O segmento de SUVs híbridos embala as vendas de carros eletrificados no Brasil há três anos e não para de crescer. Novas criaturas chegam a todo instante, caso da dupla Caoa Chery TIggo 7 PHEV (R$ 219.990) e Jaecoo 7 Prestige PHEV (R$ 249.990), apresentada neste ano. Trata-se de um inusitado duelo de “irmãos gêmeos”, coisa que se tornou rara por aqui.
Se a treta é de família, por que não testá-los a fundo para que você possa descobrir qual deles merece lugar na sua garagem? Antes de dar início, vale contextualizar que a Omoda Jaecco faz parte do Grupo Chery. Só que a Caoa Montadora não tem relação com a nova empresa. Em suma, a Chery volta ao Brasil como concorrente de uma parceira dela mesma, o que inevitavelmente coloca esses irmãos — que nascem lado a lado na mesma fábrica, em Wuhu (China) — como grandes rivais.
Esses gêmeos bivitelinos seguiram caminhos opostos, apesar de compartilharem a marca progenitora e a plataforma. É claro que o Jaecoo 7 incorporou uma aura tecnológica, puxada para o luxo e o minimalismo, valores que não consigo enxergar no Tiggo 7 PHEV, que parece muito simples por dentro e por fora. De tal modo, a Caoa decidiu reduzir o valor do SUV médio em R$ 20 mil após a chegada do rival: o preço despencou de R$ 239.990 para R$ 219.990.
A Omoda Jaecoo caprichou no design, incorporando faróis estreitos e pixelados, uma grade frontal grande e harmônica e um formato bem marcante na carroceria. É um SUV com os pés no futuro. O Caoa Chery até incrementou seu estilo com pequenos diamantes na grade e um para-choque redesenhado, porém tem visual datado “pré-2020”. Na traseira, ambos apostam nas lanternas interligadas, mas o Jaecoo segue transparecendo mais atualidade.
Por compartilharem a plataforma T1X, uma base técnica modular utilizada por quase todas as marcas da Chery — até a Jetour, que desembarcará em breve no Brasil —, as medidas são próximas: o Jaecoo 7 tem 4,50 metros de comprimento, 1,86 m de largura, 1,67 m de altura e 2,67 m de distância entre-eixos; já o Tiggo 7 ostenta 4,51 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,70 m de altura e os mesmos 2,67 m de entre-eixos.
As mudanças se restringiram aos formatos dos para-choques e para-lamas, basicamente. O espaço interno dos dois também é semelhante — para não dizer idêntico. Talvez os bancos do Jaecoo sejam mais “gordinhos”, o que afeta levemente a sensação de amplitude. O Tiggo, por sua vez, tem uma pequena protuberância na região central do assoalho que rouba espaço para os pés dos passageiros na parte traseira.
Os modelos apresentam diferenças críticas quanto ao porta-malas: o do Caoa Chery tem 475 litros de capacidade e o do Jaecoo chega somente a 340 l. Isso se deve à complexidade técnica deste último, que traz aparelhos eletrônicos que inevitavelmente comprometem o espaço do bagageiro. Na cabine, outro show do Jaecoo 7.
O painel horizontalizado tem acabamentos macios, combinando borracha, couro e aço escovado, e faz um bom par com a central multimídia vertical de 14,5’’. Além de o sistema nativo ser bonito, com uma interface que me lembrou o iOS da Apple, tem conectividade sem fio para celulares.
Destaco a resolução e responsividade do sistema, um dos melhores entre as marcas chinesas. Os gráficos são limpos e cristalinos e têm cores vibrantes, como em smartphones de última geração, principalmente quando o Jaecoo exibe a câmera 360 graus para auxílio em manobras. Um menu fixo na base da tela facilita o acesso ao ar-condicionado. Para completar o pacote, teto solar e luz ambiente de LED.
A cabine do Tiggo 7 é simples, mas traz materiais de qualidade, como borracha e couro sintético — sempre em menor proporção do que no Jaecoo 7. A central multimídia de 12,3 polegadas é interligada com o painel de instrumentos de mesmo tamanho.
O sistema fica devendo tanto uma resolução melhor (a tela parece “apagada”, difícil de visualizar durante o dia) quanto um layout mais interessante e responsivo. É possível replicar a câmera 360 graus na tela, o que escancara esses defeitos.
Abaixo da central, o ar-condicionado digital mantém comandos físicos por botões giratórios, um grande ponto positivo. Uma telinha escondida mostra temperatura e o nível do ventilador, mas seu visual aparenta ter saído de um relógio digital dos anos 1990. Por fim, com esse preço competitivo, é ótimo que o Tiggo ofereça teto solar panorâmico.
Além de apresentar uma cabine mais interessante e materiais de melhor qualidade, o Jaecoo 7 tem uma montagem que se destaca diante do “irmão”, passando maior sensação de robustez. Ergonomia é outro ponto em que o novato supera o veterano, com bancos mais confortáveis e um volante de melhor empunhadura. Bom, enfim chegou a hora de dirigir!
Há muito o que falar sobre a mecânica da dupla, pois existem diferenças cruciais, apesar dos vários pontos em comum. Ambos têm motores 1.5 turbo de quatro cilindros movidos a gasolina, só que o Jaecoo conta com um sistema mais avançado de injeção direta; o Caoa Chery, por sua vez, fica restrito à multiponto. Quanto ao conjunto híbrido, o Jaecoo 7 tem motor elétrico dianteiro alimentado por uma bateria de 18,3 kWh. Combinadas, as unidades entregam 339 cv de potência e 52 kgfm de torque.
Já a bateria do Tiggo 7 é um pouco maior, com 19,3 kWh, e também alimenta uma máquina elétrica dianteira. Quando os propulsores funcionam em conjunto, proporcionam 317 cv e 56,6 kgfm. Outra diferença está na variação do comando de válvulas, disponível nas fases de admissão e escape no Jaecoo e somente na admissão no Tiggo. Logo, apesar de os motores pertencerem à mesma família, o SUV da novata chinesa tem um conjunto a combustão que, em tese, deve ser mais eficiente em virtude dos avanços em tecnologia. É o que poderemos comprovar a seguir.
O acionamento dos motores é comandado pelo câmbio automático do tipo DHT, um padrão bastante utilizado por marcas chinesas. Dedicada a modelos híbridos, a caixa traz somente uma marcha mecânica, embora com múltiplas relações formadas pela combinação entre os motores elétrico e de combustão. É o que possibilita que os SUVs rodem somente na eletricidade por alguns bons quilômetros.
Em nosso teste instrumentado, realizado no Rota 127 Campo de Provas, o Jaecoo 7 foi de zero a 100 km/h em… 7 segundos (que ironia). Já o Tiggo 7 precisou de 6,4 s para chegar à mesma velocidade. O SUV da Caoa Chery também se mostrou ligeiramente mais aceso nas retomadas mesmo com potência inferior, como você poderá observar na ficha ao fim deste comparativo.
Dois parâmetros testados por Autoesporte mostram que o sistema de injeção direta faz diferença no Jaecoo 7: os dois modelos foram de zero a 1.000 m em 27,2 s, mas o Jaecoo estava a 186 km/h ao cumprir o desafio, e o velocímetro do Tiggo marcava 178 km/h. Então, por mais que o Caoa Chery largue na frente, é superado pelo Jaecoo com velocidade maior.
Há muita anestesia na condução dos SUVs. Tal característica fica evidente em manobras rápidas, quando ficam “bobos” e destracionam com facilidade, como consequência do acerto de suspensão de curso amplo que não contém as oscilações da carroceria. Outro ponto em comum é a predileção pelo uso da eletricidade em ambiente urbano.
Segundo o Inmetro, Jaecoo 7 e Tiggo 7 podem percorrer 70 km e 63 km, respectivamente, sem gastar uma só gota de gasolina. O comportamento da dupla em modo EV é sempre suave e silencioso, sem vibrações ou sons intrusivos da rolagem dos pneus.
Em nosso teste, o Jaecoo 7 marcou 28,6 km/l na cidade e 17,9 km/l na estrada. O Tiggo 7, por sua vez, aferiu surpreendentes 34,4 km/l em circuito urbano e 15,8 km/l em trajeto rodoviário. São resultados excelentes, que apontam que o Caoa Chery se mostra mais à vontade em trajeto urbano e o Jaecoo bebe menos na estrada.
Uma diferença importante diz respeito à potência de recarga. O Jaecoo 7 suporta 6,6 kW em corrente alternada (AC) e 40 kW em corrente contínua (DC). Assim, a bateria pode ir de 20% a 80% em 20 minutos nas estações de carregamento rápido. Já o Chery está limitado a 7 kW (AC).
A diferença na idade dos projetos se mostra evidente ao usarmos os auxílios à condução dos dois SUVs. Tiggo 7 e Jaecoo 7 podem frear sozinhos e se mantêm na faixa. Entretanto, o funcionamento é muito mais preciso no modelo estreante no Brasil. Não sem pequenas intercorrências, como a perda constante de sinal, apesar de conseguir contornar curvas muito mais fechadas. No Tiggo, a tecnologia parece ser de uma geração mais antiga.
Este foi um comparativo acirrado. O Jaecoo 7 se sobressai pelo visual mais arrojado, por tecnologia embarcada, melhor acabamento, maior autonomia em modo elétrico e capacidade de recarga.
Por sua vez, o Tiggo 7 tem o benefício de um porta-malas mais generoso, além de melhor desempenho em condições urbanas, menor consumo de combustível na cidade, maior rede de concessionárias e preço bastante agressivo. Todavia, é difícil não dar a vitória ao Jaecoo 7, uma vez que ele entrega um conjunto mais interessante, completo e robusto por uma diferença de preço que não justifica um “downgrade”. Aposte no caçula!
Novato surpreende o veterano e vence o comparativo de SUVs chineses com a mesma plataforma. Suas vantagens técnicas contam a favor, mas resta saber se a nova marca será capaz de segurar o preço. O cenário dos SUVs híbridos do país asiático, porém, tem outros rivais fora do grupo Chery.
*Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível (se aplicável)
**Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus
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Fonte: direitonews