VITOR MORENO
SÃO PAULO, SP – Maria Maya, 41, debutou nos palcos quando tinha 13 anos de idade, mas continua deixando espaço para primeiras vezes até hoje. No momento, a artista –mais conhecida do grande público como atriz de novelas da Globo– se prepara para estrear como diretora de teatro musical.
Será na versão brasileira de “Bring It On”, que estreou na Broadway em 2012. A produção é baseada em um filme homônimo de 2000. No Brasil lançado como “As Apimentadas”, o longa explora a rivalidade em uma equipe de líderes de torcida que se prepara para disputar um campeonato nacional.
“Sou bailarina por formação, morei nos Estados Unidos e estou sempre indo e voltando de Nova York, me alimentando do gênero, prestigiando os colegas da classe [artística]”, diz Maria ao F5. “Mas dirigir um musical nunca tinha sido exatamente a minha opção. Acabei priorizando outros textos e não me dei a oportunidade de vasculhar o gênero.”
Carioca, Maria se mudou recentemente para São Paulo e acredita que esse trabalho vai marcar a nova fase. “Estou inaugurando uma etapa da minha vida”, avalia. “Fico feliz de poder trabalhar nesse gênero que é tão consolidado na cidade e tão valorizado não só pela classe, mas por todas as empresas que subsidiam aqui os espetáculos e pelo público que frequenta, valoriza e prestigia.”
Com estreia marcada para 2023, o espetáculo está em fase de ensaios, com um elenco de mais de 30 jovens. “Chamo os atores de minhas crianças”, conta. “São os filhos que não tive e que estou colocando no mundo (risos). É bonito de ver como eles confiam em mim, no meu trabalho e nas minhas palavras.”
Apesar de, em geral, musicais darem poucas chances de mudanças em suas adaptações, ela diz que esse não é o caso de “Bring It On”. “Tenho abertura para colocar a minha percepção da obra e o que os meus atores podem me oferecer como recurso”, explica. “A gente não tem a obrigatoriedade de montar exatamente como o original. Os produtores estão dando essa liberdade.”
Ela também acredita haver espaço para que a temática eminentemente americana toque o público brasileiro. “O texto é universal justamente por falar dessas relações interpessoais que acontecem dentro daquele ambiente escolar, um ambiente de formação”, avalia. “A nossa protagonista quer ser uma grande líder de torcida, é uma ambição particular dela, mas percebe que não vai conseguir isso sozinha. Essa ideia do coletivo, que a gente vai aprendendo, é igual nos Estados Unidos ou no Brasil.”
Longe das telinhas desde “Amor à Vida” (2013), Maria acabou fincando pé nos bastidores desde então. A estreia na direção, há oito anos, foi quase por acaso. Ela havia comprado os direitos de “Adorável Garoto”, do americano Nicky Silver, a quem convidou para comandar o espetáculo. Como ele não conseguiu vir ao Brasil e a peça tinha prazo para estrear, ela precisou assumir as rédeas do projeto.
“Foi através desse ‘problema’, vamos dizer assim, desse furo de agenda do Nicky que eu acabei me descobrindo como diretora teatral”, brinca. “Foi tudo muito orgânico.”
Sobre o ofício, ela conta que é muito menos glamouroso do que se pode imaginar. “As pessoas que vão ao teatro e veem aquele espetáculo acontecendo, às vezes, não têm a dimensão de como é complicado fazer toda aquela engenharia”, diz. “São inúmeros profissionais para fazer aquela magia toda acontecer.”
Não que faltasse inspiração dentro de casa. Afinal, Maria é filha de Wolf Maya e Cininha de Paula, dois dos mais conhecidos diretores de teatro e televisão do Brasil. “Meus pais foram pioneiros do teatro musical”, lembra. Mesmo assim, ela diz não estar preocupada com as cobranças que podem aparecer.
Pelo menos não como quando ela estreou na novela “Cara & Coroa” (Globo, 1995), dirigida pelo pai. “É engraçado, esse tipo de cobrança surgiu na minha trajetória artística muito mais enquanto eu estava estabelecendo a minha identidade como atriz”, compara.
No entanto, ela afirma que ninguém cobrava mais de seu desempenho que ela própria. “Isso vinha muito mais de mim mesma, da minha obrigatoriedade de valorizar o lugar da minha família”, afirma. “Era uma família tão genial, tão talentosa, que eu me obrigava a, no mínimo, corresponder. Não só aos meus pais, mas à minha família como um todo. Imagina ser sobrinha-neta do Chico Anysio, neta da Lupe Gigliotti, prima do Marcos Palmeira e do Bruno Mazzeo e afilhada da Nathália Timberg…”
Já na direção, talvez por estar mais madura, ela não vem sentindo essa pressão. “Quando me tornei diretora, isso não apareceu”, afirma. “Muito pelo contrário, acho que existiu até uma certa curiosidade exatamente por eu ser filha de dois grandes diretores. Qual seria o caminho que eu iria tomar? E acabou que eu fui seguindo caminhos bastante distintos dos deles.”
Ela não descarta, no entanto, dirigir novelas, gênero no qual os pais também se notabilizaram. “Quem sabe? Eu tenho vontade de pluralizar as oportunidades na minha vida”, conta. “Acredito que a gente, como artista, deve aproveitar o máximo possível de oportunidades. Me convidem, estou sempre aberta a colaborar.”
Aliás, ela não está aceitando convites apenas na área de direção. Recentemente, topou voltar para a frente das câmeras no curta “Duas”, da amiga Ana Cavazzana, sobre duas colegas de trabalho que se apaixonam. Para sua surpresa, ela acabou premiada como melhor atriz no Tietê Internacional Film Awards.
“Eu estava tão afastada da atuação”, conta. “Fico lisonjeada com esse reconhecimento. Tanto que acabou me despertando de novo essa vontade de atuar.”
Também tem contribuído se rever em diversos trabalhos que estão sendo reprisados, como “Chocolate com Pimenta” (2003), nas tardes da Globo, e “Caminho das Índias” (2009), no canal Viva, além de “Amor à Vida”, que entrou no catálogo do Globoplay.
“Quando eu era mais jovem, não costumava me ver”, confessa. “Eu era muito crítica. Só assistia para ver tudo o que eu tinha errado e tentar corrigir no próximo trabalho. Hoje, eu já não tenho tanta autocrítica. Acho que isso tem a ver com a maturidade. A gente passa a se cobrar um pouco menos, fica um pouco mais relaxada com a vida, né?”
No momento, ela está começando a se preparar para sua primeira série para o streaming, “O Som e a Sílaba”, que Miguel Falabella está desenvolvendo para o Disney+. “Está sendo bem interessante nesse momento da vida, no auge dos meus 40 anos, estar retornando à atuação”, comemora.
Mesmo com quase uma década longe dos holofotes, o público ainda acompanha a vida da atriz com bastante interesse. “Acho que é porque trabalho desde muito nova”, avalia. “Eu atravessei inúmeras gerações, tive o privilégio de ter feito novelas de muito sucesso numa época em que a internet não tinha esse poder, as pessoas valorizavam muito a TV. Então acabou, de certa forma, ficando na memória das pessoas.”
Além disso, tem um público novo que chegou por meio das redes sociais. “A geração mais jovem acaba se identificando comigo de outra forma, às vezes pelo meu lifestyle, às vezes pelo meu posicionamento seja afetivo ou de vida. Aí acaba que você vai criando um tipo de afinidade”, diz ela, que brinca dizendo ser uma “blogueira da terceira idade”.
Nas redes sociais, são comuns as trocas de declarações com a namorada, a executiva de marketing Amanda Labrego. Aliás, Maria diz apoiar a onda de artistas que vêm declarando abertamente suas orientações sexuais, sem que isso seja um fator que pese em suas carreiras.
“Fico feliz de termos a oportunidade de normalizar essa questão”, diz. “Essa experiência de viver com a nossa verdade corrobora para o nosso trabalho. É importantíssimo para mim e para os meus colegas, mas também para a aceitação do público e da sociedade como um todo.”