Conflito na Ucrânia se difere da Crise dos Mísseis porque há colapso da ordem mundial, diz senador


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Nas últimas semanas tem se falado muito sobre o risco nuclear que o mundo enfrenta e, como referência, grandes líderes dizem que a última vez que aconteceu uma ameaça desse porte no mundo foi em 1962 durante a Crise dos Mísseis entre EUA e União Soviética.
Embora possa haver semelhanças entre o conflito na Ucrânia e a Crise dos Mísseis, há uma diferença inevitável: atualmente, há um colapso na ordem mundial que indica a necessidade de um mundo multipolar.

“Há semelhanças, mas há diferenças entre o conflito na Ucrânia e a Crise dos Mísseis. A semelhança é a tensão produzida pelo confronto entre a Rússia e o bloco ucraniano, os EUA e a, mas por trás disso, há é uma diferença muito importante além do perigo: neste momento acho que há uma percepção de que as regras do jogo estão em crise, especialmente a ordem unipolar estabelecida por Washington”, disse Hugo Richer, senador paraguaio à Sputnik.

Richer afirmou que no quadro das tensões de 1962 havia maior clareza nas regras do jogo entre EUA e União Soviética, o que não está acontecendo no momento, pois o direito internacional que surgiu após a Segunda Guerra Mundial “está quebrado”.
“No conflito na Ucrânia há uma transição para uma nova ordem internacional. Sempre que o modelo está sendo alterado, há perigos potenciais que vão durar por um tempo. Os EUA estão tentando, com o apoio armamentista que estão dando a Kiev, enfatizar a situação e levar ao mesmo nível que estava durante a Crise dos Mísseis”, alertou.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, faz comentários antes da conferência de revisão do Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares - Sputnik Brasil, 1920, 01.08.2022

Da mesma forma, o ex-chanceler boliviano, Fernando Huanacuni Mamani, considerou que neste momento existe uma “emergência de um mundo multipolar”.

“Há Rússia, China, Índia; há vários países que podemos chamar de bloco BRICS [os já mencionados, mais Brasil e África do Sul]. Aqui está um novo desafio para a humanidade porque os processos revolucionários dos povos pedem um processo democrático em que a soberania é respeitada, ao contrário do modelo hegemônico dos EUA, que viola a soberania”, refletiu o ex-chanceler em entrevista à Sputnik.

Mamani considerou que a atual ordem mundial, estabelecida por Washington, viola a soberania dos povos e em resposta a isso surgem “processos revolucionários” e que o atual conflito é novamente “encorajado pela busca de hegemonia dos EUA e da OTAN“.
“Em 1962, Cuba vendia açúcar para os Estados Unidos, mas Washington reduziu ao mínimo suas compras, gerando a maior crise da ilha. Então a União Soviética começou a comprar açúcar em troca de combustível. Hoje estamos testemunhando algo semelhante, estamos vendo como, aproveitando o conflito na Ucrânia, eles estão freando e subjugando o processo histórico de cada povo”, disse o ex-chanceler.
Ao mesmo tempo, Huanacuni acredita que com a crise ucraniana, EUA e OTAN estão aproveitando para dar uma nova estrutura ao comércio de gás, uma vez que o combustível é um recurso energético importantíssimo para a União Europeia.
“O comércio de gás está sendo reconfigurado, sempre em processo de violação de soberania e apropriação de recursos naturais […]. Não podemos continuar nessa hegemonia unipolar do imperialismo que saqueia os recursos naturais, mas devemos lutar por uma verdadeira liberdade dos povos, com respeito aos países. […] Eles veem um processo colonial e racista de inferiores e superiores. Isso [o conflito de agora] é uma grande oportunidade para resolver isso, os canais diplomáticos têm que entrar em ação”, afirmou.
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Crise dos Mísseis

A Crise dos Mísseis foi uma drástica escalada de tensão que ocorreu em 1962 entre duas potências nucleares, os EUA e a União Soviética, após a descoberta de que os russos haviam implantado foguetes de alcance intermediário com ogivas nucleares em território cubano.
A disputa durou de 14 a 28 de outubro, quando foi anunciado o desmantelamento e a transferência para o território soviético dos mísseis balísticos que estavam na ilha. Da mesma forma, os EUA se comprometeram a não invadir Cuba militarmente e retiraram os mísseis que tinham na Turquia e na Itália, instalados em 1958.
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