Bolsonaro ataca, mas Argentina não oficializou linguagem neutra


Bolsonaro ataca, mas Argentina não oficializou linguagem neutra

SÃO PAULO, SP – A Argentina não oficializou o uso da linguagem neutra, como afirmou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em mensagem postada em seu Twitter na segunda-feira (2).

De acordo com a embaixada da Argentina no Brasil, a informação do mandatário não procede: o governo do presidente Alberto Fernández não proíbe, mas jamais oficializou o uso da linguagem inclusiva no país.

Pelo contrário: o tema segue gerando debate, e a linguagem já foi até mesmo proibida nas escolas de Buenos Aires, a capital do país.

A representação diplomática respondeu a um questionamento feito pela coluna sobre as declarações do presidente brasileiro.

A única iniciativa sobre o tema localizada pela embaixada argentina foi uma resolução do Ministério de Obras Públicas que “promove o uso da linguagem e da comunicação não sexista e inclusiva como formas expressivas válidas nas produções, documentos, registros e atos administrativos de todos os âmbitos desse ministério”.

A iniciativa, no entanto, está limitada à pasta. E não torna a linguagem inclusiva oficial no país.

Bolsonaro disse na rede social que lamentava “a oficialização da ‘linguagem neutra’ pela Argentina” e chegou a perguntar: “No que isso ajuda o seu povo?”. Em seguida, ironizou: “A única mudança provocada é que agora há ‘desabastecimente’, ‘pobreze’ e ‘desempregue’. Que Deus proteja os nossos irmãos argentinos e os ajude a sair dessa difícil situação”.

Em junho, a Prefeitura de Buenos Aires proibiu os professores de usarem palavras de gênero neutro durante as aulas e nas comunicações com os pais, como mostrou reportagem do “The New York Times” publicada pela Folha.

A linguagem adota pronomes neutros (“todes” no lugar de todos ou todas, “amigues” no lugar de amigos e amigas, por exemplo) como forma de incluir pessoas que não se identificam como homem e mulher.

A Secretaria de Educação de Buenos Aires considerou que a nova forma de fala e escrita viola as regras do espanhol e atrapalha a compreensão de leitura dos alunos. E impediu que ela fosse usada no ambiente escolar.

Pelo menos cinco ONGs ligadas a grupos de direitos civis e LGBTQIA+ entraram com ações judiciais para derrubar a censura.

A medida da prefeitura foi criticada pelo ministro da Educação, Jaime Perczyk, que a comparou às proibições contra a escrita com a mão esquerda sob a ditadura fascista de Francisco Franco, na Espanha.

O presidente Alberto Fernández já usou pronomes de linguagem neutra em saudações feitas em eventos públicos –sem, no entanto, oficializar seu uso.

Anteriores Monica Lewinsky pede que Beyoncé altere música que cita caso com Clinton
Próxima Avaliação negativa de Bolsonaro fica em 43%, diz Genial/Quaest