O Peugeot 2008 é assombrado por um desempenho tímido nas vendas que o acompanha desde que a primeira geração foi apresentada no Brasil, em 2015. Na linha atual, acumulou somente 8,8 mil unidades vendidas neste ano — isso num segmento em que o líder, Volkswagen T-Cross, registrou mais de 65 mil exemplares emplacados no mesmo período.
Afinal, por que esse SUV não consegue ter o mesmo sucesso de vendas de rivais mais consagrados? Fiz um bate e volta entre São Paulo e Rio de Janeiro com a versão GT da linha 2026, que estreia uma nova mecânica híbrida leve de 12 Volts herdada dos Fiat Pulse e Fastback, e terminei a experiência com essa pergunta martelando na minha cabeça.
O preço oficial do 2008 GT Hybrid 2026 é R$ 179.990, mas o próprio site da Peugeot anuncia a versão em oferta por R$ 162.990, um desconto de R$ 17 mil. Para entender se ele vale a pena e o que explica sua coadjuvância no mercado, vamos ao que mudou.
O Peugeot 2008 2026 não tem alterações no visual, mas recebeu o mesmo sistema híbrido leve da Fiat, que integra uma pequena bateria de íons de lítio sob o banco do motorista à bateria convencional de chumbo, além de um motor elétrico de 4 cv e 1 kgfm que substitui o alternador e o motor de arranque, auxiliando o motor 1.0 turbo flex de três cilindros da família GSE em momentos como a partida e o acionamento do start-stop.
Tudo gerenciado pelo câmbio CVT de sete marchas. São os mesmos 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque de antes, mas com promessa de maior eficiência e economia de combustível. Contudo, na contramão de conjuntos híbridos mais robustos, alguns números oficiais de consumo no Inmetro até pioraram.
Dinamicamente, o dia a dia com o Peugeot mudou. Continua sendo um SUV ágil, esperto e reativo, mas o start-stop agora dá o ar da graça. Nos semáforos e engarrafamentos, o sistema me pareceu mais suave e silencioso que o da dupla Pulse e Fastback, talvez pelo melhor isolamento da plataforma CMP. Mas essa é a única diferença perceptível ao volante.
O 2008 foi meu companheiro por 1.370 km. A caminho do Rio de Janeiro pela Rodovia Presidente Dutra, o bom comportamento dinâmico voltou a agradar: o torque está disponível desde cedo como um mérito do bom — e elástico — câmbio CVT de sete marchas simuladas. Basta pressionar o pedal do acelerador com um pouco mais de força para a caixa reduzir até duas velocidades, sem solavancos, e aproveitar ao máximo o potencial do motor turbo.
Na desafiadora Serra das Araras, o câmbio leu o cenário de descida e segurou o carro em quarta marcha sem minha intervenção para resguardar os freios. Caso necessário, paddle-shifters atrás do volante facilitam as reduções manualmente. A suspensão firme transmite trepidações em vias esburacadas ou porosas, mas garante estabilidade lateral em uma estrada sinuosa. Já o sistema Adas de segurança ativa poderia ser mais afiado, pois o radar de evasão de faixa apita o tempo todo, mesmo quando não precisa, emitindo um alerta sonoro escandaloso.
No teste de consumo de Autoesporte, o Peugeot 2008 GT Hybrid marcou 14,2 km/l na rodovia e 11,1 km/l na cidade com gasolina e ar ligado. Na linha 2025, com o mesmo motor sem eletrificação, cravamos exatamente o mesmo número na estrada, mas fizemos 10,3 km/l em perímetro urbano, onde o conjunto híbrido mais atua. A melhora é de 7,8%, porém talvez ainda fique aquém do que espera o comprador de um carro que tem “Hybrid” no nome.
Em todo o resto, é o mesmo Peugeot 2008 que conhecemos, com suas qualidades e limitações. Para entrar, há um incômodo degrau entre a moldura das portas e o assoalho do carro. A disposição da cabine deixa o espaço interno acanhado para os ocupantes traseiros, que viajam com aperto. São 4,31 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,54 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos.
Em minha viagem, o porta-malas de 374 litros comportou duas malas pequenas e quatro mochilas tranquilamente. A central multimídia de 10,3 polegadas tem boa resolução e Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Câmera 360°, carregador de celular por indução ventilado e bons porta-objetos dão o ar da graça. O painel é de plástico rígido e varia pouco as texturas.
Talvez o Peugeot 2008 precise de tempo para criar uma reputação sob a chancela da Stellantis. É bonito, arrojado e tem mecânica robusta, mas o histórico da marca não ajuda. Quem quer um SUV compacto deveria colocá–lo no radar. O preconceito está fazendo muita gente deixar de considerar um ótimo carro.
Pontos positivos: Consumo melhor na cidade; dinâmica, desempenho e dirigibilidade estão tão bons quanto antes
Pontos negativos: Espaço interno, ergonomia no acesso à cabine, acabamento e consumo na estrada igual ao da linha 2025
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Fonte: direitonews





