A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) anunciou na semana passada (13) que 13 nações da UE, bem como a Noruega e o Reino Unido, assinaram a iniciativa para a criação do Escudo Europeu Skyshield, liderada pela Alemanha. A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, disse que Berlim coordenaria a aquisição de armas de defesa antiaérea, incluindo US Patriots, IRIS-Ts alemães e Arrows israelenses.
O especialista em armas francês Xavier Moreau, fundador do think tank Stratpol que estuda geopolítica e estratégia política, disse que o projeto encheria os cofres da indústria de defesa norte-americana, enquanto justifica um aumento maciço de forças dos EUA, e Washington continua a moldar seus aliados como “porta-aviões”, ou postos avançados na Europa.
“É uma forma de a indústria militar americana desviar fundos europeus como parte de tal reequipamento da OTAN. A Alemanha anunciou que destinará € 100 bilhões [cerca de R$ 517,2 bilhões] aos seus orçamentos militares; os Estados Unidos terão a maior fatia da torta, sem dúvida”, disse Moreau à Sputnik.
A criação de um escudo antiaéreo tão hermético, disse ele, envolveria vários escalões e uma estrutura inteiramente nova, que deveria ser capaz de atingir todos os tipos de mísseis e drones a curto, médio e longo alcances, uma tarefa que vai levar anos e bilhões de euros para ser realizada.
O ex-oficial de alto escalão da artilharia nuclear da OTAN Pierre Henrot disse que o escudo seria poroso sem uma participação mais ampla das nações europeias. De acordo com o especialista, a França e a Polônia não assinaram o projeto, o que pode ser entendido como um “mau começo”.
Para detecção, o projeto exigiria sistemas de radar de alto desempenho para rastrear alvos em altitudes baixas, médias e altas. Considerando os buracos na cobertura europeia, seria um fracasso antes de ser lançado, sugeriu Henrot.
Para que o escudo tivesse pronta uma resposta às ameaças, seriam necessários interceptadores de longo alcance para combater a nova geração de mísseis hipersônicos russos, por exemplo. Isso significa expandir a rede de sistemas Patriot, que têm um alcance muito limitado, estimou ele.
“O número de baterias teria que ser multiplicado. Uma bateria custa US$ 1 bilhão [cerca de R$ 5,1 bilhões]. Quem vai pagar pelas centenas de baterias necessárias? A UE está sem dinheiro […] e um míssil custa US$ 1 milhão [aproximadamente R$ 5,1 milhões]. Temo que este projeto seja impagável nas atuais circunstâncias”, disse Henrot.
Moreau disse que a indústria de defesa dos EUA está realizando uma campanha de propaganda extremamente eficaz para persuadir a Europa de que a Polônia ou os Países Bálticos seriam o próximo estágio de uma “invasão russa” depois da Ucrânia. Os EUA já instalaram um sistema de mísseis da OTAN em torno da Rússia e estão usando a ameaça russa inexistente para aumentar a dependência militar da Europa, acrescentou.