2.0Bandeiras do Brasil e da China em Pequim

Bandeiras do Brasil e da China em Pequim - Sputnik Brasil, 1920, 08.11.2022

Bandeiras do Brasil e da China em Pequim. Foto de arquivo
Para Kenneth Corrêa, da FGV, se o Brasil almeja ser um “player” global mais efetivo no processo de transformação de bens, precisa começar a importar tecnologia. Ele diz que o país só conseguirá competir “em pé de igualdade” com os principais exportadores do planeta se também estiver trabalhando com tecnologia de ponta.

“Hoje, países como a Alemanha, Japão, Coreia do Sul, são grandes exportadores de tecnologias de processamento industrial, das quais o Brasil é comprador. O maquinário que utilizamos nas indústrias daqui vem desses países. O Brasil não é conhecido por ter uma matriz de criação dessas tecnologias para transformação de bens e acaba tendo que importar”, explica Corrêa.

Segundo o especialista, a China vem se especializando em desenvolver maquinários e equipamentos para mercados mais maduros e estabelecidos, com diferencial de custos. Ele afirma que atualmente não existe uma relação exatamente bilateral, devido à grande exportação brasileira de commodities para a China.
Por isso Corrêa aponta a necessidade de o governo avaliar “de que forma pode buscar contrapartidas e alinhamentos via acordos comerciais para aproveitar o processo de industrialização chinês”.

Brasil pode ocupar ‘papel semelhante’ ao do Irã

Fábio Sobral lembra que, em março de 2021, China e Irã assinaram um acordo de cooperação de 25 anos, que vinha sendo costurado desde 2016, para fortalecer relações políticas e econômicas. Segundo ele, a aliança permitirá que Teerã se torne uma economia industrial.

“Nos próximos anos, o Irã será uma potência industrial, como grande fornecedor da China”, projeta.

Para ele, o Brasil poderia ocupar um “papel semelhante”, em um processo de aproximação com a China, de recuperação da indústria e de produção de novos setores industriais, aproveitando o “movimento de expansão das camadas médias chinesas”.
“A China se tornará o novo motor do consumo mundial, o centro do consumo mundial caminhará do Atlântico, entre Europa e os EUA, para o Pacífico, para a China. E o Brasil está perdendo essa oportunidade”, disse.

Fonte: sputniknewsbrasil

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