A possibilidade de vida em Vênus voltou ao centro das atenções da astrobiologia com uma nova análise de dados antigos da missão Pioneer, lançada pela NASA nos anos 1970. Embora a ideia de revisitar registros passados com tecnologias e conhecimentos atuais esteja em alta, os impactos dessa prática variam conforme o tema. No caso de Vênus, os resultados são particularmente relevantes, pois envolvem a composição das nuvens do planeta, que apresentam condições de pressão e temperatura semelhantes às da Terra.
Pesquisadores norte-americanos descobriram que as nuvens venusianas são compostas majoritariamente por água, contrariando a crença predominante de que seriam formadas principalmente por ácido sulfúrico. Essa água, no entanto, não se apresenta como vapor livre, mas está ligada a compostos hidratados, como sulfato férrico e sulfato de magnésio. A revelação representa uma mudança significativa na compreensão da atmosfera de Vênus e reacende o debate sobre a possibilidade de albergar vida.
A investigação envolveu cientistas de instituições como Cal Poly Pomona, Universidade de Wisconsin, Universidade Estadual do Arizona e a própria NASA. Os dados originais estavam armazenados em microfilmes no Arquivo Coordenado de Dados de Ciência Espacial da agência, e precisavam ser digitalizados para permitir a nova análise. A iniciativa surgiu de uma conversa entre Rakesh Mogul e Sanjay Limaye, que decidiram revisar os dados de espectrometria de massa da sonda Pioneer.
Durante a descida da sonda pelas camadas densas da atmosfera, os instrumentos de medição foram obstruídos por aerossóis, o que causou uma queda temporária nos níveis de CO₂. Em vez de considerar isso uma falha técnica, os cientistas interpretaram os dados como uma oportunidade para estudar os aerossóis presos nas entradas dos instrumentos, analisando os gases liberados conforme esses materiais eram derretidos em diferentes temperaturas.
Os resultados mostraram picos de liberação de água a 185°C e 414°C, indicando a presença de compostos hidratados. A água representava cerca de 62% dos aerossóis, enquanto o ácido sulfúrico aparecia em 22%. Um segundo pico de CO₂ a 397°C, acompanhado por íons de ferro, sugeriu a presença de sulfato férrico, que se decompõe em óxidos de ferro e enxofre. Estima-se que esse composto represente 16% dos aerossóis, quase igualando a concentração de ácido sulfúrico.
A origem do ferro foi atribuída à poeira cósmica que penetra na atmosfera de Vênus e reage com as nuvens ácidas. A descoberta de água em abundância também ajuda a explicar discrepâncias entre dados de sondas de descida e medições remotas, já que os sensores espectroscópicos não detectam água ligada a hidratos, apenas vapor livre. Isso reforça a importância das sondas que atravessam diretamente as nuvens para obter medições mais precisas.
Com essa nova compreensão, a hipótese de vida em Vênus ganha força, pois a presença de água é um fator essencial para a habitabilidade. Embora o ambiente seja extremamente ácido, a quantidade de água disponível é maior do que se pensava, o que pode abrir novas possibilidades para a existência de formas de vida adaptadas.
Fonte: sputniknewsbrasil